IMORTAL

'Ícone da cultura brasileira', diz presidente da ABL sobre Fernanda Montenegro

Marco Lucchesi celebrou a presença Fernanda Montenegro na eleição que deixa na história personagens que marcaram gerações

Num ato de renovação da Academia Brasileira de Letras (ABL), a entrada de Fernanda Montenegro como integrante da instituição, confirmada ontem para a cadeira 17, arrebatou 32 votos, num conjunto de 34 eleitores (computados dois votos em branco). Nas palavras do presidente da ABL, Marco Lucchesi, houve a reverência a um dos "grandes ícones da cultura brasileira", na eleição em que não havia outros candidatos. Pelo que destacou, pesaram, no pleito, as qualidades de intelecto e de engajamento. "Sua presença enriquece os laços profundos da academia com as artes cênicas. Com ela, adentram, luminosos, tantos, personagens, que marcaram gerações, passado, presente e futuro", complementou Lucchesi.

Em recentes anos de intensa produtividade, Fernanda Montenegro foi o cerne de publicações como Fernanda Montenegro: Itinerário fotobiográfico (2018) e Prólogo, ato, epílogo (2019). Como figura pública, defendeu fortemente a campanha da vacinação contra o novo coronavírus e agregou tanta popularidade, a ponto de fazer sucesso até mesmo estrelando comercial de instituição bancária. Fernanda Montenegro, aos 92 anos, foi nomeada para cadeira de imortal que se tornou vaga, diante da morte do diplomata Affonso Arinos de Mello Franco, em 15 de março de 2020. No rol de personalidades que ocuparam a cadeira, cujo patrono é o jornalista Hipólito da Costa, estão Sílvio Romero, Osório Duque-Estrada, Roquete-Pinto, Álvaro Lins e Antonio Houaiss. A eleição de Fernanda reflete um gesto de gentileza e de elegância, uma vez que, em 2018, com sutileza, ela declinou de concorrer à vaga para não competir com o amigo Ignácio de Loyola Brandão.

Ainda que refute o codinome de "dama do teatro", a exemplo das amigas Bibi Ferreira e Marília Pêra, mortas em 2019 e 2015, respectivamente, Fernanda Montenegro é indissociável ao brilho, desde os tempos do Teatro dos Sete e do Teatro Brasileiro de Comédia e de ter protagonizado encenações exitosas, desde os anos de 1950, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Oficializada em 6 de agosto, a candidatura de Fernanda, agora imortal, chegou 22 anos depois de ela conquistar a comenda Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito, maior honraria a que pode galgar um brasileiro. Em entrevistas recentes sobre o envolvimento com a Academia Brasileira de Letras, Fernanda saudou a visão contemporânea da instituição e celebrou a incontestável jornada "ao sublime" propiciada pela láurea, além de demarcar a visão progressista e feminista.

A ABL a consagrou como "sensível leitora do real", nos registros oficiais divulgados para a imprensa. Ao Museu da Imagem e do Som carioca coube o registro nas redes sociais: "Imortal, como deve ser". Indissociável a um atestado de excelência nas artes cênicas, Fernanda tem trajetória inigualável, desde as passagens pela TV Rio e TV Excelsior, sem contar a projeção na Rede Globo, na qual foi consagrada em obras como Guerra dos sexos e Babilônia (polêmica obra do novelista Gilberto Braga). Para além dos palcos em que teve colaborações com o dramaturgo Augusto Boal, e os atores Sérgio Britto e Fernando Torres, Fernanda encenou de Samuel Beckett a Shakespeare. Atriz de destaque, em espetáculos como The flash and the crash days (sob direção de Gerald Thomas) e, claro, um mito nacional (dada a indicação ao Oscar de melhor atriz por Central do Brasil), ela foi capaz de encenar até Nossa Senhora (na adaptação de O auto da Compadecida, de Ariano Suassuna).

Vital para o aclamado filme de Karim Aïnouz (A vida invisível), premiado na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, Fernanda é pop. Agora, acolhida pela "poesia da imortalidade" (como ela já declarou), aguarda data em março de 2022, quando acaba o recesso da ABL, para assumir a cadeira.

Saiba Mais