A tendência moderna na arte brasileira atravessou décadas e, segundo historiadores como Paulo Herkenhoff, começou antes mesmo do início do século 20. Para refletir sobre a extensão dessa perspectiva, o curador Carlos Silva reuniu obras de 15 artistas na mostra Rastros do modernismo: 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, em cartaz na Galeria Casa, no Casa Park.
Com obras produzidas ao longo dos últimos 100 anos, incluindo as de artistas contemporâneos e em atividade, a exposição foi inteiramente montada com a ajuda de coleções brasilienses. Oto Reifschneider, da Galeria de Arte, cedeu obras de nomes como Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti, Maciej Babinski e Roberto Burle-Marx. Coleções particulares e de galerias da cidade complementaram o recorte curatorial de Carlos Silva.
A intenção do curador foi fazer um elogio à Semana de 22, mas também ao que ele chama de tendência modernista, uma característica que extrapola o século 20. "Nos estudos do Paulo Herkenhoff, ele diz que nosso modernismo nasce no século 19", explica Carlos, que também é professor de história da arte.
A exposição foi dividida em núcleos e começa com um módulo histórico com obras da década de 1920 assinadas por nomes como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. Em seguida, o foco é nos desdobramentos da pesquisa abstrata geométrica de artistas como Fayga Ostrower, Alfredo Volpi e Rubem Valentim. "É da tradição modernista a etapa do abstrato geométrico da década de 1940 e 1950", avisa o curador. Um núcleo modernista relacionado a Brasília traz Bruno Giorgi. "A gente pensou muito no núcleo germinativo do modernismo na nossa capital no Planalto Central e esse núcleo encontra na Universidade de Brasília um grande campo de produção", explica Silva, que escolheu obras de Marília Rodrigues, Maciej Babinski e Glênio Bianchetti para um módulo que une o movimento moderno à pesquisa e produção acadêmicas.
Para finalizar a progressão histórica, Silva convidou três artistas contemporâneos da cidade que desenvolvem pesquisas relacionadas com a mesma ideia de liberdade de expressão veiculada pelo modernismo. Helena Lopes, com gravura digital, Raquel Nava, com pinturas em formatos inusitados e espuma expansiva para acirrar o volume nas da tela, e Sanagê Cardoso como escultor ajudam a atualizar a tendência abstrato-geométrica na poética do DF.
O curador escolheu a perspectiva da liberdade de expressão artística para trabalhar alguns pontos do movimento modernista na exposição. "Essa ideia de modernismo vinculado à liberdade de expressão vem a partir do século 19, com algumas produções que encontramos na história da arte brasileira que são contrárias ao ensinamento da arte da academia", diz Silva. "Talvez seja esse o início do apelo moderno à liberdade de expressão, uma ruptura da tradição."
Rastros do Modernismo: 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922
Com obras de 15 artistas. Visitação até 27 de fevereiro, de terça a sábado, das 14h às 22h, e domingo, das 12h às 20h, na Galeria Casa (Casapark)