De nomes consagrados como Murilo Grossi, Murilo Rosa, Françoise Forton, Denise Milfont e Thaís de Campos, passando por Mateus Solano e, mais recentemente, João Campos, Maria Léo (da série Nós), Mariana Nunes e Juliano Cazarré. O que teria toda esta gama de talentos em comum? A formação ou o nascimento em Brasília. Saídos dos palcos ou, de cara, arrebatados pelo audiovisual, confira, abaixo, nomes que engrossam a lista do talento forjado em Brasília.
Foi aos 15 anos, com o vídeo institucional Escola Prevenida, que Rainer Cadete despertou para o audiovisual. Diferentes personagens, ao longo de sete meses, o desafiaram nas gravações. Aos 18 anos, ele seguiu para o Rio de Janeiro, no estudo de teatro, e encontrou o mercado de trabalho. “Tudo despontou no meu desejo pelo audiovisual, e a projeção aconteceu. Fiz faculdade de cinema e cursos livres de audiovisual. Já realizando testes, os diretores passaram a me convidar.
Brasília, pra mim, é a semente, a terra adubada, o cultivo e o crescimento da minha vida artística. Devo tudo à Brasília”, afirma. No cinema, até hoje, ele interpretou 10 personagens. “Comecei com Cine Holliúdi, e vieram Polícia Federal: A lei é para todos, Carcereiros e até o longa italiano O traidor, assinado pelo Marco Bellocchio, e que estreou no festival de Cannes”, comenta.
A primeira experiência como ator foi aos 9 anos, interpretando um liquidificador no Teatro Mapati, como conta, aos risos, com 34 anos. “Aos 15, eu tive minha primeira experiência profissional teatral no Espaço Cultural Renato Russo, sob direção da Adriana Lodi, com a peça Revolução na América do Sul”, do Augusto Boal. Minha base veio toda de lá. Descobri-me como ator, fui ao Festival de Cinema de Brasília assistir A concepção. Vi muitos amigos ali já fazendo cinema, vi a minha cidade nas telas e fiquei apaixonado com a possibilidade de tomar parte do audiovisual”, explica.
Com a reprise da série Verdades secretas, em que interpreta Visky, Cadete está na antessala de reassumir um personagem, passados seis anos, com a gravação de Verdades secretas 2. “Estou superenvolvido com as filmagens, considerando todos os desafios do momento, como os cuidados e os protocolos de segurança. É mais um texto do genial Walcyr Carrasco com direção maravilhosa da Amora Mautner. Passo muito mais tempo com o Visky do que comigo, mesmo (risos). Ele é um corpo político muito importante, livre de estereótipos. Gosto de texto que mostre dualidade dos personagens, que, assim como nós, possuem sombra e luz e um universo interno. Ainda tenho dois filmes para 2021: Virando a mesa e Intervenção, ambos com direção do Caio Cobra”.
Rômulo Braga
Até os 6 anos, o ator Rômulo Braga morou em Taguatinga Norte em uma quadra que não tinha asfalto, feita de terra. Antes de partir para Belo Horizonte, até os 10 anos, ele morou na 409 Norte e, entre os 10 e 16, viveu na 108 Norte. “Quem conhece bem Brasília, sabe bem o quão múltipla, desigual e violenta era a cidade nos anos 1980. Eu sinto que ter transitado por lugares que, numa formação, sensibilizaram meu olhar”, percebe o ator de filmes como Elon não acredita na morte, O que se move, Joaquin e Currais. A possibilidade de questionamentos nutre a realização pessoal. “Gosto da possibilidade de troca, de infinitas maneiras, nos lugares mais distintos. O audiovisual proporciona reclusão, inclusão, trânsito e permanência”, enumera. Rômulo, no fim das contas, acredita que repasse sensações e entendimentos, entre problematizações humanas que tocam o social, a moralidade e políticas. No fim das contas, acho que comecei a entender a atuação profissional como um lugar permissivo para colocar em prática a fabulação, sem ser nocivo à comunidade”, diverte-se, ao falar da carreira que resultou na expressão em filmes como o recente Valentina, No coração do mundo e Carcereiros.
Filmada há dois anos, em Itaquatiara (Amazonas), a adaptação de O adeus do comandante (Milton Hatoum), foi dirigida por Sérgio Machado e coloca Rômulo ao lado de Daniel de Oliveira e Gabriel Leone, todos com personagens apaixonados pela mulher vivida por Sophie Charlotte. Esperando a conclusão de um longa assinado por Carol Marckovics, o ator ainda torce pela estreia da ficção de Lô Politti Sol. “Faço um pai que tem a filha criança morando em outro país e ao acolhê-la, para além das dificuldades do encontro, recebe a notícia de que precisa assinar o possível óbito de um pai que ele nunca conheceu”, adianta.
Carolina Monte Rosa
Hoje, aos 40 anos, a atriz brasiliense começou nas artes, aos 18 anos. Até chegar a fase dos testes para cinema, ela atuou no jornalismo apresentando programas de cultura, política e videoclipe, entre os quais Oficina Mix e Pop Music. Já com papel no longa Chorar de rir (ao lado de Leandro Hassum), encarou o protagonismo em Por que você não chora? (a ser lançado na próxima quinta), drama de Cibele Amaral, estrelado ainda por Bárbara Paz. “É um filme potente, com um tema forte (saúde mental), e participamos de muitas lives, pelo mergulho intenso. Vivo uma estudante de psicologia que aparenta ser apática, mas engole muitos problemas”, comenta a atriz.
Antes de decolar no cinema, a carreira nos palcos trouxe seis peças, em que por seis vezes atuou com preparo feito por Luciana Martucelli. Em 2009, durante cinco anos, encarou a profissão nos Estados Unidos, com direito à realização de mestrado, tendo sido sindicalizada em Los Angeles. Naquela época, figurou em Star Trek, sob a direção de J.J. Abrams, na pele de uma enfermeira. Passada uma temporada em São Paulo, ela atuou nos filmes Eu sinto muito (de Cristiano Vieira), no curta Me deixe não ser (de Cleber Macedo) e deu vida à enfermeira Ana Nery, num filme de realidade 3D, feito para a produtora local Caixote.
Ainda em 2021, uma das metas no audiovisual de Carolina Monte Rosa é concluir o primeiro curta autoral dela, o misto de documentário e ficção Tá tudo bem, que traça contrastes de classes sociais, quando uma mulher de classe alta atua entre moradores de rua. “Me vejo num lugar rico de criação para a mulher”, conta. Ela estará ainda no longa de terror Lucinda (baseado em Machado de Assis, no qual, sob direção de William Alves e Zefel Coffe, interpreta uma baiana que traz consigo a vivência da violência contra a mulher.
Maeve Jinkings
"O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi, desde o primeiro filme, meu maior espaço de debates, de cesso ao que estava sendo produzido no audiovisual — sempre com um natural olhar crítico”, conta a atriz Maeve Jinkings, num retrospecto na carreira do audiovisual. A vocação cinéfila da capital, com o circuito de filmes de arte, foi frequentemente alvo do interesse dela, quando visitava a família da cidade em que nasceu. “Assistir a filmes me ensina muito. Minhas primeiras memórias sobre ser tocada pelas artes estão ligadas à Brasília. Desde os meus 6 anos, meu pai tinha o hábito de nos levar a concertos musicais no Teatro Nacional e na Concha Acústica. Aquilo me impressionava!”, enfatiza.
Protagonista nos dois novos longas paulistanos da diretora Carolina Markowicz (Quando minha vida e Pedágio), Maeve, passada a formação como atriz de teatro; com Carlos Reichenbach filmou Falsa loura, e, na sequência, com Kleber Mendonça Filho o diretor de Bacurau, O som ao redor. Foram papéis que a catapultaram para estar na TV Globo, em que atuou em A regra do jogo. “É impressionante como, após cinco anos, muita gente ainda me aborda para falar da Domingas”, diz, ao falar da personagem que debateu questões de relacionamento abusivo. Nisso, confirmou o eco do audiovisual. “É uma arte de custo alto, mas também com poder de alcance gigantesco, que se expande no espaço e no tempo”, avalia a atriz de Boi neon, Açúcar e Amor, plástico e barulho.
Tulio Starling
No catálogo da Globoplay, a série Hit parade consolida o talento de Tulio Starling que mesmo nascido em Belo Horizonte, se projetou como um dos mais brasilienses atores de teatro e cinema. Depois de imerso no cinema candango, há três anos ele seguiu para São Paulo, uma década depois de dirigido por Bruno Torres, em A noite por testemunha. Em 2018, Tulio abraçou a série Feras (MTV e Globoplay), protagonizada ainda pela brasiliense Camila Márdila e gravada em São Paulo. Mas, a exemplo da participação da produção assinada por José Eduardo Belmonte, O pastor e o guerrilheiro, filme no qual viverá um estudante de direito da UnB, o artista sublinha que “o corpo não deixa Brasília”. “A cidade jamais me perderá: é uma cidade que está dentro de mim. Cresci aí, a partir dos 15 anos, na juventude e no início da fase adulta. Comecei no cinema em Brasília. Carrego a vastidão da capital e a cena teatral, como um todo. Aí, tivemos A Macaca, uma agrupação e mais uma entidade que o grande mestre Hugo Rodas carrega. Ele forja atores e é um grande maestro da criação, da cena e da poesia”, observa o ator de 31 anos.
Depois de tomar parte em filmes como Bula (de Boris Baum), Jeitosinha (2017), O outro lado do paraíso (2014) e Campus santo (2016); com Anna, recente longa de Heitor Dhalia, teve forte participação em fita com tema atual. “Trata de teatro e tem uma história de abuso de poder e de abuso sexual. No filme, sou um forasteiro, o primeiro ator que um diretor encontra, ao montar Hamlet”, observa. Nas futuras presenças nas telonas, Tulio Starling encampa mais dois títulos: uma produção independente, em formato de curta-metragem, encenada ao lado de Jesuíta Barbosa, sobre primos em contato com herança sentimental e familiar, no meio rural; e A porta ao lado, longa de Julia Rezende, ao lado das atrizes Bárbara Paz e Letícia Colin. O novo filme trata da expansão do desejo, independentemente da condição de estados civis.