Foram necessários dois anos, uma pandemia capaz de forçar uma nova linguagem cênica e um encontro inusitado para chegar a Depois do silêncio, dirigido por Eliana Carneiro e Rogero Torquato. Em cartaz até domingo no canal do YouTube de Eliana, o projeto narra a história da menina Helen Keller. Surda e cega desde a primeira infância, a personagem conta com a professora Anne Sullivan para aprender a língua de sinais e se comunicar com o mundo exterior.
Construída a partir de uma mistura entre dança e teatro e protagonizada pelas atrizes Camila Guerra e Naira Carneiro, Depois do silêncio traz a história real do encontro entre Sullivan e Keller no final do século 19. As duas se tornariam ícones do movimento pelos direitos das pessoas com deficiências auditivas e visuais. O processo de criação do espetáculo começou há dois anos, durante uma adaptação do texto The miracle worker, do americano William Gibson. Camila e Naira participaram da montagem sob direção de Rogero Torquato em trabalho com o Grupo de Pesquisa Cênica do Sesc-DF. Eliana Carneiro fazia a direção corporal do espetáculo.
O desejo de se aprofundar na pesquisa levou a Depois do silêncio. “Naira e a Camila resolveram fazer um projeto do mesmo espetáculo, mas sem texto, em (linguagem de) Libras e totalmente corporal, com dança. Então, essa nova montagem é completamente diferente. E eu quis muito trazer uma atriz surda para dar uma contextualização da atualidade, do que é ser surdo, viver nesse mundo a partir da surdez”, conta Eliana, que convidou Renata Rezende para fazer parte do elenco.
No palco, ela reproduz relatos de pessoas de seu próprio contexto social. “A ideia era entender o que aconteceu nesse período de 100 anos pra frente, entender se houve algum tipo de evolução nesse mundo da acessibilidade. A gente criou um universo paralelo à história da relação da Helen e Anne. Tem alguns poucos textos, e a língua de sinais acontece simultaneamente.”
O espetáculo foi filmado no Complexo Cultural de Planaltina e o vídeo traz diálogo intenso com o cinema em imagens realizadas por Felipe Duque. Gabriel Guirá trouxe a videoarte inserindo a relação entre a encenação e formas geométricas com linhas que desenham os espaços nos quais as performers transitam. “Tem todo um simbolismo, uma troca muito grande com as espacialidades, as direções, as formas e como o corpo reage a tudo isso”, avisa Eliana, que encara a montagem como um processo de aprendizado.
“No início, a gente achou que a relação seria difícil, mas as coisas foram fluindo muito livremente. A gente conseguiu se comunicar muito bem, estamos aprendendo muito. Essa experiência verdadeira de inclusão nas artes tem sido um ganho incrível”, conta.
Helen Keller era menina quando perdeu a visão e a audição. Durante uma parte da infância, não conseguia se comunicar, até que os pais aceitaram a ajuda de Anne Sullivan, que chegou a ficar cega, mas recuperou a visão após série de cirurgias. Anne ensinou a língua de sinais a Helen por meio do tato. As duas acabaram por trabalhar juntas e Helen se tornou a primeira cega e surda a frequentar uma universidade nos Estados Unidos. “É uma história de superação e força”, diz Eliana.
Depois do Silêncio
Direção: Eliana Carneiro e Rogero Torquato. Com Camila Guerra, Naira Carneiro e Renata Rezende. Hoje e amanhã, às 21h, e domingo, às 20h,no canal do YouTube de Eliana Carneiro e mídias sociais do projeto.