Cinema

CCBB recebe mostra sobre reinvenção das bruxas no cinema

A mostra tem por missão recriar o imaginário dos espectadores

Em 23 sessões de cinema, a mostra sob curadoria de Carla Italiano Mulheres mágicas — Reinvenções da bruxa no cinema, a partir desta quarta-feira (9/3), no Centro Cultural Banco do Brasil, tem por missão recriar o imaginário dos espectadores. Filmes recentes como Quem tem medo de ideologia? e Kaapora — O chamado das matas trazem, no âmago, a expansão do conceito de bruxa. "Nada vem na linha pejorativa, negativa, mas num trajeto de entender reivindicações das mulheres. Diz respeito à liberdade sobre seus próprios corpos, suas vidas e autonomias,comenta Carla Italiano.

Dialogar com outros tempos e mundos diversos é dos centros de interesse, a partir da exibição de 25 filmes, num circuito iniciado hoje (às 19h30), com Suspiria, terror de Dario Argento, que mostra um mundo sobrenatural cercando o ingresso de uma jovem em escola de balé.

As fitas que tratam de feiticeira podem ser conferidas em programação virtual (em www.mulheresmagicas.com.br) e, até o dia 20 de março, em sessões presenciais (a R$ 10). Amanhã, às 17h50, um filme incompleto da pioneira ucraniana Maya Deren chama a atenção, e conta, na concepção, com a criatividade de Marcel Duchamp. Filmes contemporâneos como A bruxa do amor (de Anna Biller), sobre uma bruxa que quer ser amada a qualquer custo, e Eu não sou uma bruxa, no qual uma menina misteriosa se vê aprisionada num campo estatal para feiticeiras, se misturam a fitas clássicas como A máscara do demônio (de Mario Bava, com a estrela Barbara Steele) e O mágico de Oz (1939), de Victor Fleming, esse apresentado numa sessão espacial do dia 27 de março.

Filmes como A árvore de Zimbro (1990), da Islândia, estrelado por Björk e baseado nos irmãos Grimm, surpreendem, ao contar do destino das irmãs que fogem de casa, depois que a mãe delas é sacrificada.

"O machismo está presente em filmes como Sortilégio do amor (1958) que é uma comédia romântica em que a protagonista, ao se apaixonar, coloca em risco seus poderes. Ela tem que escolher entre manter a relação ou seguir sendo bruxa", explica a curadora. Noutra faceta da mostra, com filmes dirigidos por mulheres, o machismo e mecanismos patriarcais de controle são quase excluídos. "Eles existem, estão em todos os locais do mundo e nos rodeiam. Mas há um bloco de filmes que estão ali para criar outras imagens, desvinculadas do pensamento machista. São filmes que criam imagens libertadoras", diz Carla Italiano.

Da versão para o O reino das fadas (um título do início do século 20), dirigida por Georges Méliès, princesas e feiticeiras despontam na programação da mostra. Potência e saberes femininos abrem flancos de debate, e haverá um com Silvia Federici (autora de Calibã e a bruxa e Mulheres e caça às bruxas), à frente de masterclass, em 9 de abril. "A vejo como uma feminista com trajetória muito sólida, sendo importante no Brasil, diante do cenário de renovação com amplo público. A mostra está diretamente alinhada ao conteúdo dos livros dela", adianta a curadora. Normas de resistência ao lugar domesticado em que mulheres foram colocadas, entram em jogo, pelo que conta a curadora. "O xingamento de bruxa se alinha justo a esta (tentativa de) domesticação. Filmes feitos no Brasil e na América Latina como Dupla jornada e Amarração trazem personagens indígenas e afrodescendentes. Em comunidades, percebemos as mulheres mágicas (e menos bruxas) e a relação delas com conhecimentos ancestrais", destaca Carla Italiano. 

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