A 19º edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontece em formato virtual até o próximo dia 5 de dezembro, tem proporcionado encontros e debates que têm como eixo principal a questão das "plantas e florestas". Foi a partir desta ideia e dos conceitos de utopia e distopia que se desenrolou, na quarta-feira, 1º, uma das mesas mais aguardadas do evento: a reunião entre a escritora canadense Margaret Atwood e o cientista Antonio Nobre.
Entre outras obras, Margaret Atwood é autora de The Handmaid's Tale (No Brasil o título é "O Conto da Aia). O livro, lançado em 1985, inspirou uma série de enorme sucesso e muitos prêmios sobre um regime totalitário que trata as mulheres como propriedade.
A obra de Margaret fez com que ela se tornasse uma espécie de fonte primária quando o assunto é distopia. Não à toa, ela criou a palavra "Ustopia". "Utopia e distopia são duas metades da mesma coisa. Cada distopia tem um pouco de utopia dentro dela", falou a autora.
Ao lado da autora, Antonio Nobre, cientista com trabalhos reconhecidos sobre mudanças climáticas e aquecimento global, foi quem trouxe a questão da distopia para dentro do tema proposto pela Flip: "A perda da conexão do ser humano com a articulação da vida pela natureza está na origem do que entendo como distopia", falou.
Questionada pela escritora e jornalista portuguesa Anabela Mota Ribeiro sobre a crise climática e problemas envolvendo o descaso do ser humano com a natureza, Margaret foi direta: "O problema é que os políticos são pensadores de curto prazo que pensam em como se reeleger", disse. Para ela, a solução para o planeta precisa vir do "público em geral" e de pessoas como a jovem ativista Greta Thunberg. Ainda assim, a escritora advertiu para a necessidade de explicar às pessoas que a defesa da natureza não significa, por exemplo, a perda de empregos.
"A natureza está em você. Cada vez que você respira, você respira a natureza. A sobrevivência de nós nossa sobrevivência depende da natureza. Digo para os jovens que o problema não é meu, é deles", brincou Margaret, que tem 82 anos.
Perguntado sobre quem protege as plantas e a natureza ameaçada, Nobre foi enfático: "As plantas só podem ser protegidas pela consciência. Só assim pode ser protegida da distopia em que vivemos", disse.
Mas foi a poesia de Margaret que encontrou a metáfora certa para resumir o tema da mesa: "Não estamos separados da natureza, do tempo ou do ciclo da vida. Achamos que transcendemos a natureza, mas não é bem assim. Isso é o agora, daqui a 5 minutos será outro momento. Observamos isso nas flores. Uma flor é um botão. Ela vai desabrochando, se abrindo e murchando. Com algumas flores, tudo isso pode acontecer em apenas uma noite apenas...Parece triste, mas vamos aproveitar as flores" , falou.
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