Racismo

Sarah Fonseca fala do caso de racismo que sofreu em Ipanema

Em entrevista ao Correio, a influencer também falou de como o racismo atravessa a própria vida, mesmo após se tornar uma profissional bem sucedida

*Naum Giló
postado em 12/03/2022 12:00
Sarah Fonseca foi vítima de racismo em padaria do Rio de Janeiro e fala sobre o assunto com o Correio -  (crédito: Lúcio Luna)
Sarah Fonseca foi vítima de racismo em padaria do Rio de Janeiro e fala sobre o assunto com o Correio - (crédito: Lúcio Luna)

Mais um caso de racismo repercutiu nas redes sociais, dessa vez envolvendo a influencer Sarah Fonseca. A carreira bem sucedida, com centenas de milhares de seguidores no Instagram, não a blindou de ser confundida com uma pedinte enquanto encontrava o namorado na Baked Padaria, localizada em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro. O caso ocorreu na última terça-feira (08/3).

Ao se aproximar do companheiro, que estava acompanhado dos pais dele, logo foi abordada por um segurança que pedia para ela se retirar dali, insinuando que ela estaria perturbando o próprio namorado. "Tem noção do que é isso? Que vergonha", desabafou a empresária em vídeo gravado no momento do ocorrido. Ao Correio, Sarah falou do quão difícil é passar por uma situação de discriminação racial. “Todos olharam pra mim. Meu namorado e família olharam pra mim. Me senti como uma pessoa de rua”, lembra a influencer. “Mesmo depois que você conquista tantas coisas na vida de uma maneira que não foi fácil, tudo isso parece ser anulado em segundos porque sou negra”.

A padaria onde tudo ocorreu soltou uma nota em apoio à Sarah, que disse já ter ido ao local várias vezes, e que o segurança em questão não é funcionário do estabelecimento, e sim contratado pela associação de lojistas da região. Apesar da situação “humilhante”, ela conseguiu prestar queixa na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

Entrevista / Sarah Fonseca


Sarah, o que você sentiu no momento que ocorreu o ato discriminatório?

Me senti humilhada pelo funcionário. Todos olharam pra mim. Meu namorado e família olharam pra mim. Me senti como uma pessoa de rua. E doeu demais saber que mesmo depois que você conquista tantas coisas na vida de uma maneira que não foi fácil, tudo isso parece ser anulado em segundos porque sou negra.

Você é influencer com milhares de seguidores no Instagram, o que não blindou você de ainda passar por uma situação como essa, por conta da sua cor de pele. Na sua vida, como o racismo tem se manifestado mesmo depois de ser uma mulher bem sucedida? 

O racismo está presente todos os dias. Já fui seguida em shopping. Já recebi propostas de trabalho como influenciadora com budget muito menor do que amigas que trabalham com o mesmo e possuem número de seguidores parecidos, mas são brancas. Já ouvi uma loja falar que só me contratou porque eu era preta, o famoso preencher cota e dizer que se importa quando na verdade não se importa. Já fui seguida há pouco tempo numa loja em Foz do Iguaçu enquanto estava a trabalho e me senti super constrangida porque a pessoa que representava a marca que me contratou estava comigo e quem me defendeu foi ela. Eu me senti nesse dia paralisada e não tive forças para me defender porque não é fácil questionar um ato racista. Não importa se moro na zona sul, se sou influenciadora, se tenho duas empresas ativas, se sou apresentadora, modelo, se já fiz comercial e etc. As pessoas continuam me julgando e discriminando pela cor da minha pele. Essa continua sendo a mensagem que chega primeiro, que eu sou preta.

E as pessoas que te acompanhavam no momento, seu namorado e a família dele, como eles reagiram ao momento? Eles chegaram a entender o que estava acontecendo, já que eles não são brasileiros?

Eles ficaram congelados porque não conseguiram entender nada. Depois de toda a humilhação ainda tive que explicar o que o rapaz fez comigo quando estávamos indo embora

Como está sendo a repercussão do caso nas redes sociais? Você tem recebido muitas mensagens de apoio (ou de ódio)?

Nunca vi isso na minha vida e estou muito assustada. Estou recebendo muito apoio sim, mas muito ódio também. As pessoas continuam deslegitimando minha dor. As pessoas continuam rindo em algo que dói em mim minha vida toda. E pior: as pessoas continuam tentando colocar a vítima, eu, como culpada. Sempre tentam vários meios de fazer a gente ficar calado e achar que está errado. Mas, o que ta errado é o racismo. Isso precisa acabar!

 *Estagiário sob a supervisão de Pedro Ibarra

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