A atriz e cantora Zezé Motta revelou que durante a adolescência e parte da vida adulta passou por um processo de embranquecimento. Entre as tentativas de se assemelhar com os traços de pessoas brancas após sofrer racismo na escola, a artista chegou a pesquisar se existia uma cirurgia para reduzir o tamanho do bumbum. A declaração foi feita no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite dessa segunda-feira (15/11).
“Na minha adolescência passei por uns processos complicados. Minhas amiguinhas falavam ‘seu nariz é chato, seu cabelo é ruim e seu bumbum é grande’”, contou. “Eu passei por um processo de embranquecimento. Eu queria operar o nariz, assim que eu pude eu comprei uma peruca chanel que era o que estava na moda e usava, e cheguei a pesquisar se existia uma cirurgia para diminuir o bumbum. Olha que loucura. É um crime, né? Total negação”, disse.
"Eu passei por um processo de 'embranquecimento'. Eu queria operar o nariz. Assim que eu pude, eu comprei uma peruca chanel, e cheguei até a pesquisar se existia uma cirurgia para diminuir o bumbum", relata @zezemotta no #RodaViva. pic.twitter.com/L1xEyGcrC4
— Roda Viva (@rodaviva) November 16, 2021
A atriz diz que a completa aceitação sobre ser negra, as complexidades, as lutas e o sentimento de pertencer a um povo veio após um curso que fez com a antropologista e intelectual negra Lélia Gonzalez. Antes, porém, uma viagem aos Estados Unidos, no fim dos anos 1960, a impulsionou a procurar raízes.
“Ao longo da minha carreira, fui aos EUA, pela primeira vez, e lá percebi que os negros andavam de cabeça erguida e comecei a me perguntar ‘meu Deus por que lá no Brasil a gente anda tão encolhido?’ e percebi que lá eles tinham a autoestima elevada. Começaram esses questionamentos todos na minha cabeça”, contou. Ela estava em palco com a peça Arena conta Zumbi e o contato com os atores negros e espectadores negros percebeu quem era.
.@zezemotta: "Fui aos Estados Unidos pela primeira vez e lá eu percebi que os negros andavam de cabeça erguida, e comecei a me perguntar: 'Por que lá no Brasil a gente anda tão encolhido?'. Começaram esses questionamentos todos na minha cabeça". #RodaViva pic.twitter.com/ZppsvIOOxJ
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De volta ao Brasil, participou do curso de Lélia, que, segundo ela, “foi uma injenção de autoestima”. Além disso, ela pôde se abastecer de conhecimento para propagar a consciência negra em entrevistas e círculos sociais que frequentava.
“Eu tinha consciência de que alguma coisa tava errada nesse país, tão miscigenado ser racista, mas eu não tinha um discurso articulado e a minha preocupação é que percebi que a minha responsabilidade aumentava mais, porque eu precisava falar sobre isso”, compartilhou.
A atriz é a entrevistada da edição dessa segunda-feira (15/11) do Roda Viva, programa da TV Cultura apresentado pela Vera Magalhães. Na bancada estão as jornalistas Luanda Vieira e Silvia Ruiz; o comunicador Ad Junior; a apresentadora do Jornal da Tarde Joyce Ribeiro e a atriz Taís Araújo.
Um dos papéis mais marcantes da carreira de Zezé Motta foi a de Xica da Silva, no filme de mesmo nome dirigido por Carlos Diegues, em 1976. Com um destaque artístico em uma sociedade racista, Zezé recebeu uma forte crítica assim que foi escalada para a produção. “Atriz de Xica da Silva é feia, porém exuberante”, dizia a nota jornalística. A artista comentou o fato no programa. Veja aqui.
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