Crítica

Confira a crítica de A crônica francesa

Novo filme de Wes Anderson, exibido no Festival de Cannes, revela peculiaridades no dia a dia de uma revista estrangeira

Crítica// A crônica francesa ####

Com o estilo cartunesco capaz de perpetuar o frescor de suas obras, o diretor Wes Anderson comanda o longa A crônica francesa. Na trama, uma revista com tino editorial norte-americano é uma das principais publicações de uma um cidade fictícia na Europa. O conflito cultural dá liga para o enredo que bebe de Godard e Truffaut. Com roteiro de Roman Coppola — filho de Francis Ford Coppola — e de Wes Anderson, o longa explora pormenores de linguagens visuais e orais, com diálogos refinados e, afiadamente, irônicos.

Ao tratar do fazer jornalístico e seus bastidores, Anderson refuta o mito da isenção na produção de notícias. O elenco do filme, que competiu ao Festival de Cannes, é de ouro: Benicio Del Toro, Tilda Swinton, Léa Seydoux, Timothée Chalamet, Owen Wilson e Bill Murray.

O próprio formato de revista é usado como moldura que apresenta três histórias que ilustram as seções da revista, contemplando Tursimo, Arte Moderna, Gastronomia e Poesia e Política, além de Obituários. Há rococó e um rebuscamento sinuoso na trama, toda enriquecida a exemplo de um bom texto que exceda aspectos informativos. Miséria, fome, perigo, solidão e até sadomasoquismo entram na leva de temas abordados. Wes Anderson até fala de violência, mas se recusa a enfocá-la graficamente.

Personagens exibicionistas e excêntricos exacerbam a criatividade da imprensa retratada no filme. Da solteirona que vive "de, e para escrever", interpretada por Lucinda (McDormand), até o destrinchar da vida do comissário de polícia, vivido por Mathieu Amalric, que deposita no filho a responsabilidade para sucedê-lo. A obra apresenta trajetórias decantes, mas iluminadas. Nada é massante na película.

Desenho animado, exame do submundo, emprego de recursos de teatro, censura ao imperialismo e sensualidade pontuam o filme que abraça a ansiedade narrativa de Wes Anderson que chegam ao ápice na narrativa encenada por Benicio Del Toro: um afresco sobre um presidiário com veia artística envolvido em negociatas no mercado de artes da cidade. Seja em pastel ou preto e branco, a fotografia de Robert D. Yeoman qualifica ainda mais o filme.