Cantando seus ídolos, é assim que a Céu se encontra no mais novo álbum da carreira, Um gosto de sol. Lançado no dia 12 de novembro, o disco marca a estreia da cantora como intérprete. Céu dá as próprias versões de uma seleção muito eclética, vai de Fiona Apple a Grupo Revelação, de Jimmy Hendrix a Rita Lee, mas faz um álbum coeso e com a cara da carreira que montou desde do álbum homônimo lançado em 2008.
"Foi muito gostoso. Era uma ideia do álbum deixar uma chama acesa nesse momento sem precedentes que a gente está vivendo", conta Céu em entrevista ao Correio. Ela se viu em um momento sem inspiração na pandemia e encontrou nas músicas que tem como referência a melhor forma de externar a arte que precisava em tempos tão sombrios."Eu busquei coisas que acalmam, que me acalmam, que nos deixam em paz. Fiz um disco de fã na verdade, uma homenagem para os meus ídolos", adiciona.
"Foi um processo natural de me sentir segura em algum lugar. As músicas dos meus ídolos me deixam segura, me remetem a tempos bons, a coisas boas e a arte como linguagem mesmo", explica a intérprete. "Num país que a arte é tão preterida, colocada em último plano e até criminalizada, essa foi minha forma íntima e particular de esquecer um pouco isso e de sair do meu lugar de destaque como front woman, para me jogar no universo de quem eu amo, de quem eu sou devota, de quem eu estudei, quem me arrepiou e me deixou feliz", complementa
O disco foi pensado por Céu com ajuda do marido Pupillo, que também produziu e tocou bateria e percussões. Participaram, ainda, do processo, Lucas Martins, no baixo, e o guitarrista Andreas Kisser, conhecido pelo trabalho com a banda Sepultura, e nomes como Emicida e Russo Passapusso. "As músicas de catálogo dos artistas nunca foram tão escutadas. Foi isso que aconteceu comigo, só que a diferença é que eu gravei", brinca a artista.
Céu destrincha que a ideia era falar o que ela queria por meio da forma como melhor se comunica: a música. "Fui explicando tudo por meio de música, mais uma vez, foi a forma mais fácil de me expressar, mais até que o meu texto", pontua. Para a cantora, ela construiu toda a carreira para que, nesse momento, fosse capaz de dar a própria cara para as canções que ouviu durante todos esses anos. "Eu estava buscando minha unidade, para não ser uma coisa completamente solta sem contornos e sem explicação", diz a cantora.
Cantando para sentir
Contudo, o mais importante do disco não é a Céu, mas a mensagem que ela decidiu passar. "Inverti também por uma situação social, coletiva e pelo desejo de 'botar os pingos nos is' sobre o lugar onde eu acho que a arte tem que estar", avalia. "A arte é necessária, não é supérflua. As pessoas recorreram muito a ela para se sentirem felizes e aquecidas nos últimos tempos. Então, acho que essa foi a minha forma de homenagear a arte", completa.
Neste lugar da arte é que a cantora acha que mora a necessidade de cantar com a própria voz o trabalho de grandes ícones. "A arte é transformadora, reveladora, questionadora, mas também te coloca no colo. A arte é a linguagem da alma", fala Céu. "Essa sou eu. Essa foi a licença que eu pedi depois de alguns discos como cantora e compositora para explicar quem sou, e consegui finalmente gravar um disco de intérprete", acrescenta.
A cantora não vive só da arte, vive do sentimento que a arte a proporciona. "Para mim, a música é sentir. Na minha opinião, Rita Lee e Alcione estão no mesmo lugar, há um empoderamento feminino nas mesmas músicas, nas mesmas artistas. É um elo que vem do espírito, e é neste sentido que eu me encontro", exemplifica a musa da música brasileira. "Não haveria o discurso do feminejo da Marília Mendonça, maravilhosa, essa potência de artista que ela foi, se não fosse a Rita Lee abrindo as portas, derrubando muros e fazendo uma carreira autoral como uma mulher", reflete.
Para Céu, esse apreço pela arte falta culturalmente no país. "Esse disco é uma forma de explicar para uma galera mais nova que me acompanha, que tudo já foi feito e que precisamos reverenciar o que já passou", apresenta a intérprete. "Está faltando um Brasil que cuida do próprio produto interno bruto, da música e da arte. Um país que respeita, que enaltece, que não tem memória curta e que fala dos grandes. Falta isso na nossa cultura, a gente reverenciar as pessoas que abriram o nosso caminho, não só na música , mas para tudo", afirma.
Volta aos palcos
Sobre a volta aos palcos, ela diz que foi muito emocionante: "A gente entende de novo porque escolheu fazer isso da vida. Teve um momento da pandemia que eu estava esquecendo, porque, realmente, fazer show para telas de celular e computador, não chega nem perto do sentimento real", conta Céu, que, aos poucos, retoma os shows presenciais do Apká!, disco de 2019 que teve a turnê interrompida pela pandemia.
Porém, a musicista prega parcimônia, afinal acredita que a pandemia ainda não acabou. "Sou um pouco desconfiada sobre a pandemia. Acho que a gente está vivendo uma mudança mesmo, não sei se essa pandemia vai embora tão cedo. É preciso muito cuidado, os números fora do Brasil já começam a subir de novo, então, acho que a gente tem que ter um respeito consigo mesmo e com a vida do próximo", comenta.
"Para mim, é muito feliz e oportuno o momento em que o álbum vem, porque ele está falando exatamente do que estamos vivendo, é o sol se abrindo para gente, mas com a responsabilidade e sem esquecer o amor à vida e à terra", afirma Céu. "A gente nasceu para cantar junto, vamos com cuidado e desejo dessa nova aurora vir", conclui.
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