OBITUÁRIO

Adeus ao mestre: Gilberto Braga deixa legado com melhor texto da tevê brasileira

Com a capacidade de misturar ficção com a realidade do país, Gilberto Braga criou personagens icônicos que foram incorporados à cultura pop

Vinicius Nader
postado em 28/10/2021 06:00
Gilberto Braga — uma trajetória que se confunde com a novela brasileira -  (crédito: Renato Rocha Miranda/TV Globo)
Gilberto Braga — uma trajetória que se confunde com a novela brasileira - (crédito: Renato Rocha Miranda/TV Globo)

O Brasil das telenovelas perdeu, na última terça-feira (26/10), um dos seus maiores retratistas. O país de hoje se vê refletido ainda nas ações e na "banana" dada por Marco Aurélio (Reginaldo Faria) ao fugir do Brasil na cena final de Vale tudo. O autor dessa e de outras maravilhas, Gilberto Braga nos deixou aos 75 anos. O enterro ocorreu nessa quinta-feira (27/10) e foi restrito à família.

Gilberto Braga tinha o melhor texto da tevê brasileira. Diálogos certeiros, marcantes, com um estilo próprio de mostrar a elite brasileira de uma forma crítica. Alguns acusam o autor de ser elitista, de deixar as classes baixas fora das telas. Não era bem assim. No ar no canal Viva com Paraíso tropical, ele consagrou Camila Pitanga e sua prostituta Bebel.

Foram muitos os personagens que se tornaram clássicos e entraram de vez para o rol dos grandes da novela falando as precisas palavras de Gilberto. De Odete Roitman (Beatriz Segall) e Maria de Fátima (Gloria Pires), de Vale tudo, a Julia Matos (Sônia Braga) e Yolanda Pratini (Joana Fomm), de Dancyn Days, isso só para citar duas novelas de Braga que marcaram época e pararam o país. Campeão de audiência, Gilberto Braga era internacional e recordista de exportação, com Escrava Isaura.

O sucesso veio também com Paraíso tropical, Celebridade e com a dupla Anos dourados e Anos rebeldes. Gilberto não era bom só de texto, era bom de cenas também. Inesquecível Raquel (Regina Duarte) rasgando o vestido de noiva da filha em Vale tudo; a surra de Maria Clara (Malu Mader) em Laura (Claudia Abreu) em Celebridade; o assassinato de Heloísa (Claudia Abreu) em Anos rebeldes; ou o beijo entre Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) em Babilônia, a última novela dele.

Gilberto Braga se vai, mas deixa vivos esses e tantos outros personagens doces e ácidos como a vida.

Nas redes sociais, artistas homenagearam o dramaturgo. "Graças ao Gilberto Braga, tive o meu primeiro papel de destaque na tevê Brasileira. Pude viver a Sônia em Corpo a corpo, personagem que é lembrada até hoje. Foi um divisor de águas. Em 1984, falamos de racismo em horário nobre", disse Zezé Motta. "O Brasil perde um pouco da magia de grandes personagens, vilãs icônicas e boas reflexões em frente à tevê", ressaltou Paolla Oliveira.

Emocionada, Gloria Pires destacou que "Gilberto Braga é o pai da nova telenovela; ele trouxe oxigênio para o gênero, com humor crítico e as melhores cenas dramáticas já escritas. A minha carreira está pontuada pelos incríveis presentes que ele me deu".

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