Um eterno looping. Se a aparência de 2021 foi essa, o cinema, como reflexo dos tempos, entrou no embalo. Godzilla vs. Kong, Pinóquio, Mortal Kombat e Amor, sublime amor, todos filmes exibidos ao longo do ano, reativam memórias de produções de cinema que atravessam décadas. Balizado por continuações e remakes, o cinema — que por momentos teve as salas interditadas, frente a pandemia — resistiu, emplacando produtos como Matrix resurrections e Homem-Aranha: sem volta para casa, este tornado a maior bilheteria desde o início da pandemia.
Apostas certeiras, em tempos instáveis, reconsiderar os universos de animações se mostrou um êxito, como confirmaram Os Croods 2: Uma nova era, A família Addams 2 — pé na estrada e O poderoso chefinho: Negócios da família. Surfando no mais do mesmo, as produções de atores de carne e osso — a exemplo de Cruella, Velozes & furiosos 9 e Halloween kills. Deixando a comodidade na Jamaica, o agente James Bond voltou às telas, na 25ª aventura, e a última encabeçada por Daniel Craig. Também resgatados da aposentadoria, personagens referenciais desfilaram a presença na aventura saudosista Ghostbusters: mais além.
Mesmo quando arrojado, no caso da visão do diretor Denis Villeneuve para o clássico escrito por Frank Herbert, nos anos de 1960, Duna estreou em outubro, amortecendo o fiasco da versão de 1984 assinada por David Lynch. Filões rentáveis da sétima arte, como o do universo dos quadrinhos e o do mero terror e suspense (empregado em Invocação do mal 3 e Um lugar silencioso parte II), apostaram igualmente em fórmulas consagradas.
Em lançamento alinhado com as plataformas, Viúva Negra chegou às telas em julho, enquanto o universo da DC nos cinemas foi chacoalhado por O Esquadrão suicida, que reergueu o time comandado por personagens como Arlequina.
Saiba Mais
- Diversão e Arte Boninho chora ao receber homenagem de Luciano Huck durante 'Show dos Famosos'
- Diversão e Arte Livros infanto-juvenis viajam pelos patrimônios imateriais do Brasil
- Diversão e Arte Com atrações diversas, festival celebra cultura do Riacho Fundo II
- Diversão e Arte Matrix: a origem e o polêmico legado do filme no mundo real
Novos ares
Primeiro protagonista asiático com estrondo no panorama da Marvel, o expoente do kung fu Shang-Chi e a lenda dos 10 anéis foi encabeçado por Simu Liu, que fez jus ao personagem criado por Jim Starlin, há quase 50 anos.
A Ásia também despontou nos bastidores da feitura de Eternos, comandado pela chinesa Chloé Zhao, que já havia mostrado mais do que serviço à frente de Nomadland que, com uma trama ligada a instabilidades financeiras, faturou prêmios Oscar de filme, direção e melhor atriz (Frances McDormand). Na mesma festa do Oscar, a inglesa Emerald Fennell foi consagrada pelo talentoso roteiro de Bela vingança, protagonizado por Carrie Mulligan, tristemente deslumbrante num enredo sobre o inferno interior por traumático contato com feminicídio.
Foi também pelo tema do luto que duas produções internacionais jogaram holofotes sobre os talentos de talentos femininos: vencedora da Taça Volpi de melhor atriz em Veneza, Vanessa Kirby, de Pieces of a woman, chegou à reta final do Oscar, com retrato de uma enlutada mãe, enquanto a diretora Jasmila Zbanic, com Quo vadis, Aida?, trouxe a segunda indicação para o Oscar internacional para a Bósnia-Herzegovina.
Numa pegada infinitamente mais leve, atrizes queridas no cenário brasileiro tiveram momentos reluzentes em 2021. Com Depois a louca sou eu, Débora Falabella encampou desventuras amorosas. Já Lucicreide vai pra Marte trouxe o talento de Fabiana Karla. Também muito distanciado da pasmaceira dos roteiros hollywoodianos, o diretor Wes Anderson — com o habitual estilo cartunesco — mais uma vez encantou, desta vez à frente de A crônica francesa.
Costura sentimental
Sem papas na língua, o diretor Ridley Scott arriscou alto com o retrato do clã fora dos padrões, em Casa Gucci, com visibilidade, dada a participação de Lady Gaga no elenco. Ainda no mundo da moda, meses antes de morrer, Pierre Cardin, aos 98 anos, pôde conferir, no Festival de Veneza, o longa O império de Pierre Cardin, exibido no Brasil em janeiro. Na fita, pesa a capacidade do estilista em integrar culturas diversas, por meio de tecidos e moldes. A celebração do jornalismo e dos filmes fixados na realidade vieram em alto e bom tom por meio de longas como Oito presidentes 1 juramento — A história de um tempo presente, de Carla Camurati, e A última floresta, que deu destaque a indígenas. Polêmico, o rockstar e vocalista da banda Charlie Brown Jr. foi homenageado, em Chorão: marginal alado.
Vozes negras de relevância cobriram 2021 de engajamento e sabedoria. Na lista, Marighella (numa versão equilibrada, sob a ótica de Wagner Moura) cravou sabedoria num roteiro que sobrepujou a virtual guerra de ânimos da direita e esquerda. Enquanto Judas e o Messias Negro, de Shaka King, revigorou a luta do ativista Fred Hampton, Doutor Gama (assinado por Jeferson De) revelou sóbria narrativa sobre o abolicionismo. Outros relevantes registros vieram com o nacional Pixinguinha: um homem carinhoso e o filme que reposicionou Will Smith no topo — King Richard: criando campeãs.
Na linhagem do cinema brasiliense, King Kong em Asunción trouxe para a telona, em 2021, a premiada atuação do talento local Andrade Júnior. Explorando temas como autoconhecimento e confiança, a diretora Cibele Amaral emplacou nos cinemas Por que você não chora?. Também do Centro-Oeste, vieram Valentina e o ousadíssimo Vento seco, no qual Daniel Nolasco revela a explosão de desejos homossexuais. Sob moldes de uma cidadezinha conservadora, Aly Muritiba concebeu um enredo de autoaceitação, no belo Deserto particular.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.