Do Gama para o mundo. O multi-instrumentista, compositor e arranjador Pedro Martins é, atualmente, o artista brasileiro com maior presença na Europa, Estados Unidos e Japão. Foi a partir de 2015, quando venceu o concurso de guitarra no Festival de Montreux, na Suíça, que as portas se escancararam para ele no exterior. Desde então, tem passado mais tempo fora do Brasil do que em Ponte Alta, onde mora com a família. Ali, num bem equipado estúdio, busca aprimorar o trabalho e tem desenvolvido seus projetos.
O feito mais recente de Pedro foi uma gravação com ninguém menos que Eric Clapton, um dos gigantes da música internacional. Em novembro último, ele recebeu convite do cantor, compositor e guitarrista para participar do registro em single de um rock balada que tem como título Heart of child. O músico brasiliense estava na Holanda e, uma semana depois, se deslocou até Nice, na França, onde, no estúdio do astro britânico, adicionou o som de sua guitarra à base da composição. Daniel Santiago, outro instrumentista candango, fez o mesmo com o violão.
Ambos haviam se aproximado de Clapton em setembro de 2019, quando tomaram parte de um show beneficente promovido por ele em Dallas, nos Estados Unidos. "Participamos daquele evento a convite do Eric. Ele tomou conhecimento de mim e do Daniel, por meio do Kurt Rosenwinkel, músico e produtor norte-americano, radicado na Alemanha e que me apresentou ao mundo", conta. "Antes de nos convidar, o Eric assistiu no YouTube a vídeos meus. Em Dallas, nos acolheu com atenção e carinho", acrescenta.
Segundo Pedro, a admiração pelo astro inglês é antiga. Lembra que cresceu num ambiente musical, uma vez que o pai, Oscar Azevedo, servidor público aposentado, é violonista e cantor, que até hoje se apresenta em casas noturnas do Gama. "Ainda na infância, além da MPB, ouvia em casa Beatles, Cream e Eric Clapton. Não poderia ser mais surreal do que agora, aos 28 anos, ter participado da gravação desse single ao lado de um dos meus ídolos", comenta emocionado.
Como quase não saiu de casa, entre março de 2020 e boa parte deste ano, Pedro aproveitou a longa quarentena, determinada pela pandemia, para compor e cuidar da produção e da gravação do seu terceiro álbum solo, que pretende lançar em meados de 2022. Os anteriores, Sonhando alto e Voz, no qual se lançou como cantor, são de 2010 e 2018, respectivamente. Quanto aos shows no exterior, ele adianta que os primeiros estão agendados para Miami (EUA), de 10 a 13 de fevereiro. Antes, de 27 de janeiro a 4 de fevereiro ele será uma das atrações do Festival de Jazz de Jeriquaquara, no litoral cearense.
Entrevista// Pedro Martins
Você atribui à conquista no concurso de guitarra, do Festival de Montreux, há seis anos, o fato de ostentar atualmente um grande prestígio no concorrido cenário musical no exterior?
Não tenho nenhuma dívida em relação a isso. Ter sido o vencedor de um concurso num dos mais importantes festivais de música da Europa e do mundo, disputando com guitarristas de vários continentes, foi determinante para que a minha carreira obtivesse outra dimensão. Eu me orgulho de ter obtido aquela conquista, tocando a música brasileira de Tom Jobim e Toninho Horta, além de uma composição de minha autoria.
Há algo a mais que considere importante ligada à sua participação naquele festival?
No júri estavam John McLaughlin e Kurt Rosenwinkel. Este último, um grande músico e produtor norte-americano, viria a ser a pessoa que abriu as portas para mim no mundo. Ele me convidou para fazer parte da banda dele, com a qual fiz turnês pela Europa, Estados Unidos e Japão. Só não viemos ao Brasil por questão de agenda do Kurt. Mas, ele gravou um disco, intitulado Caipi, inspirado na música brasileira.
Foi o Kurt também que lhe apresentou a Eric Clapton?
Ele mostrou músicas do meu disco para o Eric, que pesquisou no YouTube vídeos meus, inclusive os da série Simbiose, que gravei com Daniel Santiago; e curtiu o nosso som. Depois disso, por meio de sua produção, nos convidou para tomar parte de um show beneficente, promovido por ele em Dallas, nos Estados Unidos, em setembro de 2019. Nos surpreendemos com a maneira atenciosa como nos acolheu naquele evento, do qual o Kurt também participou.
Como recebeu o convite para participar da gravação da música de um single do astro britânico, que tocou com os Beatles?
É algo quase que inenarrável. Em novembro, estava na Holanda fazendo shows, quando recebi um e-mail com o convite do Eric, para tomar parte na gravação da balada rock Heart of child. Emocionado, respondi de imediato, aceitando o convite. O Simon Climie, produtor musical dele, então, me enviou as passagens de ida e volta para Nice, na França, onde tem um estúdio. A base estava pronta e Eric. já havia colocado a voz. Gravei alguns takes, tocando guitarra.
O Daniel Santiago também participou?
No e-mail que recebi do Simon havia um convite também para o Dani, que ficou radiante. Daqui do Brasil ele enviou o som dele, gravado com o violão.
Qual foi sua reação ao ouvir a música pronta e editada?
Voltei a me emocionar bastante. Achei a música linda. Assim que ouvi, compreendi por que ele quis a participação minha e do Daniel. Mesmo sendo um rock, tem uma nuance brasileira na parte rítmica. O lançamento ocorreu na véspera de Natal. Antes, o Eric havia me enviado uma mensagem, agradecendo a participação.
Que posição adotou em relação às críticas feitas a ele pela atitude negacionista, em relação à vacina contra a covid-19?
Sou contrário a essa campanha de cancelamento que estão fazendo contra ele. Aliás, sou contrário a qualquer campanha de cancelamento. Eu me sinto honrado em participar da história de Eric Capton. E, por favor, vacinem-se!
Como está sua agenda para 2022?
Entre 27 de janeiro e 4 de fevereiro vou tocar no Festival de Jazz de Jeriquaquara, no Ceará; de 10 a 13 de fevereiro participo de um outro festival, em Miami (EUA), onde faço três shows. De lá sigo para a Alemanha onde vou mixar meu disco. Aí volto ao Brasil e fico até o final de março.O disco, com músicas de minha autoria, será lançado em julho. Ao longo de 2022 tenho compromissos agendados na Suécia, Holanda, Alemanha e outros países europeus. São shows, festivais e gravações.