Às vésperas do Halloween, celebrado em 31 de outubro, as festas à fantasia se tornam cada vez mais frequentes. Empresas, estabelecimentos comerciais e até amigos aproveitam a oportunidade para ter um tempo divertido com a temática. No entanto, o que poderia ser uma celebração pode se tornar um momento constrangedor — e até mesmo criminoso — se a caracterização escolhida ultrapassar os limites do bom senso e da lei. Por isso, é melhor pensar duas vezes antes de sair de casa.
Não foi o que ocorreu com um casal branco de Petrópolis que causou revolta nas redes sociais na última quarta-feira (27/10), quando o homem postou uma foto dos dois pintados de preto e com perucas que simulam o penteado black power. O “look” foi usado para ir em uma festa da Igreja Batista Atitude e era, nada menos, do que uma reprodução de uma prática racista de mais de 200 anos: o blackface.
A prática era usada principalmente nos filmes e no teatro, na qual pessoas brancas escureciam o tom da pele para ridicularizar negros e atuavam em diálogos e encenações que reforçavam estereótipos racistas — como negros serem “mais burros que brancos”, “incapazes de pensar”, “agressivos” e “desastrados”. No fim, a ação contribuía para o fortalecimento do racismo estrutural, por desumanizar negros e fazê-los ser vistos como alegorias ou anomalias.
Mesmo com a nota oficial emitida pela igreja, que informou que os os dois “não tinham intenção de serem racistas”, eles responderão a uma notícia-crime feita pela Comissão de Educação, Assistência Social e Direitos Humanos (CEADH) da Câmara Municipal de Petrópolis e enviada ao Ministério Público para investigar e — se assim for decidido — indiciar o casal por racismo.
Os dois se vestiram de “nega maluca”, um esteriótipo da mulher negra que se tornou tradicional nos carnavais brasileiros. É possível que alguém pense que sempre foi assim e não está errado. No entanto, a tradicionalidade de um feito não quer dizer que não deve ser mudado.
“A fantasia jamais deve ofender alguém, deve proporcionar alegria para quem se fantasia e para todos aqueles que veem essa fantasia“, explica um artigo do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros da Universidade Estadual de Maringá.
Abaixo, você confere uma lista com outras fantasias que já foram populares e aceitáveis, mas que devem ser abolidas de vez da lista de opções de quem pretende se caracterizar. Afinal, diversão deve ser boa para todos, não é?
Personagens históricos, mas que causaram retrocessos à humanidade
O ano é 2021 e ainda precisamos falar que sim, é de mau gosto e criminoso se fantasiar de Adolf Hitler. Recentemente, uma universitária tornou o ditador genocida como tema da festa de aniversário dela. Quem mais tiver a falta de noção será enquadrado na Lei 7.716/89, que prevê como crime qualquer tipo de apologia ao nazismo.
No entanto, não só casos extremos devem ser evitados. Não é de bom tom, por exemplo, se fantasiar de feminicidas. Um exemplo foi as fantasias do goleiro Bruno, acusado de matar a ex-namorada Eliza Samúdio. Quando alguém escolhe um personagem ou uma personalidade para se vestir, é feita uma homenagem ou uma brincadeira, não um protesto. Por isso, não é aceitável se fantasiar de criminosos famosos.
Terroristas ou homem bombas
Por ser de fácil caracterização, essa é uma das fantasias que fez grande sucesso na primeira década de 2000, mas que ainda é usada. O problema é que na maioria dos casos a caracterização se utiliza de roupas típicas de muçulmanos, o que reforça um esteriótipo que causa uma discriminação e até mesmo xenofobia com este povo do oriente. Nas redes sociais, muçulmanos relatam a dificuldade de serem recebidos por outros países.
Vestes religiosas, como orixás e santos
Algumas pessoas simulam as roupas de mães e pais de santos, se apropriam dos colares usados e até mesmo encenam “danças” feitas nos terreiros. Ocorre que o vestuário e os ritos são sagrados, pertencem a uma religião e são ligados a divindades honradas pelos seguidores do candomblé. Assim como os outros casos, não é algo que pode ser usado como uma “fantasia”.
Pessoas gordas
Mais uma constatação óbvia que precisa ser dita: pessoa gorda não é fantasia, nem motivo de piada ou digna de graça. A prática é considerada gordofobia e reforça o preconceito com essas pessoas que já são discriminadas em processos seletivos, espaços públicos e relacionamentos. O preconceito contra essas pessoas deve ser combatido como sociedade e não reforçado. E não, não existe isso de “é uma brincadeira”.
Comunidade LGBTQIA+
Na mesma linha do blackface e de pessoas gordas, se fantasiar de mulher e encenar jeito afeminado em referência — e zombaria — de pessoas LGBTQIA+ é inadmissível. A comunidade LGBTQIA+ brasileira é a que mais morre no mundo. Enquanto pessoas transgênero forem vistas como fantasias ou como anomalias, o cenário de barbaridade não irá mudar.
Indígenas
Os povos originários possivelmente são o grupo dessa lista que é usado há mais tempo em fantasias. O Dia do Índio, nas escolas era um festival do que não se fazer. Povos indígenas não são fantasias, mas sim uma sociedade com cultura e modos de vida próprios. Seria o mesmo que se fantasiarem de nós mesmos. Não faz sentido, correto? A prática de se fantasiar de indígenas desumanizou essas pessoas, que ainda hoje são vistas por algumas pessoas como selvagens, menos inteligentes, incapazes de viver em sociedade e menos evoluídos. Evite!
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