“Enquanto todo mundo espera a cura do mal/ E a loucura finge que isso tudo é normal/ Eu finjo ter paciência...”. Um dos versos de Paciência, canção de sucesso de Lenine, ganhou ressignificado nos tempos sombrios que o Brasil vive atualmente. A composição, utilizada em uma campanha de conscientização relacionada com a pandemia, chamou a atenção também ao ser reprocessada em remixe pelo DJ e produtor Alok — astro da música eletrônica, festejado nacional e internacionalmente.
Cantor, compositor, arranjador e produtor, Lenine é da geração de artistas pernambucanos posteriores à de Alceu Valença, Geraldo Azevedo e do grupo Quinteto Violado, e anterior à de bandas como Nação Zumbi e Mundo Livre S.A. Em quase 40 anos de carreira, lançou 13 discos — o mais recente, Em trânsito, gravado ao vivo, foi lançado em 2018 e conquistou seis Grammys Latinos, dois troféus da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e nove do Prêmio da Música Brasileira.
Lenine já se apresentou várias vezes em Brasília. De volta à cidade, faz show de voz e violão hoje, às 20h, no Vibrar Parque Gastronômico, na área externa do Ginásio de Esportes Nilson Nelson. No repertório, ele incluiu hits autorais como Aquilo que dá no coração, É o que me interessa, Hoje eu quero sair, Jack soul brasileiro e, claro, Paciência.
Lenine
Show hoje, às 20h, no Parque Gastronômico Vibrar, na área externa do Ginásio Nilson Nelson, Eixo Monumental. Ingresso a partir de R$ 72.
» Cinco perguntas para Lenine
Que avaliação faz dos quase 40 anos de carreira?
Desde o Baque Solto, LP que lancei com Lula Queiroga ainda na década de 1980 (mais precisamente no ano de 1982), permaneci muito objetivamente dentro do que me propus: ser um cara que fazia canções, que documentava essas canções nos álbuns. Fui aumentando esse meu repertório e continuo fazendo isso.
Entre suas composições há algum a de sua preferência?
Por ter essa relação profunda com a minha vida, todo o objeto das minhas composições reflete muito o meu olhar em cada momento em que fiz cada uma dessas canções. Existe uma porção de crônicas que cada uma dessas canções carrega, que ficam como cápsulas de memória. Então, cada uma tem sua peculiaridade. Existe uma memória afetiva de quando fiz e de como eu estava naquele momento.
Paciência é uma canção que reflete os tempos de agora. Quando a concebeu?
Paciência é uma parceria com Dudu Falcão, querido parceiro de tantas outras canções. Eu e ele construímos juntos muitas das minhas baladas, é um parceiro assíduo neste campo. Saiu originalmente no disco Na pressão, em 1999, portanto foi feito bem antes do momento que vivemos agora.
E a volta aos palcos?
Está sendo um retorno depois de dois anos parado. Durante esse um ano e meio, fiz algumas lives em estúdio e na minha casa. Trata-se de um retorno ao palco e isso, para mim, está carregado de magia, de sentimentos. Eu vou tocar (no show) um pouco do meu repertório, que fui criando ao longo desses quase 40 anos de trajetória.
Como você analisa a situação do Brasil hoje?
O país está vivendo um grande caos. Caos esse que eu nunca imaginei poder presenciar. Realmente é impossível projetar algo tão sinistro como o que vivenciamos hoje. A que grau chegamos na desconstrução de tudo que tem a ver com o estado e o descrédito que vem a reboque. Não foi somente na cultura. Andamos para trás num movimento retrógrado impressionante.