O Espaço Cultural do Choro está fechado desde março de 2020. O prédio, projetado por Oscar Niemeyer, instalado no Eixo Monumental, é a sede do Clube do Choro, que recebeu o título de patrimônio imaterial da cultura do Distrito Federal. Ali funciona uma das salas de espetáculos mais requisitadas de Brasília, no palco da qual chorões de diversas gerações vinham se apresentando.
Por causa da crise pandêmica, há dois anos eles deixaram de mostrar o trabalho que realizam naquele local. Mesmo tendo que conviver com dificuldades, para viabilizar o funcionamento do espaço, Henrique Lima Filho, o Reco do Bandolim, presidente da instituição, reticente, ainda não sabe quando as atividades estarão de volta no local. "Felizmente, voltamos com as aulas presenciais e on-line na Escola de Choro e mantivemos a roda de choro e de samba, que ocorre aos sábados, a partir do meio dia", conta.
Foi o Clube do Choro que chamou a atenção de jovens instrumentistas brasilienses para o gênero musical, considerado gênese da música popular brasileira, principalmente depois da criação da Escola de Choro Raphael Rabello. De lá, saíram violonistas, bandolinistas, cavaquinistas, clarinetistas, flautistas e pandeiristas.
Vários deles participam de rodas musicais que, aos poucos, vêm sendo retomadas em vários pontos da cidade. Alguns foram ouvidos pelo Correio e contaram como enfrentaram as adversidades por não poderem exercer o ofício em decorrência da pandemia. Eles também falaram da alegria que sentem por voltar a tocar e reencontrar o público.
Nelsinho Serra
"A roda de choro que comando aos sábados, a partir do meio dia, começou há 12 anos no antigo Feitiço Mineiro, hoje Feitiço das Artes, na 306 Norte, teve de ser interrompida assim que irrompeu a pandemia. Eu e meus companheiros de grupo ficamos privados do cachê que recebíamos e do contato com o público, que é sempre muito estimulante. Para remediar, contratados, fizemos apresentações embaixo dos blocos residenciais, na Asa Norte, Asa Sul, Sudoeste e Águas Claras. Conseguimos também contribuição voluntária de alguns moradores. Ainda bem que a roda no Feitiço foi retomada no final de 2021, após a flexibilização, em decorrência de decreto do GDF. Temos tocado também no Pinela (408 Norte), às quintas-feiras, das 18h às 21h".
Jéssica Carvalho
"Faço parte do grupo Choro Delas, formado no âmbito da Escola Brasileira de Choro Rafael Rabello, onde, atualmente, sou professora de pandeiro. Embora tenha formação acadêmica como geóloga, tomei a música como profissão. Quando a covid-19 surgiu, fiquei meio deprê, porque me descapitalizei. Retomei as atividades em junho de 2021. Além de voltar a dar aulas, tenho participado de rodas de choro no Restaurante Verri, na 215 Norte, às quartas-feiras, às 20h; e na Corina Cervejaria, no SOF Norte, aos domingos, às 12h30".
Lucas Guimarães
"Estava tocando na roda de choro do Tombado Bar, na 206 Norte, quando tive que parar por causa do advento da covid 19. Durante a longa quarentena, para conseguir algum dinheiro, passei a dar aulas particulares on-line de cavaquinho. A partir de maio de 2021, as coisas melhoraram um pouco, porque passei a participar das rodas de choro do Bar Pardim, na 405 Norte, às sextas-feiras, a partir das 19h; e a do Rossoni, na 307 Sul, com início às 13h. Felizmente, aos poucos, estamos voltando a trabalhar".
Márcio Marinho
"Faço parte de grupos como o Choro Livre e o Samba Urgente e participo de outros projetos. Um deles é o Choro no Eixo, voltado principalmente para as crianças, que idealizei e produzo aos domingos, a partir das 10h, no Eixão Norte, à altura da SQN 111. Começamos em setembro de 2019 e tivemos que dar um tempo por causa da pandemia. A roda voltou em setembro de 2021, trazendo alegria para nós, os músicos, e também para quem costuma fazer caminhada no Eixão do Lazer".
Sérgio Moraes
"Como professor de flauta de várias turmas, na Escola Brasileira de Choro Raphael Rabelo, mesmo depois da flexibilização continuei a ter problema para ministrar aulas presenciais, uma vez que precisaria ficar sem a máscara, para poder usar o instrumento. As aulas passaram a ser on-line. Deixei de tocar também em cerimônias de casamento, eventos para os quais sou muito solicitado. Aos poucos, tenho voltado a me apresentar nesses eventos e em rodas de choro no ECAI — Espaço Cultural Alessandro Inieco, na 116 Norte. A pandemia afetou muitos colegas de ofício. Alguns para se manter, precisaram vender mesa de som, microfone e instrumentos".
Victor Angeleas
"Antes da pandemia a cena musical brasiliense estava numa crescente. Ouvia-se choro tanto em casas noturnas quanto nas apresentações do coletivo Samba Urgente, do qual sou um dos integrantes. Sei que alguns músicos passaram por dificuldade financeira. Pouco a pouco a situação está se normalizando, mas precisa melhorar mais. Só voltei a tocar depois de devidamente vacinado. Tenho participado da roda de choro do restaurante Verri, na 215 Norte".
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.