Show musical em casas noturnas é um dos programas mais apreciados pelos brasilienses desde sempre. Historicamente, essa manifestação artística já fazia parte do cotidiano dos moradores do Distrito Federal nos primórdios da fundação da capital. Naquela época, os engenheiros e diretores de empresas construtoras se reuniam no piano-bar do Brasília Palace Hotel, para ouvir canções românticas interpretadas por Glória Maria, cantora do cast da Rádio Nacional. Já os candangos que erguiam os prédios do Plano Piloto, se divertiam nas boates da Cidade Livre — hoje Núcleo Bandeirante —, dançando no embalo de boleros clássicos recriados pelo cantor pioneiro Fernando Lopes e de ritmos nordestinos, tocados por trios de sanfona, triângulo e zabumba.
Muitos são os bares e restaurantes tanto em Brasília quanto em outras cidades do DF que, seis décadas depois, oferecem essa atração a seus frequentadores. Com isso, fazem a economia girar, ao absorver essa mão de obra especializada, formada por cantores, instrumentistas e técnicos de som, que ocupam o palco desses estabelecimentos comerciais, principalmente nos finais de semana. Por conta da pandemia, nos últimos dois anos, a atividade foi drasticamente afetada, em razão do fechamento de espaços e do consequente desemprego.
Alguns dos personagens que exercem esse ofício artístico disseram ao Correio que levar música de qualidade aos espectadores, além de ser um "ganha pão", os proporciona grande prazer.
Célia Rabello — "Cantar é algo que faz parte da minha vida há 35 anos.Nunca tive outra atividade como profissão. Em função da pandemia, tive que interromper, por um período, o que mais gosto de fazer. Deixei, por exemplo, de me apresentar no hotel, onde vinha cumprindo temporada. A direção do estabelecimento, compreendendo a situação do momento, passou a pagar metade do salário. Consegui complementar o ganho fazendo algumas lives em casa para empresas. Aproveitei também para pesquisar mais músicas para inserir no repertório. Desde meados de 2021, tenho feito em torno de 12 shows por mês".
Marcelo Lima — "Assim como outros companheiros de ofício, sofri um baque com com a covid-19, pois deixei de fazer muitos shows com os grupos dos quais faço parte, o Centropia e o Praga de Baiano; assim como com Marcelo Lins e Diana Motta, a quem acompanho, tocando bandolim, instrumento que trago comigo há 20 anos. Na quarentena, dei aulas on-line do instrumento e desenvolvi projetos com apoio do FAC-DF. Desde o final de 2021, as aulas voltaram a ser presenciais e os shows, aos poucos, vêm ocorrendo".
Rosana Brown — "Antes da pandemia, tinha uma agenda cheia de compromissos. Houve um período em que tinha toda a semana ocupada, inclusive aos domingos. Apresentava-me no restaurante Ticiana Werner (201 Sul), Istambul (211 Sul), Villa (202 Norte) e em eventos particulares. Para isso, contribuiu o fato de eu ter participado do The Voice Brasil de 2019. Com o advento da covid-19, fiquei 10 meses sem fazer show. Foi o pior momento em 15 anos de carreira artística, como cantora de MPB e pop nacional e internacional. Tive que me valer das economias que havia guardado e da ajuda da minha mãe. As coisas melhoraram um pouco a partir do segundo semestre do ano passado, mas ainda falta muito para à voltar normalidade".
Robson Rodrigues —"Embora seja professor de português e redação e tenha um produtora chamada Girasolando, na qual dou aulas de música, foi como cantor e violonista que me tornei mais conhecido, me apresentando principalmente no Vintage Scholl, um pub no Núcleo Bandeirante e em festas particulares. Entre março de 2020 e fevereiro de 2021, a situação ficou terrível. Virei-me para pagar as contas, elaborando e produzindo projetos para outros artistas e dando aulas on-line de cavaquinho, violão e harmonia. Sou músico profissional há 35 anos e conquistei o Prêmio Tom Jobim, do Sesc, em 2012.
Diana Motta — "A música faz parte da minha vida desde sempre. Filha da saudosa Glória Maria, tida como a primeira cantora de Brasília, me tornei uma profissional deste ofício há 25 anos. Tenho formação como flautista e maestrina e criei um grupo com o qual, antes do surgimento da covid-19, mantinha uma agenda com 10 e 12 eventos por mês, incluindo casamentos e recepções. Ficamos quase um ano parados, sem fazer apresentações, mas ainda consegui lançar o álbum Soul Afro Brasileiro. Como sou professora da Escola de Música de Brasília, pude me manter dignamente, mas sei de companheiros que passaram necessidade. Consegui ajudar a alguns".
Gedai Flores — "Atuo como cantor e violonista há 35 anos e fiz parte da primeira formação da banda Satisfaction. Como vivo de música, tocando MPB e pop rock nacional e internacional em casas noturnas de Taguatinga, como Kaixa D'Água (Bar do Careka) e Stoll; e Pipeline, em Águas Claras, vivi um período difícil, entre 2020 e meados de 2021, em razão do fechamento de vários bares e restaurantes, por conta da pandemia. Outras foram abertas, mas ainda não oferecem programação com música ao vivo. O que salvou um pouco foram os eventos particulares. Estou na torcida para que nossa atividade possa voltar à normalidade depois do carnaval".
Bruno Z — "Há 20 anos tenho a música como ganha pão. Integrei a banda Dínamo2, mas há algum tempo faço show solo de voz e violão, tocando MPB e pop rock nacional. O Boteco do Déo, Bar do Kareka e Shot Rock Bar, em Taguatinga são os lugares onde mais toco. Antes da pandemia, chegava a fazer até 15 apresentações por mês. Agora, depois da flexibilização determinada por decreto do GDF estou correndo atrás para ter novamente uma boa agenda de compromissos, fazendo o que mais gosto e que me dá sustento".
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