Nas histórias da Marvel, seres superpoderosos sempre habitaram a Terra. Porém, a presença deles é muito mais antiga do que se imagina. O longa Eternos, apresenta a história de um supergrupo de alienígenas que está no planeta desde a presença humana para proteger as pessoas de uma ameaça bem maior, os deviantes.
Contudo, por mais que sejam figuras superpoderosas, os Eternos nunca foram populares nas HQs. Criado pelo quadrinista Jack Kirby, o grupo é formado por seres alienígenas superpoderosos do planeta Olympia e são enviados a outros, na missão de matar a raça alienígena chamada deviantes. Nas histórias em quadrinho tanto os eternos quanto os deviantes são criações dos seres mais poderosos do universo, os celestiais, para manter o equilíbrio do universo.
Apesar de serem milhares de seres como estes, alguns eternos muito específicos habitam a Terra. Liderados por Ajak, vivida por Selma Hayek, o grupo tem integrantes como Ikaris, membro mais poderoso com características muito similares às do Super-Homem e interpretado por Richard Madden; Sersi (Gemma Chan), com poder de alterar as propriedades de objetos e o fortão Giglamesh (Don Lee).
Aprofundados em questões cerebrais, em Eternos, está a dupla Phastos (Brian Tyree Henry), um engenhoso pesquisador de tecnologia e Druig, personagem de Barry Keoghan capaz de controlar mentes. Completam o grupo, Kingo, um cômico atirador de energia vivido por Kumail Nanjiani; a guerreira Thena, a quem Angelina Jolie dá vida e a veloz Makkari, (Lauren Ridloff), além da ilusionista presa a um corpo infantil Duende, interpretada por Lia McHugh.
Eles foram designados ao planeta com a missão de exterminar os deviantes e auxiliar a humanidade a se desenvolver, mas não podem, de forma nenhuma, interferir nos conflitos humanos. Desde os primeiros homens, passando por momentos históricos como a ascensão da Babilônia e a Segunda Guerra Mundial, até chegar a todo cânone da Marvel, os Eternos sempre estiveram na terra, mas em momento nenhum se deixaram envolver. Situações como o blip, estalo de Thanos que acabou com metade da população do universo, são citadas no longa para contextualizar os novos heróis nos tempos atuais.
Mitologia
Por ser dirigido por Chloé Zhao (Nomadland), que acumulou prêmios como Oscar de filme e direção, o longa Eternos é um dos mais diferentes da Marvel, tanto visualmente, quanto nos temas. Além de um elenco estrelado e novos personagens, o filme caminha em direção a um futuro mais diverso do Universo Cinematográfico Marvel, com uma história mais filosófica e uma rica mitologia galática que pode ser muito explorada no futuro do estúdio para outras histórias grandiosas. O dedo de Zhao pode ainda representar uma Marvel que dá mais espaço e liberdade a diretores renomados. Quem ganha é o público que presencia esses novos espetáculos.
Crítica // A paz é dourada
Ricardo Daehn
É muito interessante que o longa dirigido pela chinesa Chloé Zhao comece com a especulação do que seja um predador alfa. Com uma penca de mulheres fortes, Eternos é um filme inclusivo, em grande parte cimentado no curso da meditação e de atos pensados. Não traz a pancadaria pura, regular nos produtos Marvel. Certo enlevo permeia a energia dos mocinhos que, de círculos dourados (assemelhados a mandalas), entregam generosas e concentradas doses de harmonia, frente às situações de riscos experimentadas. Citando eventos da franquia Vingadores, os heróis miram a grandiosidade de mensagens de amor e empatia ("humanos sem defeitos não seriam humanos", chega a especular um dos personagens mitológicos apresentados na tela).
Depois de Nomadland, filme vencedor do Oscar todo amparado, na narrativa, em deslocamentos de espaços, a diretora Chloé Zhao tem que administrar, em Eternos, uma enorme galeria de personagens que atravessam dezenas de séculos de história. Museóloga, Sersi (Gemma Chan) carrega muito do enredo. Criação e destruição da humanidade (ameaçada de extinção) estão atreladas ao contexto de nascimento de novos seres Celestiais. Interferir no curso da humanidade passa a ser calcanhar de Aquiles para os componentes de Eternos.
Ainda que resulte em algo entre X-Men e Quarteto Fantástico, na tela, o longa vem lastreado por boas intenções. Um recurso divertido está na produção de um documentário sobre os heróis, como resultado da imersão de um deles, Kingo (Kumail Nanjiani), na indústria de cinema de Bollywood. Um roteiro perdido, com situações abrangentes e exageradamente conceituais torna Eternos hesitante. Há muitas piadas enxertadas e, a determinado ponto, a diretora entrega incontáveis fins (além das duas cenas pós-crédito).
Há estranhamento proporcional à originalidade no filme de Chloé Zhao. Fundamentais à trama, os deviantes, que implantam terror na Terra, se assemelham à figura de Venom. Com cara de Transformers, os encontros de Ajak — uma entidade superior que preza capacidades de "rir, amar, sonhar e criar" dos humanos", e que é interpretada por Salma Hayek — com Arishem trazem uma plasticidade única ao longa. Uma aura new age reveste de delicadeza a textura visual, em que prevalece dourado, com direito à sequência como a das pétalas de flores que substituem a violência de um iminente acidente. É emocionante que o bombardeio de Hiroshima esteja examinado, no filme, como prova das limitações humanas.
No elenco de Eternos, enquanto Brian Tyree Henry dá as caras na boa interpretação de Phastos (com direito a beijo no marido Ben, personagem de Haaz Sleiman), Richard Madden assume Ikaris, um poderoso eterno repleto de vulnerabilidade, e Angelina Jolie se destaca como a guerreira Thena. Ousada, Chloé Zhao traz para a trama de crises internas de Eternos, muitos momentos de calmaria, música clássica e inesquecíveis vibrações ao som de Skeeter Davis.
Revolucionário massacrado
Fazendo coro contra a “corja de fascistas”, como diz o personagem-título de Marighella, retratado no filme de estreia de Wagner Moura como diretor, a produção estrelada por Seu Jorge chega nas telas exatamente 52 anos depois da morte do político e cofundador da Ação Libertadora Nacional Carlos Marighella.
Definido como terrorista por alguns e alçado a símbolo de resistência por outros tantos, Marighella promete reacender ânimos de brasileiros. Preconceitos raciais, o desmascarar de mentiras (como a da morte de Marighella, diante do fato de estar “fortemente armado”), descrição de estratégias de ação revolucionária e a reiteração de um Jesus negro afloram como elementos candentes no filme, que ainda examina aparatos de comunicação que potencializaram a voz do líder, fosse no rádio ou no enlace com a imprensa (no filme, Herson Capri dá vida ao colaborador Jorge Salles, magnata de A Tribuna do Sudeste).
Tiroteios, estudantes que aderem a causas combativas, patriotismo e a disposição revolucionária que invade o campo e personalidades religiosas brotam de Marighella. Com 30 exibições no exterior, o feito de uma exibição especial no Festival de Berlim (em 2019) e a acusação de censura na liberação para o lançamento nacional, Marighella estreia em circuito amplo no país. No filme, há destaque para atores como Adriana Esteves, Luiz Carlos Vasconcelos, Henrique Vieira, Brian Townes e Ana Paula Bouzas. (RD)
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