Crítica / Transversais ###
Numa longa estrada
Incansável trabalhador, o enfermeiro Caio José é dos entrevistados que melhor exemplificam o conteúdo do longa-metragem de estreia de Émerson Maranhão, que registra a luta por visibilidade de pessoas trans, no Ceará — mas, numa compreensão capacitada à extensão pelo Brasil, a partir da multiplicidade de desinformação e de preconceito na nação ainda infestada pelo machismo desmedido.
Caio José, o atendente do Samu que se desdobra entre vários empregos, não consegue conter a emoção, ao tratar do cotidiano que passa por lidar com partos inesperados. É para além do atestado de existência, autenticado pelas certidões de nascimentos que os personagens de Transversais lutam. A perseguição por uma mínima qualidade de vida é dos deveres abraçados com afinco pela funcionária pública Samilla. Distanciando a realização plena, com ser humano, das parafilias (socialmente associadas, em tempos obscuros, à perversão), Kaio Lemos, um pesquisador acadêmico, que segue o candomblé, é outra voz potente a ser citada na obra que teve produção de Allan Deberton (Pacarrete).
Reivindicando respeito e balizando uma sociedade mais alinhada ao cenário contemporâneo, a pedagoga (e diretor a de escola) Érika desponta em Transversais como uma campeã — posto que, na verdade, ela gostaria de ver frutificado, numa realidade de arejamento para vozes de pares ainda hoje calados. Vitoriosa, Érika trata, no documentário, de desafios como o de ajustar alunos e professores aos tempos de pandemia. Entre vários ângulos que tratam de desconstruções, um dos mais interessantes é o de Mara, que vencendo preconceitos, surpreende a ponto de encabeçar o grupo Mães pela Diversidade.
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