ARTES VISUAIS

A história de Ceilândia contada em quadrinhos: da Vila do IAPI ao Metrô

A narrativa usa como pretexto uma viagem de Metrô do Terminal Ceilândia até a estação Central e conduz os personagens de volta à década de 1970

A história de Ceilândia foi contada em filme, canção, rap e cordel. Mas, agora, ela virou história em quadrinhos: Ceilândia: da Vila do IAPI ao Metrô, parceria do roteirista Suelenito dos Santos e do desenhista Neftaly Vieira, em projeto patrocinado pelo FAC (Fundo de Apoio à Cultura). A narrativa usa como pretexto uma viagem de Metrô do Terminal Ceilândia até a estação Central. O trajeto conduz os personagens de volta à década de 1970, quando os moradores da Vila do IAPI foram removidos com seus barracos de madeira para um local distante da Brasília recém— construída.

A Vila IAPI, que deu origem a Ceilândia, foi a maior invasão da história de Brasília. Ela ganhou o nome da sigla Instituto de Pensão de Aposentadoria dos Indústriários porque começou próximo a um hospital da instituição, que ficava perto do atual Museu Vivo da Memória Candanga e se estendeu até a região onde está situado o Guará 2: “As pessoas que moravam na Vila IAPI eram candangos de verdade”, comenta Suelenito. “Eles construíram os monumentos de Brasília com a força do braço. Sou ceilandense e nasci na Vila do IAPI em 1961.”

Os autores distribuíram 980 revistas em 10 escolas da Ceilândia. Suelenito é pesquisador e roteirista. Fez curso de roteiro na Universidade do Ceará. O ilustrador Neftaly Vieira também é ceilandense: “A maioria das pessoas que moravam na Vila do IAPI, que deu origem a Ceilândia, era nordestina. Mas os meus pais eram mineiros. A Vila do IAPI era um conglomerado de barracos dos que vieram trabalhar na construção de Brasília e não tiveram condições de construir uma moradia.”

Segundo Suelenito, os barracos erguidos na Vila do IAPI eram extremamente precários. Alguns candangos cobriam o teto com sacos de cimento, enquanto outros aproveitavam as sobras de madeira utilizadas na construição dos monumentos de Brasília para improvisar as moradias: “Os candangos tinham qualificação para construção, mas não tinham um nível de instrução que lhes permitisse criar uma alternativa profissional. Então, permaneceram na Vila do IAPI.”

A Vila do IAPI começou nos tempos pioneiros da construção da cidade. Mas, em seguida, cresceu porque muitos candangos não queriam retornar aos locais de origem. Em 1971, o governador Hélio Prates da Silveira resolveu transferir os moradores da comunidade para Ceilândia, nome que teve origem na Comissão de Erradicação das Invasões (CEI). Nesta época, Brasília já tinha 500 mil habitantes, população prevista para ser atingida somente no ano 2000: “Nós não entramos no mérito de questões políticas, simplesmente narramos os fatos”, comenta Suelenito. “O ceilandense é, verdadeiramente, candango.”