Em 21 de outubro de 1961, 14 moradores do Setor Residencial Econômico Sul, participaram da assembleia para a fundação da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro e escolheram Pedro de Souza Almeida como primeiro presidente. Servidores públicos que vieram transferidos do Rio de Janeiro para Brasília, e ali se instalaram, eles foram responsáveis pela criação da mais tradicional e vitoriosa escola de samba de capital, que celebra 60 anos nesta quinta-feira (21/10).
Instituição com importante contribuição para da cultura da capital federal, a Aruc, como é mais conhecida, além de recordista de títulos no desfile das escolas de samba do carnaval brasiliense, tem, ao longo do tempo, desenvolvido programação regular, voltada para a divulgação do ritmo de maior representatividade da música brasileira.
A programação comemorativa de seis décadas de existência teve início no domingo (17/10), com a coroação da engenheira Gabi Lima como a nova rainha da bateria. Na quinta-feira (20/10), às 19h, haverá recepção de convidados no espaço Nilton Sabino (sede da entidade); no sábado (21/10), desfile da escola na via central do Cruzeiro Velho, a partir das 17h; e, no dia 30, às 19h, o concerto Canta Gavião, na área externa do ginásio de esportes.
Presidente da Aruc desde 2020, o professor de história Rafael Fernandes tem convivido com dificuldades, determinadas principalmente pelo surgimento da pandemia, responsável direta pela baixa arrecadação. “Mesmo com as restrições sanitárias, ao lado da minha equipe, dentro do possível, tenho me empenhado em busca de soluções, ao promover algumas atividades”, destaca. “Seguimos firmes e vamos comemorar os 60 anos da Aruc, fazendo o que sabemos, levando o samba para as ruas, celebrando nossa história e mantendo nosso compromisso de resistência cultural”, acrescenta.
Ligado à Aruc desde o início da década de 1980, o jornalista Moacyr de Oliveira chegou à escola pelas mãos de Hélio Tremendani e Francisco Paulo, o Esquerdinha. Logo passou a participar das atividades. Inicialmente integrou a ala de compositores. “Em 1989, em parceria com o artista plástico Alexandre Lobão, emplaquei o enredo Samba do criolo doido — 10 anos de comédia, fazendo leitura irônica do Centenário da Proclamação da República. De lá para cá, fui autor de 23 sambas-enredo, com os parceiros Siqueira do Cavado e Dilson Marimba”, lembra.
Moa, como é chamado pelos amigos, ocupou vários cargos na diretoria, tendo sido, por seis mandatos, presidente da escola, pela qual conquistou seis títulos de campeã do carnaval brasiliense. Em 1998 escreveu o livro Aruc 36 Anos — Uma história de amor em azul e branco. A Aruc o levou a se aproximar da Portela, sendo responsável pela criação do consulado da agremiação de Madureira (RJ) em Brasília.
Um dos mais antigos integrantes da Aruc é o carioca Welington Campos, o Vareta. Nascido na Vila Vintém, ao lado da escola de samba Independente de Padre Miguel, veio morar no Cruzeiro Velho com a família, ainda criança, em 1961. “Eu tinha cinco anos quando cheguei ao Cruzeiro. Meu pai foi um dos fundadores da Aruc. Fui criado dentro da Aruc, à qual sou ligado há 50 anos. A sede da escola fica próxima da minha casa. Costumo dizer que vivo com a Aruc uma paixão em azul e branco”, afirma.
Presidente da comissão de carnaval e mestre de cerimônia em eventos da instituição, ele, ao mesmo tempo em que se mostra eufórico com a celebração dos 60 anos da escola, deixa claro sua indignação com a proibição da bateria se apresentar depois das 22h, por determinação da Justiça. “Quem quer calar a nossa bateria, pretende apagar 60 anos de história”, afirma Vareta com veemência.
Entrevista / Hélio Trememdani
Tido como memória viva da Aruc, quando assumiu a presidência da escola pela primeira vez?
Em 1974, a Aruc entrou em crise com desclassificação no carnaval. Logo depois, a convite de Roberto Machado, preso a uma cadeira de rodas, acabei aceitando o desafio de organizar o desfile no ano seguinte, que teve como enredo Raízes do nosso povo. Passei, então, a ser colaborador voluntário da escola. Ocupei a presidência entre 1980 e 1984 e voltei em 1994. Tinha planos de transformar a Aruc num clube. Consegui instalar duas piscinas, uma academia, revitalizei os campos de futebol e futebol de areia e o galpão dos ensaios. Fiquei até 1996. A partir dali voltei a ser colaborador.
Com sua participação, quais foram as maiores conquistas da agremiação?
Participei de 26 títulos dos 31 conquistados pela escola. Trouxe para a Aruc a parte relativa ao samba do projeto Temporadas Populares, na década de 1990. Recebemos aqui shows de grandes nomes do samba, entre os quais João Nogueira, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Elza Soares, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho e Jovelina Pérola Negra.
O que falta para a Aruc receber a escritura da área que ocupa no Cruzeiro?
Em 2017, o então governador Rodrigo Rollemberg assinou o termo de cessão da área para a Aruc, mas o Ministério Público invalidou o ato. Agora, estamos em contatos avançados com a Terracap na busca de obter o registro em definitivo. Este é um dos meus maiores sonhos. Pretendemos transformar a Aruc num Clube de Vizinhança, com base no plano original de Brasília.
Como vê a decisão da Justiça do Distrito Federal que proíbe a bateria da Aruc tocar depois das 22h?
A proibição ainda não foi julgada em última instância. Ela levou em consideração a denúncia de um morador que quer calar a bateria da Aruc. Ele, um advogado, que se imagina dono do mundo, acionou a Justiça quando a Aruc estava sem funcionar, por conta da pandemia.
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