O poder da comunicação inclusiva ganha os palcos do Festival Campão Cultural nesta sexta-feira (26/11), em Campo Grande — capital do Mato Grosso do Sul. A companhia brasiliense Os Buriti apresenta o espetáculo Depois do Silêncio, que retrata o processo de descoberta do mundo externo de uma pessoa surda e cega. A obra é inspirada na história real de Helen Keller — escritora e ativista social norte-americana que perdeu a audição e a visão nos primeiros anos de vida — e da professora Anne Sullivan que a ensina libras tátil.
A montagem, que nasceu durante o período pandêmico, estreou em agosto no formato virtual e, agora, ganha o mundo com a primeira estreia fora de Brasília com a retomada das atividades culturais. “A sensação é muito incrível, da gente voltar (aos palcos), de sentir o público. O nosso dia a dia é presencial, então quando a gente teve esse fôlego, de ter essa oportunidade, é muito emocionante”, afirma a atriz Naira Carneiro.
Para ela, o retorno dos eventos é um ganho enorme para a cena cultural no mundo. “Os festivais são espaços muito importantes para a arte, para todos os artistas, para os espetáculos. É muito maravilhoso estar neste grande festival e de poder participar disso”, reforça Naira, que interpreta com maestria o papel de Helen Keller.
Na avaliação da atriz Camila Guerra, que faz o papel da professora Anne Sullivan na peça, o momento atual é uma injeção de esperança, depois de quase dois anos sem poder sentir a energia do público. Principalmente com esse espetáculo, que foi pensado para ser realizado em um teatro com plateia e precisou ser moldado e readaptado devido às restrições impostas pela pandemia da covid-19.
“Esse espetáculo tem que circular muito. A gente aprendeu bastante com ele, e acredito que seja importante que todo mundo também tenha essa vivência. Essa é uma etapa que precisa reverberar”, ressalta Camila.
O espetáculo é uma adaptação da obra biográfica de Helen Keller (1880-1968). Em cena, as atrizes Naira Carneiro e Camila Guerra recontam o processo de descoberta das palavras e da comunicação através da libra tátil. O jogo de luz, som e a própria movimentação cênica com movimentos de dança contemporânea convidam o público a imergir na história das duas.
A história célebre que também teve adaptação para o cinema, com o filme O Milagre de Anne Sullivan (1962), ganha um toque dos dias atuais com a participação da atriz surda Renata Rezende. Renata, que perdeu a audição aos 3 anos e meio por meningite, conta, durante o espetáculo, o processo desafiador que foi se comunicar com outras pessoas.
As frustrações, angústias, conquistas, são retratadas por ela em libras durante a peça e conta com a tradução em português pelas atrizes Naira e Camila. Todo o espetáculo é encenado nas duas línguas (libras e português), o que o torna totalmente inclusivo para a população surda. Em março de 2022 a peça vai para outro festival, na Espanha.
Campão Cultural
A capital sul-mato-grossense, Campo Grande, recebe até 5 de dezembro diversas atrações do 1º Festival Campão Cultural. O evento de arte e cidadania começou na última segunda-feira (22/11), com uma programação diversificada que contempla artistas do teatro, dança, artesanato, literatura, além de atrações gastronômicas e musicais.
Entre os nomes que compõe o festival estão Atitude 67, Renato Teixeira, Duda Beat, os rappers Djonga e Dexter, a grafiteira Rafamon e os escritores indígenas Casé Angatu e Auritha Tabajara. A programação completa pode ser encontrada no site oficial do evento: festivalcampaocultural.ms.gov.br.
Ao todo, o evento contempla mais de 150 atrações espalhadas por sete regiões da cidade e dois distritos. O festival está sendo promovido pelo Governo de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Cidadania e Cultura (SECIC) e da Fundação de Cultura(FCMS), e conta com apoio da Prefeitura de Campo Grande, através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (SECTUR).
Protocolos
Apesar de toda a estrutura do festival, que se assemelha muito da experiência das produções culturais de antes da covid-19, os cuidados de prevenção ao novo coronavírus continuam. Em todas as atrações é necessário a utilização de máscaras, além da higienização com álcool em gel.
A maioria das atrações estão sendo realizadas ao ar livre e de amplo espaço — a fim de evitar grandes aglomerações. De acordo com o governo local, o índice de pessoas totalmente vacinadas contra a covid-19 já ultrapassou os 70%, o que possibilitou mais tranquilidade para a realização do festival.