LITERATURA

Obra sobre Glenio Bianchetti inaugura coleção com nomes da cultura brasiliense

Escritoras Marcia Zarur e Ana Maria Lopes assinam o primeiro livro da coleção Mestres Cobogó sobre os grandes nomes que construíram a cultura brasiliense, em série dirigida especialmente ao público infantojuvenil

A proximidade com a família Bianchetti, integrada pelos produtivos artistas plásticos Glenio e Ailema, inspirou a dupla de escritoras Marcia Zarur e Ana Maria Lopes na criação do livro Glenio Bianchetti, primeiro dos volumes da coleção Mestres Cobogós. “A família era vizinha de porta dos meus avós, na 305 Sul, daí tive o privilégio de tê-los como uma espécie de família estendida. Fizemos a publicação com muito esmero, para divulgar a importância desse artista para as novas gerações”, conta Marcia Zarur.

Com reconhecimento internacional, o pintor, gravador e ilustrador gaúcho escolheu Brasília como a casa dele e foi um dos fundadores da Universidade de Brasília (UnB). “Bianchetti deu contribuição inestimável para a cidade. A obra dele encanta pelas cores, únicas, e pelos temas retratados. São cenas do cotidiano, trabalhadores ganhando a vida, o mar com barcos coloridos e pescadores, além do registro da alegria do circo. Ele usou o pincel como ferramenta para despertar emoções e reflexões”, destaca Marcia Zarur.

Dezenas de imagens das obras estão nas 50 páginas do livro gestado no Coletivo Editorial Maria Cobogó, com 14 livros publicados, ao longo de três anos.

Artes da cidade

“Vamos contemplar, em futuros livros, todas as artes que compuseram a cidade. Com tiragem de 250 exemplares paga pelo grupo, criamos o primeiro livro, de capa dura e imagens belíssimas com cores fiéis à obra do Glenio. Buscamos patrocínio para uma maior tiragem e para a distribuição da obra nas escolas públicas do DF”, explica a coautora do livro Ana Maria Lopes. Há pesquisas em andamento para o recontar da vida de outros artistas.

O Coletivo Maria Cobogó pretende publicar 10 livros sobre personagens cruciais para a cultura de Brasília. A lista inclui Darcy Ribeiro, Joaquim Cardozo, Burle Marx, Renato Russo, entre outros: “São pessoas que ajudaram a fazer essa cidade tão linda como é”, comenta Ana Maria Lopes. O projeto é voltado para o público infantojuvenil, na faixa de 8 até 14 anos, mas pode ser lido por pessoas de todas as idades: “Na quarta série, estuda-se Brasília”, comenta Ana. “Fala-se muito da arquitetura, mas não a cultura que viceja na cidade.”

A profusão de imagens de cores fulgurantes e de alta qualidade gráfica contribui para construir a narrativa. A intenção é que as escolas públicas recebam os livros para que conheçam a cidade com outros olhos e tomem conta dela com a consciência de toda a força cultural brasiliense. “Fica entre a arte e a educação”, enfatiza Ana.

Orientação pedagógica

O primeiro volume de Mestres Cobogós vem dentro de sacola personalizada e traz o bônus de um fantoche (concebido pela viúva Ailena; Bianchetti morreu em 2014) e um encarte com dicas pedagógicas para melhor aproveitamento da leitura: há até orientações de como criar tinta com terra e beterraba. “É livro de arte, com muita ilustração e traz a trajetória do Bianchetti desde a fundação do Clube da Gravura de Bagé (RS) até a circulação em Porto Alegre; mostra a vinda dele para Brasília, convidado pelo Darcy Ribeiro, na fundação da UnB; há registro de toda a biografia, com todos os prêmios conquistados — tudo contado de forma muito acessível”, observa Ana Maria Lopes.

Entre outros feitos, além de professor, Glenio teve contribuições na criação do Museu de Arte de Brasília (MAB) e viu o Palácio do Itamaraty abrigar exposição de retrospectiva da obra dele. Com interesse pelo abstracionismo, o artista aderiu ainda aos estilos expressionistas e cubistas.Imprimir uma leitura com sabor mais cotidiano e apresentar a escala humana de Bianchetti esteve entre os cuidados.

Amiga do artista, desde os anos de 1960, Ana Maria sintetiza a pretensão do livro editado. “Foi dado um tratamento muito especial para o design que registra as obras dele, e contamos a história do Glenio, desde que começou a vida artística, em teatros e praças de Porto Alegre. É uma obra que fala por si. Ele era extremamente delicado, era um ser humano íntegro, e isso reflete na obra que é recheada de afetividade com relação à natureza, às pessoas e, principalmente, aos trabalhadores”, conclui a também poeta e escritora.

O aspecto que Ana destaca na arte de Glênio é uma humanidade muito intensa. Ele pintou natureza com muita inspiração, mas o principal é a beleza que ele viu nos trabalhadores. Pinta os pescadores, os artistas do circo, os operários, com puro encantamento. “Essa humanidade que ele traz pelas artes plásticas é a grande riqueza que nós temos. As cores dele são tão fortes que encantam. Quem vê um quadro do Glênio não fica passivo, é atingido pela beleza da obra.”


Glenio Bianchetti
Livro de Marcia Zarur e Ana Maria Lopes é o primeiro volume da coleção Mestres Cobogós. Pelo Coletivo Editorial Maria Cobogó, 50 páginas, R$ 85 (capa dura).

» Próximos volumes da Coleção Mestres Cobogós

» Athos Bulcão
» Dulcina de Moraes
» Renato Russo
» Cássia Eller
» Burle Marx
» Bruno Giorgio
» Alfredo Cheschiatti
» Joaquim Cardozo
» Darcy Ribeiro

Prêmios do Coletivo Maria Cobogó

» Projeto Calango Leitor, coordenado por Claudine
» Finalista do Prêmio Jabuti 2017
» Fios
» De Chis Nóbrega
» Finalista do Prêmio Jabuti de 2020

Maria Cobogó

» O Coletivo brasiliense, formado por mulheres, está celebrando três anos de existência e muitas realizações. O grupo nasceu em agosto de 2018 com a utopia de dar visibilidade à literatura do DF. Estreou com o lançamento de sete livros, lotou o Beirute, acabou com o quibe e vendeu 700 livros. Nos três anos de vida, Maria Cobogó lançou 14 livros de escritoras brasilienses, a maioria poetas. O foco do coletivo é a literatura e a formação de leitores. Emplacou dois finalistas no Prêmio Jabuti. Em 2021, Maria Cobogó publicou o primeiro livro de um homem, Alquimia urbana – Brasília, urbanismo
e outras cidades, de Geraldo Nogueira Batista.