MÚSICA

Tradições e potencia do carnaval baiano apresentados em Mini documentário

Em tempos em que o carnaval não pode ser comemorado, a banda BaianaSystem lança 'Manifestação: carnaval do invisível', um mini documentário sobre a importância das festividades do feriado

Pedro Ibarra
postado em 01/03/2022 06:00
O ator Leno Sacramento interpreta o personagem que representa a banda -  (crédito: Jeff/Divulgação)
O ator Leno Sacramento interpreta o personagem que representa a banda - (crédito: Jeff/Divulgação)

“O carnaval em si é um ato político”, afirma Roberto Barreto, guitarrista e cofundador do BaianaSystem. Partindo dessa premissa a banda lança, em parceria com a Amazon Music, o mini documentário Manifestação: carnaval do invisível. Uma produção que mostra a importância do carnaval no quesito tradicional e histórico para a Bahia, principalmente para Salvador.

“Queríamos tratar sobre as coisas estruturais do carnaval, dos ritmos fundamentais”, conta Roberto em entrevista ao Correio. Ele afirma que após dois anos sem carnaval, eles encontraram uma nova forma de se expressar sobre o tema. “Tínhamos a necessidade de um manifesto, por isso o nome Manifestação: carnaval do invisível”, complementa.

O documentário apresenta por meio de personagens importantes do carnaval de Salvador como a história da cidade se mistura com a forma como o povo soteropolitano aproveita e vive o carnaval. A antropóloga Goli Guerreiro, o Maestro Ubiratan Marques, o músico mestre Jackson e o cineasta Matheus Rocha estão entre as pessoas entrevistadas, todos têm alguma ligação com o carnaval ou com a forma como o BaianaSystem vê carnaval.

A banda, no entanto, não aparece no filme. Eles são representados por um personagem, um homem negro, com várias cordas no lugar da cabeça, interpretado pelo ator Leno Sacramento. “Esse mini doc tinha que ter o caráter de nós estarmos ali narrando e falando, mas sem necessariamente estar presentes fisicamente”, explica Roberto Barreto. “Então decidimos que estaríamos por meio de um personagem e a partir de um levantamento de acervo”, complementa.

O fato conversou muito com a essência do BaianaSystem. “O Baiana desde nosso início é muito audiovisual", comenta o músico. Barreto lembra que a máscara sempre foi presente na história do Baiana, desde o início com uma mais geométrica e quadrada. O artista também pontua, que apesar de serem conhecidos pelas energéticas apresentações ao vivo, sempre fizeram uma construção visual e imagética muito consistente. “Às vezes os vídeos até nos ajudavam a nos comunicarmos com o público em nossos shows”, conta.

“O fato da gente estar sem fazer show, sem ter o contato com o público, fez com que nós fôssemos caminhando para outras formas de nos expressar. Esse mini doc nos dá justamente a chance de trabalhar o que queremos falar de outra forma”, pontua o integrante do BaianaSystem. “A gente foi usando elementos nossos para de uma outra maneira transmitir a nossa mensagem”, acrescenta.

Contudo, relação carnaval e cidade é o principal foco da produção para além da participação da banda em todo este contexto. “O carnaval é entranhado na cidade, tem total ligação com a história, com o povo, com a maneira como as pessoas estavam ocupando o local”, explica Barreto. “O carnaval é indissociável da cidade, não é uma festa pura e simplesmente”, adiciona o guitarrista. Ele e a banda veem a data com uma manifestação social que ultrapassa o entretenimento. “A cidade fala através do carnaval”, completa.

Mantendo tradições

O BaianaSystem presa por trazer algo novo, mas sem descredibilizar os que vieram antes deles. “A tradição, essa coisa de olhar sempre para nossas referências e nossos mestres, caminha junto conosco desde sempre”, comenta o cofundador da banda. Para eles, o que eles tocam é uma nova perspectiva de gêneros como pagodão baiano e samba-reggae, por exemplo. “Quando a gente surgiu, as pessoas queriam muito entender como nós conseguimos fazer uma coisa tão diferente, mas a gente não inventou nada. Tocávamos coisas que já existiam, e não falar disso é trair a própria referência”, adiciona.

“A gente só quer que as pessoas entendam porque existe BaianaSystem, Timbalada e esses artistas que estão fazendo sucesso nesses ritmos. Queríamos mostrar a importância disso no carnaval”, afirma. “O carnaval é feito de tradição e tem que ser respeitada a tradição do carnaval. Se você não respeita Ilê Aiyê, o Olodum e os Filhos de Gandhy, você mata o carnaval”, conclui.

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