As plantas e as florestas sempre tiveram papel de protagonismo no trabalho de Pedro Motta, mas é para os ipês, tão característicos do cerrado, que ele se volta em Uma nota só, exposição em cartaz na Casa Albuquerque Galeria de Arte, no Lago Sul.
Os ipês ganharam um registro especial na série mostrada em Brasília. Fotografados durante a floração, eles ganham um espaço poético quando transformados em imagem. Na moldura, sempre de 45X45 cm, o fotógrafo insere ouro e terra. “O ouro é inserido como se fossem as árvores aflorando e perdendo a sutileza dessas flores. É um estado meio de alucinação, febril, porque os ipês, e acho que todo mundo tem um pouco dessa sensação, é uma beleza de um estranhamento muito grande, parece até artificial em determinado momento do dia, ganha uma potência e um brilho que parece que não é real”, conta o fotógrafo.
Uma nota só reúne 40 imagens de ipês e é resultado de uma pesquisa que Pedro Motta desenvolve há nove anos e à qual deu nome de Espaço confinado. Tudo começou com fotografias de determinadas árvores cujas molduras traziam terra, uma tentativa do artista de criar a sensação de claustrofobia e confinamento. Pensar sobre o deslocamento territorial era uma das intenções, já que as árvores estavam em um lugar e a terra da moldura, em outro.
A série foi desmembrada em várias outras, incluindo um trabalho com carvão e árvores degeneradas ou em estado de falência total, queimadas. Os ipês entraram para o ensaio porque Pedro admira a capacidade de resistência dessas árvores. "Justamente na época do ano que o espaço está mais áspero, na seca absoluta, eles vêm como uma forma de resistência mesmo. Com todo esse maltrato, essa aspereza do meio ambiente e até com o mau trato com o meio ambiente, destruído pela mão do homem, eles vêm mostrar que têm todo um potencial, explodem em determinado momento e acontecem”, diz.
As 40 imagens de Uma nota só são registros de árvores distintas. “Mas quando o observador entrar, ele vai ter que chegar perto de cada um para entender a sutileza desses ipês, desses desenhos realizados para cada um desses trabalhos. É uma floresta de uma árvore só”, avisa o artista.
Uma nota só
Exposição de Pedro Motta. Visitação até 30 de outubro, de segunda à sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 13h, na Casa Albuquerque Galeria de Arte (SHIS QI 05 bl. C lj. 09 - sobreloja)
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