Marília Mendonça tinha entre 10 e 12 anos quando o avô procurou uma professora de violão. Queria que a neta aprendesse o instrumento para tocar na igreja em que era pastor, depois de abrir uma congregação dentro da própria casa, em Parque Amazônia, bairro de Goiânia. Quis o destino que Marília chegasse às mãos de Marli Franco Felix dos Santos, 53 anos. "Ele pediu que eu ensinasse a ela pela linha do gospel. Foi assim que aconteceram as primeiras aulas do curso básico de violão, entre 2006 e 2007", contou ao Correio a ex-professora, hoje cerimonialista, por telefone.
As aulas com Marli ocorreram durante quatro meses, primeiro na casa da professora. "Depois desse período, eu a levei para fazer uma oficina de música na minha igreja. Lá tinha teoria musical. A mensalidade era barata e ficava melhor, porque eu sabia da situação financeira da família. O avô da Marília também não tinha condições financeiras para arcar com aulas particulares", relatou.
Como todo professor, Marli usou a percepção para descobrir se Marília evoluiria bem com o instrumento ou não. "Percebi que ela tinha o dom para tocar. Em relação a cantar, ela era mais tímida para soltar a voz. Ela não soltava a voz. Comecei a incentivá-la a tocar e a cantar, pois cantando ela pegaria melhor as músicas e o ritmo", lembra.
A professora logo constatou que a menina tinha vergonha da própria voz. "A voz tinha um timbre diferente. Era mais grossa. Quando ela estava pegando as aulas particulares em minha casa, até pensei que pudesse ser timidez em cantar perto de meus quatro filhos adolescentes. Mas, percebi que ela ficava envergonhada com a voz", acrescentou Marli.
Também como todo professor, Marli apostou na sua aluna. Levou-a para a igreja, onde ela teria contato com outros alunos e veria que os timbres de voz são variados. "Talvez ela pudesse ficar mais à vontade. Mas isso não aconteceu. Percebi que ela também ficava retraída na igreja. Comecei a incentivá-la a cantar músicas mais fáceis", relatou.
Deu tão certo que Marília Mendonça tornou-se um fenômeno por sua voz e pelas composições. "Fui a primeira professora dela. Os primeiros acordes, ela aprendeu comigo. Emprestei o meu violão para ela treinar e pedi ao avô que ela comprasse o instrumento. Eu o afinei e o preparei para que ela praticasse", comentou Marli. Fica o orgulho da professora por ter contribuído de alguma forma. "Hoje que caiu minha ficha sobre isso, de pensar que, de alguma forma, tive uma participação na vida dela. Meu maior orgulho é saber que ela nunca perdeu as raízes e a fé", concluiu.