Moacyr Luz teve que interromper em 2020, pela primeira vez, o Samba do Trabalhador, uma das mais concorridas rodas de samba, que promove há mais de duas décadas, sempre às segundas-feiras, no Clube Renascença, vizinho de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Isso ocorreu em razão da pandemia de covid-19. O cantor e compositor carioca, porém, manteve-se produtivo durante a quarentena. Ao deixar fluir o talento de melodista, voltou a desenvolver o processo de criação ao lado de parceiros.
Um deles é Rogério Batalha, poeta a quem conheceu há alguns anos, depois de um show com Aldir Blanc na Lona Cultural do subúrbio de Vista Alegre. "Tímido, ele me deu um exemplar de seu livro de poesia, que me interessou desde a leitura dos primeiros versos", conta Moa, como o artista é chamado pelos amigos. Não demorou muito para que começassem a surgir composições, resultado da parceria dos dois. Agora, eles estão juntos em Antes que tudo acabe, álbum que está sendo lançado pela Biscoito Fino.
"Em seu trabalho, Rogério busca mostrar a vida dos mais afastados, do morador do subúrbio. Com outros dois livros lançados, o poeta foi gravado anteriormente por Ney Matogrosso, Nelson Sargento, Thiago Amud e Nilson Chaves e também por mim", destaca Luz. Para o novo CD, foram selecionadas 10 composições da parceria. Embora no repertório prevaleçam sambas como os interpretados por Beth Dau (Baluarte), Marina Iris (Gratidão), Douglas Lemos (Malícia), Mingo Silva (Eu sou da roça); há também a balada Eu já vi chover, com João Cavalcanti e A ciranda que inventei, na voz de Moiseys Marques. Todos foram acompanhados pelo violonista Carlinhos Sete Cordas.
Ao falar sobre Moacyr Luz, Rogério Batalha é só elogios: "Moa é uma figura ímpar na minha vida. Ao longo de 30 anos, fizemos umas 30 músicas. Esse álbum é testemunho de dois parceiros indo fundo na carne, de um sonho. É um aval de um caminho nosso, antes que tudo acabe". Já Marina Iris, cantora que sobressai na nova cena do samba, ressalta:"Foi uma honra participar de um trabalho tão bonito. Moa é um mestre, uma referência para mim; enquanto Batalha é um verdadeiro craque dos versos.Longa vida a essa parceria".
Luz da lua
Moacyr Luz vive a ânsia da criação. Após muito tempo distante dos palcos, tem agora a possibilidade de mostrar o que pensou durante a própria reclusão. "Depois que eu fiz 60 anos, estou muito ansioso para fazer música. Não paro, faço isso o dia inteiro, chega a ser uma obsessão" afirma o músico, que já tem 63 anos de idade, e este ano lança dois discos e ainda assina os sambas-enredo da Mangueira e Acadêmicos do Tuiuti.
Dessa vontade, saiu o segundo projeto dele em 2022, A luz da lua, uma parceria com o DJ e produtor Marcelinho da Lua, conhecido por trabalhar com nomes como Seu Jorge e Marcelo D2. Um álbum de 10 faixas, que será revelado aos poucos nas plataformas digitais, que mistura a levada do samba harmônico de Luz e as batidas eletrônicas de Lua, os nomes dos dois formaram o título do projeto.
"A ideia é misturar o meu jeito de fazer samba, com meu andamento um pouco mais lento, e ele com aquela inspiração eletrônica, os sons exóticos e diferentes", conta Moacyr Luz. O compositor afirma que a ideia partiu de uma piada que fez com Marcelinho. "Perguntei: 'você sabe escrever música Dj?'",lembra. A partir dessa indagação, começaram a trabalhar juntos e o resultado foi o disco que já teve a primeira música lançada, Partidão (Partido alto), com a participação de Martinho da Vila.
"A luz da lua é uma brincadeira séria, é uma coisa despojada, mas de raciocínio", explica o músico. Ele fala que a experiência dos dois músicos possibilitou encontrar o equilíbrio entre as linguagens. "É uma questão de maturidade, a maturidade é tudo. A gente não teve a necessidade de exagerar na tecnologia e nem de radicalizar no samba. Fizemos algo que casa e que harmoniza", comenta.
Marcelinho da Lua afirma que, apesar de estar habituado a misturar samba e eletrônico, esse trabalho foi uma experiência diferente. "Abrindo essa janela com o Moa, a gente traz de forma mais elevada a questão da interpretação da obra como um todo. O envolvimento muito grande na produção, de saber o que cada música pede desde o iniciozinho é o grande diferencial desse trabalho", explica o coautor da obra. "Outra coisa que é legal nesse trabalho é que eu ter mixado, ter gravado e ter feito toda parte estética do início ao fim, claro sempre com a aprovação do Moa", completa.
Com a participação de outros grandes nomes da música brasileira como Jards Macalé, Xande de Pilares, Lenine e Frejat, o projeto A luz da lua será revelado ao longo de 2022, mostrando a potência do trabalho de Moacyr Luz ainda mais nesta parceria com Marcelinho da Lua. "Eu só agradeço, são 45 anos que eu ando com o violão nas costas", comemora Moa.
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Uma lenda
Com nove discos lançados, mais de 100 músicas registradas em disco por diversos intérpretes, como os consagrados Gilberto Gil, Zeca Pagodinho, Nelson Sargento, Maria Bethânia, Nana Caymmi e Rosa Passos, Moacyr Luz é autor de sucessos como Vida da minha vida, Saudade da Guanabara, Meu canto é pra valer, Delírio da baixa gastronomia e Cabô meu pai. Ele tem vindo a Brasília, com alguma frequência, inclusive para apresentar o Samba do Trabalhador.