Enquanto a novíssima arte brasiliense toma conta dos circuitos apelidados por artistas e curadores como "intencionais", uma mistura de arquitetura e arte urbana ocupa o Museu Nacional da República, que também recebe uma série de fotografias sobre os movimentos de opressão e libertação nas Américas. No CCBB, a novidade é a chegada de Amilcar de Castro e Hélio Oiticica, que têm exposições marcadas para este ano. Confira o que está em cartaz e o que vem por aí no circuito de artes visuais da cidade.
Nova arte brasiliense
Nos últimos cinco anos, o professor e curador Carlos Silva tem observado uma certa proliferação de espaços independentes pela cidade. São galerias ou pequenos centros culturais que não dependem de grandes instituições e costumam se manter, na maior parte das vezes, sem o suporte de verbas públicas. Silva chama esses locais de "espaços intencionais" para diferenciar de "espaços institucionais". Foi a observação do movimento nesses lugares que levou o curador a pensar no recorte de Circuito em ebulição — Nova arte contemporânea em Brasília, em cartaz na Galeria Casa.
Silva convidou cinco jovens artistas da cidade cujos trabalhos tem acompanhado ao longo dos últimos anos. Rafael Marques, Raylton Parga e Pamella Wyla foram alunos do curador, que dá aulas de história da arte, ou tiveram textos escritos por ele para alguma exposição. Rômulo Barros e Paula Catu completam a lista com trabalhos que misturam linguagens e experimentação, ele com objetos e pintura, ela com tecelagem. "É uma certa espécie de investigação de linguagem que essa juventude apresenta. Uma das coisas que quisemos foi criar um panorama da produção local, então temos desenho, gravura, pintura, objeto e instalação", avisa o curador.
Circuito em ebulição — Nova arte contemporânea em Brasília
Com obras de Pamella Wyla, Paula Catu, Rafael Marques, Raylton Parga e Rômulo Barros. Curador: Carlos Silva. Visitação até 30 de janeiro, de terça a sábado, das 13h às 22h, e domingo, das 12h às 20h, na Galeria Casa (Casa Park – SGCV Lote 22, Brasília – DF)
Obras monumentais
No Museu da República, duas exposições celebram os 15 anos da instituição com discussões que vão da arquitetura à discussão política em torno de ditaduras e democracias. No mezanino, Eterna diáspora reúne 38 fotografias do argentino Marcelo Brodsky. Há mais de quatro décadas, ele se dedica a registrar momentos cruciais tanto em regimes opressivos quanto em movimentos de libertação.
Na galeria principal, o paulista Rodrigo Sassi mostra Fora dos planos, espécies de estruturas arquitetônicas que dão forma a esculturas abstratas feitas em concreto armado, metal, madeira e restos de construção civil.
A arquitetura é o guia de Sassi, que tem especial admiração por Brasília e já expôs na cidade em duas ocasiões. "Meu trabalho tem uma relação forte com arquitetura, pesquiso referências arquitetônicas, e Niemeyer sempre foi uma referência. Meus projetos desenvolvidos em Brasília sempre tinham uma questão de se relacionar com o contexto da cidade. Meu trabalho sempre funcionou bem em Brasília", avisa Sassi.
Com 21 peças, essa é a maior exposição individual que Sassi já fez. Algumas obras são inéditas e outras vieram de empréstimos de colecionadores. Não chega a ser uma retrospectiva, mas dá uma boa noção das direções seguidas pela investigação do artista. "O espaço é grande e a preocupação era fazer uma exposição pontual. Por mais que os trabalhos tenham um porte, eles somem. Trabalhar com Niemeyer tem essa complexidade de a obra dele se destacar muito, é muito grandiosa", diz o artista.
Boa parte da produção de Sassi está muito ligada à própria observação do artista para a dinâmica urbana de metrópoles como São Paulo. "O crescimento acelerado da cidade, essas transformações, é muito relacionado ao que vivo, uma cidade que sobe e desce a todo minuto, sem preservação do patrimônio. Por isso alguns trabalhos são técnicas de concreto armado, outros são em metal, feitos com materiais industriais coletados na cidade, e há uma série de tapeçarias que são vergalhões de construções que falam um pouco sobre essa trama", explica. "Os materiais carregam uma carga de vidas passadas e são todos relacionados à construção civil mesmo, arquitetura, design."
Fora dos Planos
De Rodrigo Sassi, no espaço expositivo principal do Museu Nacional da República.
Visitação até 6 de março
Eterna Diáspora
De Marcelo Brodsky, no mezanino do Museu Nacional da República. Visitação até 6 de março
Fique de olho
Hélio Oiticica e Amílcar de Castro vão tomar conta dos jardins do Centro Cultural Branco do Brasil (CCBB) este ano. Eles integram projetos que se estenderão pelos próximos dois anos. O jardim de Amilcar de Castro — Neoconcretismo sob o céu de Brasília inaugura no próximo dia 23 de fevereiro com 40 esculturas do artista trazidas do acervo de um colecionador de Minas Gerais e reunidas sob curadoria de Marília Panitz.
Em março, é a vez do Magic Square 3, de Hélio Oiticica, ser montado nos jardins como parte do projeto Delirium ambulatorium, que vai reunir exposições e atividades paralelas como shows, debates e palestras em torno da obra do artista. Uma grande exposição com obras de Oiticica, incluindo a Tropicália, que será montada no Pavilhão de vidro, está programada para 2023 como parte do projeto.
Utilizar os espaços externos para exposições foi uma decisão tomada pelos dirigentes do CCBB para não paralisar a programação durante a pandemia. Agora, é a vez das artes visuais invadirem os jardins do espaço. "Estamos explorando muito a área externa, temos uma área aberta generosa, então podemos fazer projetos de exposições, música, teatro, dança, cinema explorando essa área externa", explica Ana Lúcia Lenzi, gerente de programação do CCBB.w