Crítica / A ilha de Bergman ###
Esforçada homenagem
Tal qual o desdobrar de um roteiro turístico, com dicas preciosas, a diretora francesa Mia-Hansen Love investe nas ações descritas em A ilha de Bergman, que tem por pano de fundo a obra de um dos reais mestres do cinema: o sueco Ingmar Bergman (morto em 2007). Antes de mais nada, vale salientar que não se trata do documentário homônimo, realizado em 2004. Tal qual nos longas Liv & Ingmar: Uma história de amor (2012) e Bergman — 100 anos (2018), o novo filme, que tem entre os produtores o brasileiro Rodrigo Teixeira, trata a famosa ilha do Mar Báltico (Faro, na qual o diretor fixou residência) quase como personagem.
No centro do enredo, Vicky Krieps (de Trama fantasma) interpreta Chris, uma cineasta casada com Tony (Tim Roth). Ambos abraçam itinerário sonhado por cinéfilos e por artistas que pretendem sorver inspiração repassada pela casa do imortal diretor Bergman, responsável por obras-primas do cinema, entre as quais Através de um espelho, Luz de inverno e O silêncio. A crença em fantasmas era constante na obra do diretor, daí a cineasta revolver passados mortos, ao criar um enredo paralelo, no plano da imaginação de Chris: Joseph (Anders Danielsen Lie) volta a conviver com Amy (Mia Wasikowska), incapaz de superar a posição de virtual amante.
Na trama central, a perspectiva de uma espécie de crendice que cerca separações de visitantes é bastante sugerida. Emulando cenas de clássico como Vergonha (1968) e Mônica e o desejo (1953), Mia-Hansen Love aproveita para trazer relíquias do universo de Bergman, reafirmar impressões acerca dele (por vezes, desfavoráveis) e, igualmente, prestar reverência a Ingmar Bergman. Instigar, como no lapso de tempo descrito na cena do escritório (e que dá margem ao preceito de realidade adormecida, já usado por Bergman, em filmes e na vida), é dos méritos do filme que ainda abusa de fusões temporais, de jogos dramáticos e de encenações, vagamente, constituídas de teor bergmaniano.