Dois anos depois do êxito com a estreia de A Família Addams nos cinemas, os famosos parentes criados na imaginação do cartunista Charles Addams chegam numa nova aventura: A Família Addams 2 — pé na estrada. A mesma dupla de diretores da primeira animação, Conrad Vernon e Greg Tiernan (de A festa da salsicha), retorna com os reforços dos codiretores Laura Brousseau (saída do segmento de efeitos visuais) e do editor do primeiro longa, Kevin Pavlovic. Trocado por um quarteto de roteiristas, Matt Lieberman, do primeiro filme, faz falta.
Os rebentos de Gomez e Mortícia Addams, na trama, seguem em primeiro plano: depois de Feioso puxar a primeira história, agora o momento é de Wandinha. Sarcástica, ligada na inteligência da lula Sócrates e autocentrada, Wandinha se percebe cada vez mais uma "nota dissonante" no clã Addams. Com o nome dado a partir de homenagem a poema, ela mesma destaca: "Wandinha é uma criança cheia de aflição". E faz questão de enfatizar isso, com frases como: "Sou adepta do distanciamento social desde criancinha". Dissidente, ela subestima colegas de classe, nas incursões de socialização na escola, como na Feira de Ciências organizada pela Fundação Estranha. Presente no evento, o Senhor Estranho vai fazer toda a diferença na vida dos Addams.
Em meio a pesquisas sobre a adulteração de personalidades, Wandinha cria uma crise familiar e, numa tentativa de reaproximar filhos, irmão (tio Chico) e Mortícia, o patriarca Gomez planeja uma viagem a fim de criar recordações no seio do lar. É hora do personagem Mãozinha assumir o volante de um sinistro trailer, e fazer jus ao título do longa A família Addams — Pé na estrada.
Em Miami, Mortícia recorre ao filtro solar de fator 10 mil; nas Cataratas do Niágara, Feioso tenta lograr conquistas amorosas, a partir de aprendizados num livro de cortejos e, no Texas, o filme traz celebração de um mix entre A pequena Miss Sunshine e Carrie: Wandinha fica traumatizada e em crise de identidade, ao participar de um concurso infantil que exige cabelos excessivamente penteados, passinhos ensaiados e sorrisos forçados.
Menos soturnos
Populares na tevê, desde a série Os monstros, os Addams, desta vez, nos cinemas, ganham universo mais colorido, distanciado do lúgubre preto e branco de outrora. Descaracterizados, os Addams seguem para Sausalito (Califórnia).
Reavaliação de valores da família, a importância do caráter e do temperamento e mero entretenimento estão entre pontos explorados pelo longa-metragem. Ainda que inferior em relação ao filme de 2019, o longa tem lá algum encanto. Impossível não rir da irresponsabilidade de Chico, que faz malabarismos com bebês adormecidos numa maternidade; de alguns conceitos do roteiro (que coloca o sentimentalismo como "antítese da ciência") e do mordomo Tropeço executando I will survive, com um dançarino caracterizado de alce, ao fundo da cena.
Além de tudo, há a divertida presença do primo peludo It (dublado por Snoop Dogg), e o filme ganha com a visão distorcida de mundo da protagonista. Na disputa da feira de ciências, é Wandinha quem desabafa: de que adianta a vitória de muitos, "se ninguém sai como perdedor?!". Desconcertante.