Crítica

Estreia de terror, ‘Espíritos obscuros’ faz uma alegoria sobre abusos familiares

Longa de Scott Cooper, ‘Espíritos obscuros’ funciona para o gênero terror, mas tem a maior potência na crítica social

Pedro Ibarra
postado em 28/10/2021 11:58
 (crédito: Kimberly French/20th Century Studios/Divulgação)
(crédito: Kimberly French/20th Century Studios/Divulgação)

O verdadeiro monstro é o trauma em Espíritos obscuros, da Searchlight Pictures, estreia da semana nos cinemas. O longa, dirigido por Scott Cooper e produzido por Guillermo Del Toro, usa de uma lenda indígena antiga para criar uma grande alegoria sobre como é a cabeça de uma pessoa que sofre abusos, de qualquer forma, por familiares dentro de casa. O filme é uma dos lançamentos de terror do fim de semana do Halloween e chega aos cinemas nesta quinta-feira (28/10).

A produção apresenta a professora Julia Meadows, vivida por Keri Russell, que tem que lidar com circunstâncias obscuras ao se aprofundar no ambiente familiar do aluno de 12 anos, Lucas Weaver, interpretado por Jeremy T. Thomas. A docente recebe a ajuda do irmão Paul, personagem de Jesse Plemons, para enfrentar uma criatura que só era real nos mitos dos nativos do estado de Oregon, nos Estados Unidos. O enredo é baseado no conto The Quiet Boy de Nick Antosca.

O filme usa como principal ameaça uma figura folclórica norte-americana conhecida como Wendigo. Um ser maligno que habita as florestas do norte do continente e que é conhecido por se alimentar de seres humanos, proteger a floresta e por ser eterno, sempre buscando novos hospedeiros para continuar o próprio legado. O monstro tem um grande suspense construído em torno de si durante todo o filme, porém é pouco desenvolvido na história. Fato que o torna como principal foco de sustos, mas não em um vilão ou ameaça crescente para os personagens.

O verdadeiro vilão do filme é outro. Todos os personagens desenvolvidos pelo roteiro têm como forte traço de personalidade um histórico de abusos na infância. Julia e Paul têm no pai a figura traumática, o que balança a relação dos dois e é máxima durante todas as grandes interações dramáticas entre os personagens. O pai também é o problema de Lucas, já que o parente dele tem ligação direta com Wendigo e coloca em risco o irmão mais novo da criança, chamado Aiden e interpretado por Sawyer Jones.

As relações familiares são o primeiro ponto de destaque do filme. Tanto Julia e Paul, quanto Lucas e Aiden protagonizam cenas de muita verdade e expõem os traumas de forma a imergir o espectador em um passado que, inclusive, merecia mais tempo de tela. As relações de irmandade são críveis e todo desenvolvimento leva a um lugar de profundidade interessante. Contudo, por ser um longa de terror, em alguns momentos abre-se mão de explorar as boas camadas dos personagens e troca-se essa potência do filme por ação e sustos, o que diverte, mas não mais que isso.

As atuações também são fortes, principalmente Jeremy T. Thomas e o núcleo infantil. O menino coloca muita emoção nos poucos momentos que fala e consegue transmitir apenas no olhar os sentimentos difíceis de uma criança que sofre abusos e vive em um lar problemático. As outras crianças envolvidas no filme, como Sawyer Jones, também entregam mais que o esperado, porém tem menos tempo de tela.

Espíritos obscuros é um terror interessante, ainda mais para pessoas com afinidade com cenas mais gráficas e com interesses em personagens mitológicos.O longa tem potencial para ter continuidade também. Porém se torna ainda mais chamativo por conta da alegoria que faz e de tratar de um tema delicado mas recorrente em lares de todo mundo. O monstro pode estar mais perto do que se imagina, até mesmo dentro de casa.

Espíritos obscuros, estreia desta quinta-feira (28/10)

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