Música

Cantor Almério divulga novo álbum com releituras de obras viscerais de Cazuza

Proposta sonora do álbum cria uma espécie de ponte entre o Rio de Janeiro, cidade onde Cazuza nasceu e viveu, e o "solo efervescente" do agreste pernambucano, terra de Almério

Naum Giló*
postado em 16/12/2021 06:00
Almério revive a obra de Cazuza em 'Tudo é amor', álbum com participações de Ney Matogrosso e Céu -  (crédito: Ana Stewart/Divulgação)
Almério revive a obra de Cazuza em 'Tudo é amor', álbum com participações de Ney Matogrosso e Céu - (crédito: Ana Stewart/Divulgação)

A obra visceral de Cazuza (1958-1990) ganhou mais uma releitura com o lançamento de Tudo é amor, do cantor pernambucano Almério. O álbum reúne 11 canções do compositor que marcou o rock nacional dos anos 1980, entre hits como Brasil, no qual Almério interpreta ao lado de Ney Matogrosso, e O nosso amor a gente inventa. O disco também inclui a música Companhia, que Cazuza compôs especialmente para Zizi Possi, em 1987, nunca gravada por ele.

Almério conta que a escolha do repertório do álbum foi um trabalho feito a "quatro cabeças”. “Marcus Preto (diretor artístico do disco) fez uma equação, que, para mim, foi genial. Ele sugeriu que dividíssemos o repertório em três hits, três semi-hits e cinco canções do lado B de Cazuza. A partir disso, começamos a fazer uma pesquisa eu, Marcus Preto, André Brasileiro (direção geral) e Ione Costa, que é a idealizadora do projeto”, detalha o cantor. “Cada um dos quatro trouxe uma surpresa para o álbum, com músicas que se iluminaram e que pediram elas mesmas para serem escaladas.”

Foram cinco meses esmiuçando a obra de Cazuza. As gravações começaram em setembro de 2020, mas o convite de Ione para participar do projeto foi feito dois meses antes, no auge da primeira onda da pandemia. “Fazer esse mergulho na música dele me deixou muito angustiado, feliz e angustiado de novo. Intimamente, foi um processo muito delicado, porque são canções muito viscerais, honestas e transformadoras", rememora. Entre as canções prediletas, Almério destaca Vai à luta, que ele escutava na adolescência, momento que sofria bullying por ser afeminado, uma “criança viada”, nas palavras dele.

A proposta sonora do álbum é uma ponte entre o Rio de Janeiro, cidade onde Cazuza nasceu e viveu, e o “solo efervescente” do agreste pernambucano. “Tem o rock preciso, a MPB e a poesia nua e crua de Cazuza, mas é cantado por um pernambucano, sobretudo um agrestino. Trago na minha voz Recife, o mangue, o Mangue Beat e a cultura popular que vem das bandas de pífano”, diz Almério, que é nascido na cidade de Altinho, cerca de 36 quilômetros de Caruaru (PE).

Outro destaque do projeto é a participação de Céu na faixa Eu queria ter uma bomba. “Além da dor, ela traz uma sofisticação para essa canção, que é uma das que mais me emocionam entre as selecionadas para o projeto”, diz Almério, que associa a música à solidão que, segundo ele, é natural da vida dos artistas. “Eu tive um relacionamento duradouro com um cara que achava que a vida de artista era só um mundo de farra, fechação, sexo, drogas e rock ‘n’ roll. E, na verdade, é um mundo muito solitário. Por isso é uma música que me dói profundamente”.

A banda que acompanha o agrestino em Tudo é amor, é formado por Fabio Sá (baixo acústico e elétrico), André Lima (pianos, teclados e sintetizadores) e Juliano Holanda (guitarras e violões), produtor de Desempena (2017), disco de Almério vencedor do Prêmio da Música Brasileira na categoria Revelação. Pupillo acumula os comandos da bateria, dos arranjos e da produção musical do disco. Junto a Marcus Preto, ele já tem um trabalhos importantes na música brasileira, em discos de artistas como Nando Reis, Erasmo Carlos e Gal Costa.

*Estagiário sob supervisão de Severino Francisco

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