Desde que foi criada por Maurício de Sousa, a Turma da Mônica acompanhou a infância de milhões de brasileiros. Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali são como velhos amigos de toda pessoa que cresceu lendo os gibis desse grupinho. Hoje essas quatro crianças voltam para mais uma aventura nos cinemas, mais uma vez interpretadas pelo quarteto formado respectivamente por Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Gabriel Moreira e Laura Rauseo, com o longa Turma da Mônica — Lições.
O filme, sucessor de Turma da Mônica — Laços, é baseado em um quadrinho homônimo escrito por Lu e Vitor Cafaggi. A história gira em torno do amadurecimento do grupo de amigos que, após aprontar na escola, é separado pelos pais e obrigado a enfrentar os maiores medos e inseguranças. É uma produção sobre a fase de transição em que as crianças precisam largar velhos hábitos e desbravar um mundo maior do que estão acostumadas.
"Nessa continuação, a gente está tratando de assuntos que são mais internos, mais emocionais e de conflitos mais pessoais", afirma o diretor do filme, Daniel Rezende. Ele acredita que, no novo longa, pôde se aprofundar de uma forma diferente nos personagens. "A partir do momento em que você separa essa turma, eles têm que lidar com questões que eles não tinham lidado antes. A gente não viu eles nos quadrinhos tratando disso. É uma situação mais emocional, sensorial, emotiva e interiorizada", complementa.
No novo longa, os protagonistas passam a questionar o que talvez sejam suas principais características. Por que a Magali come demais? Qual o problema do Cascão com a água? Como resolver a questão de fala do Cebolinha? Até quando a Mônica vai andar com o coelho de pelúcia Sansão? São as perguntas que permeiam a trajetória dos personagens principais durante todo o filme e que servem, ao mesmo tempo, como ferramentas para introduzir conceitos corajosos na história da Turma da Mônica. "A gente colocou assuntos que não se vê sendo discutidos na dramaturgia brasileira infantil e infanto-juvenil. Falamos de ansiedade e fobia, por exemplo, de uma forma complexa, com os personagens que a gente cresceu lendo", explica o cineasta.
"A arte é uma das maneiras que a gente tem para entender a vida. Não importa, pode ser o entretenimento, mas tem um recorte do mundo e um entendimento da vida ali", acredita Rezende. "Então nada melhor que em um filme da Turma da Mônica, ícone da cultura da pop, poder falar com as crianças, poder formar público e fazer as crianças pensarem e refletirem sobre assuntos muito importantes, como amadurecimento, e que crescer faz parte da vida e o mundo é muito maior que só o Bairro do Limoeiro dos quadrinhos", completa.
Entretanto, nenhum outro filme mostrou tanto o Bairro do Limoeiro quanto Turma da Mônica — Lições. É possível ver na tela uma imensidão de personagens do Maurício de Sousa interagindo. Adições como Do Contra, Franjinha, Marina, Milena, Tina, Rolo e até a gata Mingau são apresentadas pela primeira vez em live-action. "É uma responsabilidade muito grande, porque a gente nunca sabe exatamente como vai imprimir na tela", conta o diretor, que descobriu a fórmula para adaptar esses novos personagens para as telonas. "Eu precisava agradar milhões de fãs, mas sem esquecer que eu sou um deles. Então, eu não ia ficar satisfeito se eu não fizesse um trabalho que eu não reconhecesse os personagens", lembra. Daniel afirma que o resultado foi positivo. "Nas poucas sessões que eu fui com crianças é muito lindo ver a reação delas de felicidade porque reconheceram. Elas estão vendo personagens que criaram na própria cabeça e estão aprovando", garante.
Futuro
Daniel Rezende fez muito sucesso com o antecessor de Lições e espera que consiga o mesmo resultado com a estreia de 2021. No entanto, prefere não projetar muito o que está por vir. "O Lições a gente só conseguiu fazer depois que o Laços foi um sucesso e qualquer outro filme desse universo só será possível se o Lições for um sucesso", pontua o cineasta, que espera bons retornos do novo filme. "Tomara que o filme seja um sucesso, que o brasileiro se enxergue na história e a gente consiga fazer mais e mais filmes", complementa.
Mesmo com o tom realista, ele não deixa de pensar na possibilidade de um futuro frutífero para as histórias da Maurício de Sousa Produções, afinal, o filme conta com uma cena pós-créditos. "A gente tem a maior vontade do mundo de fazer esse universo, expandir essa franquia para muitos filmes", aponta o diretor.
Crítica / Turma da Mônica — Lições ###
Traquinagens agridoces
Grande sucesso em 2019, a versão em cinema para as criações de Mauricio de Sousa novamente se revela acertada, com apoio de graphic novel assinada por Vitor e Lu Caffagi. Anteriormente prospectando temas como bullying e superação de medo, o roteiro de Thiago Dottori, que agora ganha o reforço de Mariana Zatz (da série de streaming Ninguém tá olhando), é tracejado pela chegada de maturidade e dos dilemas advindos deste crescimento dos personagens, tudo com a percepção de que ações geram necessariamente consequências.
As relações de amizade formuladas na Escola do Limoeiro estarão em risco, em especial, pelo descontrole dos pais de Magali, Mônica e companhia, todos pouco hábeis na lida de deslizes da garotada, que gazeteia aulas. As lições a serem aprendidas dizem respeito à saída da zona de conforto. O aprendizado se estende ao desapego de pequenos vícios dos personagens e à percepção de eterno aprendizado no cotidiano escolar. Um conceito muito contemporâneo que vincula a arte à capacidade de união entre as pessoas também desponta.
Entre muitas artimanhas para não se molhar, Cascão (Gabriel Morteira) interage com um personagem que quase rouba o filme: Do Contra (Vinícius Higo, muito divertido no papel). Arejar o novo longa com a presença de novos personagens (em que se destacam a Tina vivida por Isabelle Drummond) é um bom recurso usado pela equipe de criação.
Ver Mônica (Giulia Benite) cabisbaixa também traz novidade para o enredo, que, novamente apostando numa situação de sumiço, por pouco não incorre em repeteco em relação ao primeiro filme. Aspectos de ruptura no dia a dia, pontuações nostálgicas e a vibração ocasional da patota de Mauricio de Sousa, em que Kevin Vechiatto segue destacado como Cebolinha, cravam a singularidade do novo longa. (Ricardo Daehn)
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