O lançamento mais recente de João Suplicy faz parte do seu novo projeto intitulado Samblues, o qual ainda vai ter mais dois EPs, que serão divulgados nos próximos meses. A primeira parcela do projeto conta com seis faixas, que trazem a proposta de unir dois ritmos criados na diáspora africana, e que têm extrema importância para a música popular ocidental: o blues e o samba, que, apesar de serem gêneros bem distintos, têm semelhanças em suas origens.
João diz se sentir muito à vontade em uma roda de samba, ao mesmo tempo que também aprecia um bar ao som de blues, o que o fez decidir juntar os dois universos no seu novo projeto solo. Mas ele ressalta que esse blend não é novidade na música brasileira. “Essa mistura é feita há muitos anos, com músicos como João Bosco e o violonista Baden Powell, que considero uma grande referência, com seu jeito característico de tocar”, lembra.
Um dos destaques do EP é a participação de Leci Brandão, na faixa Lágrimas de blues. João Suplicy conta que a composição da música foi pensada na revolta de escravos na Carolina do Sul (EUA), por volta de 1730. O movimento fez com que os brancos criassem leis mais rígidas contra a população escravizada, proibindo as batucadas, o que fez com os negros procurassem outras formas de se comunicar e cantar, nas plantações de algodão e nas igrejas. “Mas eu achei que não deveria ser eu para contar essa história, então convidei a Leci”. A sambista narra essa história na introdução da canção.
Em Quando a Bahia se mudou pra lá, Suplicy canta, ao lado de Mombaça, a onda migratória de famílias baianas para o Rio de Janeiro, entre os séculos 19 e 20. No impasse de definir se o samba nasceu na Bahia ou no Rio, João acredita que foram essas famílias que levaram a semente do gênero para a capital carioca, de onde o ritmo foi disseminado para todo o país ao longo dos anos. “Mombaça, como é carioca, diz que a música deveria se chamar ‘Quando a Bahia se mudou pra cá”, conta rindo.
João analisa que o samba e o blues, além das origens parecidas, também têm a melancolia como um traço em comum. “O blues também exorciza a dor, mas não a transforma em alegria, como o samba faz”, pontua.
Falando em melancolia, As rosas não falam, samba antológico de Cartola, é a única faixa constituída apenas por voz e violão na primeira parcela do projeto Samblues. “É um samba emblemático, lindo e coube muito bem numa releitura bluseira no violão”.
Os outros dois EPs do projeto Samblues tem previsão de lançamento para o início do próximo ano. Ontem, João fez show de lançamento do projeto no Bluenote, em São Paulo. "Em breve quero também levar esse show para Brasília", avisa o cantor.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
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Brothers of Brazil
Após um hiato de cinco anos, durante o qual cada um seguiu suas carreiras solo, João Suplicy e Supla voltaram com o projeto Brothers of Brazil, este ano. Mas João ressalta que o retorno da dupla não significa que os irmãos não darão seguimento a suas respectivas carreiras individuais. Eles estão se preparando para lançar um álbum em 2022. Fora Bolsonaro, Salvem as matas, Espetacular nadar no seu mar e Brothers again, parceria com Erasmo Carlos, são os singles já divulgados do novo trabalho.