LIVRO

O mundo de Ariel

Ariel — a travessia de um príncipe trans e quilombola é a sexta publicação literária da carreira do jovem escritor Jared Amarante. Desta vez, a trama é voltada para os públicos infantil e adulto. A publicação é pela editora Giostri, conhecida por ter no catálogo diversos dramaturgos brasileiros. Também é a primeira vez que o escritor usa a nova assinatura literária, pois, em seus livros anteriores, feitos pela editora Multifoco, usava o pseudônimo Gui Barreto.
Construída de forma lúdica e criativa, a narrativa retrata a vivência e os conflitos internos vividos por Ariel, chamado de Ariele pelos pais. Trata-se de um menino trans, gordo e preto, que, mergulhado em seu mundo, é levado a percorrer sua ancestralidade no Quilombocéu, em uma jornada de autoafirmação, enfrentando medos, angústias e ansiedades expressas em seus desenhos, que simbolizam suas experiências negativas na Terra.
No Quilombocéu, onde o garoto vai parar depois de sofrer transfobia do próprio pai, Ariel é aceito e coroado príncipe da paz. A coroa é um pente garfo, entregue pelas mãos de Deus. O quilombo, que expressa a concepção do autor sobre o que seria o paraíso celestial, é um lugar caracterizado por igualdade, resistência, força e segurança. É lá que Ariel se reafirma como um menino trans.
“Sempre quis fazer uma obra lúdica, principalmente com um personagem como Ariel, que está naquele momento crucial da infância para a construção da autoestima”, confessa Jared, que não definiu uma idade exata para o protagonista, mas afirma que Ariel seria uma criança com a idade entre oito e nove anos.
Amarante assinala que a questão da transsexualidade ainda sofre com a invisibilização, mesmo dentro da comunidade LGBTQIA+. “Se eu, como homem cis, branco e magro, faço nada a respeito disso, eu estou contribuindo para a manutenção dessas violências”, estabelece o escritor, que revela também ter sofrido violências por conta da sexualidade durante a adolescência, na escola, quando já tinha o costume de escrever e participar de saraus. “A literatura que me salvou de um suicídio”, confessa.
Prefaciado pelo psicólogo e especialista em gênero e sexualidade, Welington Oliveira, o livro conta com ilustrações de Nathan Henrique. Com uma pegada também jornalística, a obra traz entrevistas com homens e mulheres trans. A cantora e compositora Jup do Bairro, vencedora do prêmio Multishow 2020; Tarso Brante, que atuou na novela da Globo A força do querer, Thales Alves, que participou do reality show Masterchef Profissionais; a atriz, modelo e militante Viviany Beleboni; e a jornalista e repórter Lisa Gomes contam um pouco das suas trajetórias, sonhos e dificuldades na obra.

*Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira