Lya Luft, uma das mais importantes autoras da literatura brasileira contemporânea, morreu na madrugada de ontem, aos 83 anos. Nos últimos sete meses, Lya vinha lutando contra um melanoma, o mais grave tipo de câncer de pele, descoberto já em fase de metástase. A escritora havia sido internada em um hospital de Porto Alegre, mas pediu para voltar para casa antes do Natal, na capital gaúcha, onde morreu. As informações foram dadas pela filha da autora, Suzana Luft, à imprensa.
Lya Luft nasceu na cidade gaúcha Santa Cruz do Sul em 1938, filha do advogado e juiz Arthur Germano Fett. Ao longo da vida acadêmica, cursou pedagogia e letras anglo-germânicas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). A escritora também trabalhou como professora titular de Linguística na Faculdade Porto-Alegrense (FAPA) e obteve o grau de mestra em linguística pela PUC-RS e em literatura brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Carreira literária
No mundo literário, Lya Luft começou a carreira como tradutora de livros em alemão e inglês. No total, Lya traduziu para o português mais de cem livros. Dentre eles, encontram-se obras de autores como Virginia Woolf, Rainer Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing, Günter Grass, Botho Strauss e Thomas Mann.
A gaúcha deu início à trajetória como autora em 1964, com o lançamento do livro de poemas Canções de limiar, sucedido pela obra Flauta doce, em 1972. Seis anos depois, Lya tomou a decisão de deixar os poemas em segundo plano para desbravar e explorar diferentes gêneros literários. Em 1978, foi lançada a primeira coletânea de contos da autora, Matéria do cotidiano. Logo em seguida, em 1980, surgiu o primeiro romance de Lya, As parceiras, que ganhou repercussão nacional.
Em 1996, foi a vez do lançamento do premiado livro de ensaios O rio do meio, vencedor do Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte por obra de ficção. No mesmo ano, Lya foi eleita patrona da Feira do Livro de Porto Alegre. Ainda trabalhando como tradutora, a autora também recebeu, em 2001, o prêmio União Latina de melhor tradução técnica e científica, pela obra Lete: Arte e crítica do esquecimento, de Harald Weinrich.
Já em 2003, Lya lançou um dos maiores sucessos da carreira, o best-seller Perdas e ganhos. Segundo a Editora Record, a obra chegou a contar com 40 edições e mais de 600 mil exemplares vendidos. O título ganhou edições em inglês, alemão, espanhol, francês e italiano, além de uma adaptação para os palcos de teatro encenada pela atriz Nicette Bruno.
Uma década depois, Lya recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL), por O tigre na sombra, de 2012. O livro foi eleito a melhor obra de ficção do ano, na categoria romance.
Apesar das diversas conquistas que colecionou ao longo da carreira, Lya Luft não via grande importância nos troféus e honrarias. "Se ganhei prêmios já esqueci, meu prêmio são meus leitores, e minha editora ainda querer meus livros. Para mim, importam as alegrias e preocupações da mulher comum que sou, eu sou esta pessoa, não aquela escritora", declarou a autora em entrevista ao Correio em 2013.
No total, Lya foi autora de mais de 30 obras, entre romances, poemas, contos, crônicas, ensaios, literatura infantil e um livro de memórias, a maioria traduzida para outros idiomas. A última obra lançada pela escritora foi As coisas humanas, em 2020.
Repercussão
Diante da imensidão do trabalho da escritora, autoridades nacionais e celebridades se mobilizaram nas redes sociais para lamentar a morte da autora. "Lya Luft deixa um legado de reflexão, sabedoria e elegância. Seus textos iluminaram a vida de muita gente e pautaram debates públicos inspiradores. Meu carinho aos amigos e aos parentes desta dama das letras do Brasil", escreveu o apresentador Luciano Huck no Twitter.
"Muito triste com a morte de Lya Luft. A literatura brasileira fica mais pobre. Lya e eu não pensávamos igual e nos dávamos bem, porque cuidávamos do que tínhamos em comum", compartilhou Sergio Abranches, colega de profissão de Lya.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também prestou homenagem à gaúcha. "O RS perde um dos seus maiores nomes da literatura. Lya Luft nos deixa aos 83 anos e abre uma lacuna difícil de ser preenchida. Que Deus conforte a família e os amigos", publicou Leite. A Prefeitura Municipal de Santa Cruz decretou luto oficial de três dias pela morte da escritora.
*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel