MÚSICA

Gaby Amarantos apresenta novo trabalho: uma imersão na Amazônia futurista

O novo álbum, 'Purakê', tem participações poderosas como as de Elza Soares, Alcione e Dona Onete

Naum Giló*
postado em 06/09/2021 06:00
Metade das canções do álbum estavam compostas até a chegada da pandemia -  (crédito: Rodolfo Magalhães/Divulgação)
Metade das canções do álbum estavam compostas até a chegada da pandemia - (crédito: Rodolfo Magalhães/Divulgação)

A paraense Gaby Amarantos é uma das responsáveis por trazer o tecnobrega e outros ritmos tradicionais da Amazônia para o pop nacional. O primeiro álbum, Treme (2012), foi um marco para a música, com hits dançantes e divertidos que mostraram para o Brasil o que a periferia de Belém estava consumindo e produzindo naquele momento.

De lá para cá, Gaby ganhou espaço na mídia e estreou como apresentadora no Saia justa, do GNT, ao lado de Astrid Fontenelle, Pitty e Mônica Martelli, além de inúmeras participações em outros programas de televisão. Dona de um vozeirão, a cantora sempre usou a sua visibilidade para levantar bandeiras, como o feminismo e a luta contra o racismo, nunca deixando de lado a sua origem humilde no bairro do Jurunas, periferia da capital paraense.

Após o sucesso de Treme, Gaby vinha sofrendo pressão dos fãs para o lançamento de um segundo trabalho de estúdio. Com uma “gestação de elefante”, como ela mesma define, o Purakê, já nas plataformas digitais, vinha sendo maturado pela artista há alguns anos. “Eu não cedi à pressão dos meus fãs. Esperei o momento certo e as parcerias certas para lançar o meu trabalho”, afirma Gaby, que é compositora de todas as 13 faixas do álbum.

Chama a atenção a quantidade de parcerias no disco. São, ao todo, 11 cantores dividindo os vocais com Gaby ao longo do álbum. A primeira faixa, Última lágrima, une a santíssima trindade de mulheres negras da música brasileira: Elza Soares, Alcione e Dona Onete.

Amor pra recordar, parceria com Liniker, uma das maiores vozes da nova geração e que está incluído no álbum, foi lançado mês passado com um clipe cinematográfico, de arrancar lágrimas, em uma homenagem comovente às mulheres ribeirinhas, com participação da irmã, da sobrinha e do filho de Gaby.

Outras duas faixas do álbum também foram apresentadas anteriormente, como Vênus em escorpião, um brega punk lançado em novembro de 2020, com participação de Ney Matogrosso e Urias, e Tchau, com Jaloo, que assina a direção musical de Purakê. Também participam do disco Luedji Luna, na faixa Opará; Potyguara Bardo, em Sangrando; e Leona Vingativa e Viviane Batidão, no fervoroso Arreda, um grito de afirmação do tecnobrega. “Abre a roda, tecnobrega é foda”, diz o refrão.

Um fato interessante é que metade das canções do álbum estavam compostas até a chegada da pandemia. A outra metade foi feita a bordo de um barco no Rio Tapajós, onde também foi elaborada a produção musical do Purakê. “Esse álbum foi feito a partir de experiências imersivas na floresta”, detalha Gaby.

Além dos estereótipos

O nome do álbum é uma alusão ao poraquê, peixe-elétrico pré-histórico amazônico, cuja descarga pode chegar a 860 volts, conceito presente na estética visual da obra, que mistura a natureza com a tecnologia. “A proposta é pensar em uma Amazônia futurista e afroindígena. É pensar nessa Amazônia para além dos estereótipos. A gente gosta de servir conceito para a galera!”, brinca Gaby, ao comentar sobre a capa do disco, que a exibe num figurino assinado pelo paraense Fabrício Neves, envolvida por fios elétricos e aningas, vegetação comum às margens dos rios amazônicos e típica da região de Belém.

Para além da sonoridade ímpar de Gaby Amarantos, que parte do imaginário das paisagens e vivências da região norte do Brasil, Purakê é um álbum visual. Cada faixa conta com um conteúdo animado feito à mão, conhecido pelo conceito de clipelizer, e produzido por profissionais como o paraense Lucas Gouvêa e Luan Zumbi.

A artista ressalta que o álbum tem como proposta mostrar para as pessoas que a Amazônia é mais do que aquilo que elas sabem convencionalmente. “As pessoas conhecem calypso, tecnobrega e o carimbó, mas o álbum propõe mostrar para além disso. Quem são essas pessoas que vivem ali e com o que elas estão conectadas?”, questiona Gaby. “A mensagem é essa: nós da Amazônia estamos propondo música para o futuro, propondo coisas que ninguém ainda pensou, com muita coragem e autenticidade, sempre conectados com a nossa essência”, acrescenta.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

» Saudade de Brasília

Gaby tem um carinho especial ao falar do público de Brasília, com quem teve contato nas diversas vezes que veio tocar na cidade, com os sucessos de Treme. “Foram shows incríveis, com multidões, com as pessoas sempre me recebendo com muito amor. Lembro-me de ir à feira, de olhar para o céu, admirar o pôr do sol da cidade e de ficar encantada. Tenho muita vontade de fazer uma imersão cultural em Brasília”, confessa a artista.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação