Luis Jungmman Girafa é arquiteto, artista plástico, cineasta e fotógrafo. E, na verdade, quando fotografa, ele projeta nas imagens um pouco do olhar dessas múltiplas linguagens. Para ele, a foto boa é a impressa no livro ou na parede. Então, sempre edita um livro, nem que seja somente um exemplar, para apreciar e avaliar. O ensaio extraído do livro Onde se formam as lembranças (ainda no prelo) acaba de ser escolhido em segundo lugar no Prêmio de fotografia da revista Fotografe, intitulado Retrato: “Desde que descobri a fotografia há alguns anos, ela virou uma paixão”, comenta Girafa. “Mas eu preciso da foto impressa, senão, ela é imagem, mas não é fotografia.”
Onde se formam as lembranças é o quinto livro editado por Girafa, que costuma selecionar um conjunto de 60 fotos de um montante de 1.000 para cada volume impresso. Ele estabeleceu uma parceria artística com a poeta Maria Lúcia Verdi, que inseriu títulos nas páginas, criando uma narrativa meio cinematográfica, um diálogo sutil entre imagem e palavra: “As fotos foram tiradas em vários lugares”, conta Girafa. “A ideia não era localizar as imagens em Brasília.”
Na verdade, o ensaio do livro Onde se formam as lembranças é constituído por uma série de retratos, mas não são delineados em linguagem realista; são, constantemente, refratados por intervenções plásticas, que fragmentam as imagens, todas em preto e branco: “Tem coisas que são boas a cores, e outras que só ficam boas em preto e branco”, observa Girafa: “Uso fundo preto e composição com uma ou mais fotos. Não são retratos convencionais. Fotografei o Hermeto Paschoal em um sarau, sem mostrá-lo de maneira frontal. O que aparece é o cabelo e a camisa, mas quem o conhece, o reconheceu.”
É evidente a influência do cinema sobre as fotos, com os jogos de luz e sombra, o estilhaçamento da imagem, a impressão de movimento e as perspectivas dos planos de um filme. Não é por acaso. Girafa é diretor de arte, dirigiu quatro curta-metragens e prepara o lançamento do longa Acaso, filmado há quatro anos, com Bidô Galvão, Carmem Moretzshon e João Antônio, entre outros atores da cidade. “Fizemos uma experiência de um filme sem roteiro, os atores criaram os personagens”, explica Girafa. “Eu gosto de trabalhar de uma maneira afetiva, com pessoas amigas, que colaboram com o trabalho.”
Cinema
Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, e formado em arquitetura pela Universidade de Brasília, Girafa tem mais de 20 projetos (videoclipes, curtas, longas-metragens e peças de teatro) como diretor de arte e cenógrafo. Fez curso de roteirização com o diretor Carlos Reichenbach. Entre outros trabalhos, criou os cenários para o filme Louco por Cinema, de André Luiz Oliveira e para vários clipes da banda Raimundos, dirigidos por José Eduardo Belmonte. Essa experiência converge para a fotografia: “Com a direção de arte, você criar um ambiente para que o fotógrafo faça as imagens necessárias para o filme. Você fica no monitor observando tudo, pode opinar. Então, isso apura o olhar para a imagem. Gosto muito de ver cinematograficamente.”
Além dessas atividades, Girafa coordena a Galeria Matéria Plástica, instalada em um cômodo da casa em que mora no Condomínio Altiplano Leste. Embora fora do centro de Brasília, a galeria realiza exposições de qualidade e é uma casa dos artistas. Girafa edita cadernos de ensaios com os artistas, principalmente os brasilienses. Nelson Maravalhas, Paulo Iolovitch, Girafa e Carlos Ebert (diretor de fotografia de O Bandido da Luz Vermelha) foram temas da publicação: “Tentei alugar um local no Plano Piloto, mas era muito caro. Então, transformei meu ateliê em galeria.”