Teatro

Audiopeça brasiliense reflete sobre os limites da tragédia e da comédia

Produção inteiramente brasiliense, Frila conta a história de um homem vaidoso que escreve cartas para suicidas

De olho no crescimento dos podcasts, o publicitário Fernando Portela decidiu transformar um texto escrito antes do início da pandemia em audiopeça para plataforma de streaming. A história de um homem que escreve cartas de despedida para suicidas acabou por se transformar na peça Frila, disponível no Spotify.

Portela conta que a peça funciona como uma metáfora dos tempos pandêmicos vividos pelo planeta. Muito vaidoso, o personagem Paulo escreve uma primeira carta que é encontrada por uma amiga. Ele não se suicida, mas a amiga gosta tanto do material que pede para usar ela mesma as palavras de Paulo.

A habilidade em falar de si mesmo, carregada de certo narcisismo, ganha fama e o personagem começa a receber pedidos. Ao escrever as cartas para desconhecidos, Paulo se torna um escritor free-lancer de despedidas suicidas, que podem ser usadas ou não. “O suicídio é só um cenário”, avisa Portela. “Quando a gente vive situações absurdas, a gente tem que fazer uma alegoria para entender o que estamos vivendo.”

O autor explica que o texto tem a ver com o conceito de felicidade líquida do filósofo Zygmunt Bauman. “Na nossa era, precisamos da aceitação da felicidade. E a peça pensa como seria a tristeza líquida, como dar significado para minha vida na morte. E fica naquele limite da tragicomédia, você não sabe se é tragédia, comédia”, garante.

A produção foi inteiramente realizada em Brasília e tem direção e produção de Fernanda Pinto, da Solo Produções. São nove atores que, durante 18 minutos, interpretam o texto de Portela. Frila pode ser ouvida tanto no YouTube quanto no Spotify.