Não são todos os artistas que se consolidam como sucesso antes mesmo do primeiro álbum, mas Urias é uma dessas cantoras. A mineira, que já havia conquistado o Brasil em 2019 com o single Diaba, música com mais de 12 milhões de reproduções no Spotify, agora aposta no lançamento do disco de estreia, Fúria. O trabalho já está disponível nas principais plataformas de streaming.
O disco é produzido por Rodrigo Gorky, Maffalda e Zebu e conta com 13 faixas, sendo dois interlúdios. A primeira parte do trabalho foi lançada em 2021 com as 5 primeiras canções. Peligrosa se destacou com o principal single passando a marca de 1 milhão de acessos tanto no Spotify quanto no YouTube.
As músicas trabalham numa mistura de gêneros que conversa não apenas com a carreira de Urias mas também com toda a vida dela como amante de música. A artista une o amor antigo que tinha pelo hi-hop, conheceu em DVDs piratas de feira cheios de videoclipes, com as fase em que se apaixonou por divas pop, até chegar no que ela tem de referência musical atualmente e no que almeja transformar a própria carreira. “É uma mistura do que eu gosto de ouvir com o que nenhum artista brasileiro fez ainda”, classifica Urias em entrevista ao Correio.
Nas temáticas a cantora também optou por inovar e aposta em falar sobre um sentimento específico: a raiva. “Queria entender onde esse sentimento me levou, questionar porque isso tudo acontecia dentro de mim”, explica a cantora que acredita que nas misturas de letras e sons alcançou exatamente o que tinha em mente. “O álbum está muito nesse lugar de extravasar, expurgar, tirar ou exorcizar alguma coisa de dentro de você”, acrescenta
Ela acredita que há algo de produtivo em sentir raiva e decidiu explorar esse lado nas novas músicas. “O álbum está nesse lugar de fazer alguma coisa com raiva, que esse sentimento seja um gatilho ou impulso para que você comece a fazer alguma coisa”, apresenta Urias. “Eu fiz pensando em transformar a raiva em algo mais. Porque, passar raiva por passar raiva, a gente já passa de graça e o tempo inteiro”, brinca.
Compartilhando raivas
Apesar das brincadeiras, Urias afirma passar raivas que são difíceis de explicar. “As vezes eu sou a única pessoa como eu no lugar, então nem adianta eu explicar para quem está comigo porque ninguém vai entender”, fala a artista em referência aser uma mulher transsexual.
Urias explica que pelo fato de ser uma artista transsexual, ela é sempre colocada em um recorte de minoria. Porém, ela tem interesse em ser reconhecida para muito além disso. “Eu tento aparentar que eu não sou essas características, elas são apenas algumas perante o todo que eu sou”, aponta. “É sobre me normalizar, me humanizar”, critica a artista.
Contudo, ela quer aproveitar o espaço que tem para trazer mais pessoas “como ela” para o topo. “A gente existe. E eu pretendo usar meu espaço para mostrar que a gente existe além de artista. Somos gente, cidadãos, pagamos nossas contas. Eu não preciso que a minha transsexualidade seja destacada toda hora, porque a cisgenerilidade dos outros não é destacada toda hora”, comenta. “Vou fazer com que todo esse espaço não seja só meu “, completa.
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