O cinema em muitas ocasiões apostou em troca de identidades e de gênero para personagens vividos por atrizes como Glenn Close (em Albert Nobbs), Barbra Streisand (Yentl) e Felicity Huffman (Transamerica). Agora, a animação Coração de fogo é que investe no tema da ampliação das atividades profissionais para mulheres oprimidas em épocas como os anos de 1930, no qual se passa a ação do longa. Empolgada com a profissão do pai, um bombeiro (já aposentado), a jovem Georgia Nolan pretendia ingressar na corporação. Mas, os preconceitos vigentes naqueles tempos não permitiam.
Na aventura idealizada por Laurent Zeitoun (produtor de filmes adultos como Intocáveis e A morte de Stalin), a jovem tem a chance de provar a capacidade, a partir de uma circunstância inusitada: durante um enorme incêndio que atinge um teatro da Broadway, a cidade de Nova York não conta com a atuação de bombeiros, uma vez que muitos, misteriosamente, desaparecem. Assumindo a identidade de Joe, Georgia, na base do improviso, traz para si um peso de enormes responsabilidades. Um agravante para toda a situação, no filme dirigido por Zeitoun e Theodore Ty (do departamento de arte de longas como Monstros vs. Alienígenas), está no fato de, acionado às pressas, o pai da protagonista comandar toda a operação na qual Georgia se vê infiltrada.
Numa abordagem de enormes transformações do curso da vida, outro longa que estreia na cidade é Transversais, de Émerson Maranhão, destacado para exibições anteriores em eventos como a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e o Cine Ceará. Na fita, pessoas trans contam das jornadas de realização pessoal e das barreiras enfrentadas, entre as quais, a pesada carga de preconceitos. Sob uma temática de homenagem ao diretor sueco Ingmar Bergman, a diretora de A ilha de Bergman (outra estreia no DF), Mia Hansen Love, não desvia de tópicos polêmicos que deram lastro à vida pessoal e às criações do autor de filmes como O sétimo selo (1957). Confira as críticas dos longas em cartaz.
O cineasta do povo
Diretor de filmes fundamentais para a remodelagem no conteúdo do cinema brasileiro, entre os quais Viramundo — que tratou da inclusão do operariado na grande tela —, o cineasta e roteirista Geraldo Sarno, morreu na última terça, no Rio de Janeiro, em decorrência de complicações causadas pela covid-19. Premiado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2008, pelo longa-metragem Tudo isto me parece um sonho, o diretor baiano, nascido em Vitória da Conquista, faleceu aos 83 anos. Em homenagem ao artista que assinou longas como Coronel Delmiro Gouveia, estrelado em 1978 por Rubens de Falco, o Canal Brasil exibirá hoje (às 13h) o último longa criado por Sarno: Sertânia. O filme, que investe em temas caros ao diretor, entre os quais crenças e cultura popular, tem no elenco o cineasta Edgard Navarro (do longa Eu me lembro). No enredo, ao invadir uma cidade interiorana, o bando de Jesuíno vê Antão entregue a um estado de quase morte, que suscita uma série de memórias.
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