O poeta marginal José Sóter celebra os seus 68 anos de idade lançando um livro de poemas-piadas intitulado Hai kanas, doses poéticas. O evento ocorre nesta quarta-feira (15/12), a partir das 18h30, no bar Beirute, localizado na 109 Sul, e contará também com sarau de poesia, cuja abertura terá Sóter lendo alguns de seus poemas. Depois, o microfone fica aberto ao público e aos poetas da cidade convidados para a celebração.
A nova publicação de Sóter é composta de hai kais, estilo de poesia de origem japonesa caracterizado por conter apenas três versos. Bem-humorada, a obra reúne mais de 40 poemas que o autor fez ao longo da vida. “Tem das décadas de 1970 e 1980. São poemas que se perdem nos livros, mas que tem espaço nos saraus”, lembra o escritor. Fã do existencialismo de Simone de Beauvoir e de Jean-Paul Sartre, e de chiste, o poeta brinca ao categorizar o Hai kanas como uma obra “chistencialista”. “O livro aborda vários temas. Geralmente, esses poemas vieram de provocações que senti em lugares comuns como botecos, a Rodoviária, ônibus coletivos e rodas de samba”, conta.
Todos dos poemas presentes no “livrim”, como ele gosta de chamar, já estiveram presentes no rótulo da Cachaçóter, bebida alcoólica criada pelo autor, e que acabou virando um “veículo de poesia”. Devido ao pouco espaço no rótulo, eles tinham que ser hai kai, segundo Sóter. No evento de lançamento de Hai kanas, haverá Cachaçóter disponível para venda. “Quem comprar a cachaça, leva o livrim de graça. Mas quem não bebe, pode adquirir só o exemplar da obra mesmo”. O exemplar custará R$20.
Nem o prefácio escapou da espirituosidade de Hai kanas. “É o menor prefácio que eu conheço”, confessa Sóter. O texto de apresentação é assinado pelo também haicaista Luiz Martins, que se limitou a escrever apenas “Se Hai kanas, soy a favor”.
Poeta marginal
Sóter faz parte da cena literária de Brasília desde que chegou à cidade, nos anos 1970. No início, tentava escrever poemas dentro dos padrões de escolas literárias, como o romantismo, mas uma entrevista de um escritor exilado em Portugal, que leu nas páginas amarelas da revista Veja, o fez mudar de ideia. Ele não lembra quem era exatamente o entrevistado, mas ficou marcado no jovem poeta a frase “Falar difícil é fácil, difícil é falar fácil”. “A proposta das minhas obras, além do bom-humor, é que seja acessível para todos. O poema só faz sentido quando atinge alguma alma”.
Por definição, a poesia marginal é aquela que não se encaixa em nenhuma escola literária e nem no mercado editorial, o que fez Sóter atuar de maneira totalmente autônoma, editando os próprios livros e de outros autores pela sua Semim Edições. O costume de chamar suas publicações de “livrim” vem do fato de que as editoras exigem uma quantidade mínima de páginas para uma publicação, prescrição que Sóter não atende.
A última publicação de autoria de Sóter foi a edição de comemoração de 40 anos do lançamento do seu livro de poemas Fogo na palha, de 1981. Ao todo, já publicou 15 títulos, entre eles o Navegante ao léu (2011), com a colaboração do artista plástico Zé Nobre.
Hai kanas, doses poéticas/Semin Edições
De Sóter
Lançamento hoje, a partir das 18h30, no bar Beirute, na 109 Sul.
Preço: R$ 20.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
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