Durante este fim de semana, as favelas do Brasil tomam a internet com o festival Favela Sounds. O evento do Distrito Federal sai do centro e, por meio de uma plataforma própria, apresenta shows, conversas, oficinas e atrações de periferias de todas as regiões brasileiras. Iniciado na última quarta, o Favela Sounds vai até domingo oferecendo visibilidade à cultura das quebradas do país.
Com um site próprio, o festival buscou criar uma experiência imersiva pelos estados brasileiros. Cada programação está presente no estado de origem de sua atração, com isso o usuário passeia pelo Brasil para acompanhar o evento. Ainda preocupada com a pandemia, a organização achou este formato para conseguir realizar o Favela Sounds e ainda passar uma mensagem de união das periferias do Brasil. “Veio a ideia de explorar a pluralidade e diversidade desses territórios, apresentado ao público um pouco de como essas favelas são essenciais para formação da identidade do brasileiro e como eles estão, constantemente, moldando nosso dia a dia, seja na criatividade, seja na moda ou até mesmo na forma que falamos”, explica Amanda Bittar, cofundadora do Favela Sounds e uma das curadoras desta edição.
“Nos entendemos enquanto plataforma de produção de conteúdo e compreendemos o poder do Favela Sounds como produtor e difusor de conteúdo”, pontua Amanda sobre a importância de encontrar um formato para realizar o festival. Outra decisão incorporada a edição de 2021 é que os conteúdos ficarão disponíveis para serem assistidos depois do fim do evento. “Acredito que manter esses conteúdos para a posteridade é uma das grandes oportunidades que temos, além, claro, de podermos ampliar imensamente o nosso alcance — agora não acontecem só para o DF, mas para o Brasil e para o mundo”, avalia a curadora.
Contudo, toda essa nova organização tem o único e exclusivo foco de difundir a cultura que vem das favelas e, para isso, foram escolhidos artistas como Tássia Reis, Tuyo, Jup do Bairro, MC Mari, Dama do Pagode, Ellen Oléria, Vinicius de Oliveira para cantarem as próprias vivências. “Acho que não exagero em nada quando digo que a música de favela faz parte do DNA do Brasil”, afirma Amanda Bittar que, ao lado da equipe do Favela Sounds, faz um trabalho intenso e in loco de acompanhamento de tendências nas periferias do Brasil para chegar aos nomes que compõem cada edição do festival.
“A favela é a resposta de que o sistema falhou e as nossas criações conseguem demonstrar que a arte ainda pode ser uma das principais ferramentas de transformação”, analisa Jup do Bairro sobre a música de periferia. A cantora, nascida e criada no Valo Velho, distrito do Capão Redondo, extremo sul de São Paulo, aponta que a principal característica do Favela Sounds é dar a possibilidade de a cultura da favela ser mais do que só da favela. “O Favela Sounds é um dos principais festivais com enfoque na criação de imaginários possíveis. Não só dando protagonismo ao ‘representante daquela representatividade’, mas aguçando os criadores e criadoras das periferias a criarem movimentações”, reflete a artista que se apresenta hoje às 21h20, direto de Paraisópolis, favela de São Paulo.
O festival dá oportunidades, abre espaço e, nesta edição, apresenta a produção de cultura direto do local em que ela começa, direto da fonte. “Estou muito feliz em representar o funk e o brega, principalmente por ser nordestina e mulher, dominando um ritmo de fora do meu cotidiano e levando também o brega do meu nordeste para o mundo”, conta MC Mari, que cantou no dia de abertura do evento. “Vamos espalhar a arte e nos unir por meio da música. Mostrando que as favelas muitas vezes não são aquilo que pintam. Nós somos a luta”, acrescenta a MC que fez o show em Nordeste de Amaralina, bairro de Salvador, Bahia.
*Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira