Jornal Correio Braziliense

Perfil

Livre de estereótipos

Carismático, ator com histórico de galã fala sobre a construção de seu personagem no longa 'A jaula', suas origens periféricas e sua busca por realização profissional

"Minhas dúvidas são muito mais sobre como eu vou fazer a cena de hoje do que como o público está me vendo e onde querem me encaixar. Vivo buscando as melhores oportunidades, e não tenho do que me queixar ao trabalhar com pessoas que admiro", explica o ator Chay Suede — um chamariz na exibição do longa A jaula, atualmente em cartaz na capital. A admiração por Alexandre Nero, que interpreta um doutor sádico, tornou-se ainda mais forte pelo jogo de cena propiciado. Na novela Império, ambos dividiram o mesmo personagem, mas não contracenaram.

No novo filme, depois de produções como Minha fama de mau, Rasga coração e O banquete, Suede, que integrou elencos numerosos de novelas como Segundo sol e Amor de mãe, teve o desafio de se ver confinado dentro do carro que o personagem Djalma arromba. "Buscamos ressignificar o carro, de mil maneiras. Tivemos a preocupação de, o tempo inteiro, não tornar o filme monótono", explica, em entrevista ao Correio. Depois de viver, na telona, o famoso Erasmo Carlos, Suede, no novo longa, dá vida a um anônimo sem muita perspectiva de crescimento.

"Hoje, depois de muito trabalhar, estou numa situação financeira que não tenho do que me queixar. Vivo bem. Nasci numa família de classe baixa. Morei a vida inteira na periferia de Vitória (Espírito Santo). Não que eu tenha sido um Djalma", pontua o ator, ao descartar estereótipos.

Suede busca interpretar indivíduos diversificados, famosos ou não. "Para além das discussões, os projetos em que eu me envolvo podem até levantar perguntas, questionamentos; mas meu interesse, antes de tudo, é de fazer um bom personagem", diz. À frente de personagem contraventor que sofre humilhação registrada num programa de tevê sensacionalista, além de dores físicas, Suede é incisivo: "Sobre espetacularização da violência, da covardia, penso que seja triste demais. Vejo a situação com dor no coração. Qualquer banalização da violência gratuita e normalização da covardia são deploráveis, inaceitáveis. É algo que nunca vai me descer".

Na juventude, ele crê ter conhecido pessoas que povoam seu imaginário e claramente o ajudaram na composição de Djalma. "O João Wainer (diretor) me ajudou muito com isso, ao ilustrar esse universo que eu não acesso imediatamente", comenta.