Lançamento

Ricardo Pipo reafirma o humor, entre canções, projetos e memórias

Em conversa descontraída com o 'Correio', o multiartista Ricardo Pipo fala sobre o atual projeto, mudanças, saudades e momentos marcantes da carreira

O ator e humorista Ricardo Pipo lançou nas plataformas digitais o primeiro trabalho musical, a canção brega Deus lhe pague com juros e correção, em parceria com Nilo Barreto, do projeto Feat. Encarnando o personagem Sebastião, Pipo começou essa nova etapa da carreira durante a pandemia, como uma terapia pessoal, resultando no projeto do primeiro álbum, ainda em construção, Pantufas com motivos musicais.

“Meu pior pesadelo nesta pandemia foi o fechamento dos teatros e cinemas. Se eu tivesse de definir meu inferno pessoal, seria esse. Então, ou a gente morre de depressão ou cria algo, e eu comecei a criar conteúdos”, contou.

No começo, o processo de criação e composição era para ser apenas uma brincadeira, porém o resultado superou as expectativas, e Pipo resolveu gravar todas as músicas e um videoclipe. “Comecei a brincar de compor bregas para, no fim, gravar apenas uma música, mas o resultado ficou tão bom que me animei. Fui apresentado a Nilo Barreto, do projeto Feat, que é o responsável pelo arranjo da música. Foi um encontro fantástico, pois ele entendeu na hora o que eu queria, a ideia do projeto e fez o arranjo. Foi uma conexão muito rápida e muito boa.”

O estilo de música brega é algo que Pipo estuda há anos em virtude do teatro. Ele contou que, antes de qualquer peça d’Os Melhores do Mundo, a música era importante para a ambientalização das cenas e para colocar o público em sintonia com o grupo. “Cada peça tem sua trilha, e isso faz uma diferença na hora de entrar no palco. Antes do espetáculo Notícias populares, nós tocávamos bregão, como: Eu não sou cachorro não, Fuscão preto, entre outros. E isso coloca o público em um clima muito legal antes de começar a peça; deixa o ambiente mais leve e descontraído”, completou.

Pipo foi convidado pelo colega Igor Silveira para tocar na banda brasiliense Brega e Rosas, e a proximidade com o estilo musical se ampliou. “Fiquei namorando o brega e, assim, surgiu o projeto. Estou vendo as reações do público e feliz com o resultado.” O álbum ainda está em construção e deve ter de 10 a 12 faixas, todas com material audiovisual e convidados. “Não quero ganhar um centavo com isso, mas parir um disco, que é um processo muito interessante. O resultado da música é um milagre. Depende de tudo para dar certo no fim, e ficar bom é pura sorte.”

O humorista e, agora, cantor destacou que Sebastião é apenas um personagem fictício da era brega. “Sebastião é muito cafajeste e canalha, é um homem romântico, porém burro. Essa é a linha do disco. A ideia é repetir o mesmo solo em todas as músicas, para deixar a marca registrada.” A inspiração do nome do personagem veio do pai do humorista, em virtude da sonoridade da palavra.

Os planos futuros para o projeto incluem shows e teatro ainda neste ano. “A ideia é criar um pocket show em que eu cante a partir da base do playback, para que eu possa me apresentar sozinho, em lugares onde os bregas se apresentariam. E vou criar um espetáculo biográfico para o teatro também, com banda e elenco, para contar a história do teatro a partir das músicas”, finalizou.

A trupe

Pipo faz parte d’Os Melhores do Mundo há mais de 25 anos. O grupo, formado por amigos de longa data, está com as apresentações paradas em virtude da atual situação sanitária. “O grupo parou completamente. Entramos com recurso no Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para manutenção de grupos, para pagar aluguel da sala onde guardamos figurinos e diversas coisas, mas nos endividamos ao longo do ano, e o grupo quebrou. Temos a expectativa de que as coisas voltem. Eu não conseguiria subir no palco e fazer graça, difícil isso acontecer, e ainda com uma plateia à minha frente, eu me sentiria um criminoso.”

Ao longo do período de isolamento social, a companhia fez algumas apresentações on-line e teve a experiência de se apresentar no formato drive-in, algo diferente para eles. “É uma mistura de cinema e teatro, uma loucura. Não é a mesma coisa, mas a experiência foi muito legal, pois vi que as pessoas ficaram felizes em sair de casa e rir um pouco. Eu vacinei com a primeira dose, só quando o público estiver vacinado a gente volta, mas é tudo muito incerto.”

Pipo relembrou momentos marcantes da carreira e destacou um episódio na presença de Chico Anysio, uma referência para o brasiliense. O grupo se preparava para se apresentar em São Paulo e foi avisado de que o humorista estava na plateia. Após o espetáculo, Chico foi ao camarim e deu dicas para eles, que foi o momento alto da peça no dia seguinte. A companhia aproveitou e convidou o humorista para narrar a voz de Deus em outro espetáculo.

“Falamos do espetáculo Hermanoteu na Terra de Godah, que tinha a voz de Deus em off e o convidamos para gravar, mas com medo de quanto custaria, só que ele não cobrou nada e ainda perguntou ‘onde mais eu poderia ser Deus?’. Ele não só gravou como também participou do curta-metragem A espera da morte, disponível no YouTube. Foi de madrugada, estava muito frio, e ele lá, sem reclamar de nada, interpretando maravilhosamente”, lembrou.

Pipo também adiantou que, em novembro, o filme Hermanoteu estará nos cinemas. “Estamos muito ansiosos para esse momento e para ver como o público vai reagir. Vai ter cenas no deserto do Atacama, confrontos no Coliseu, está muito legal.”

Para enfrentar a pandemia, Pipo comentou que rir foi um remédio para ele, assim como para muitos brasileiros. “Eu consumo muito humor para meu bem-estar, é minha válvula de escape.”

Atualmente, Pipo está mora no Rio de Janeiro, pois “o amor me trouxe para cá”. Mesmo assim, o artista não deixa de mencionar lembranças da capital federal. “Quando falamos de Brasília, a primeira coisa que as pessoas pensam é na Esplanada dos Ministérios, pois é o que aparece na televisão e é o último lugar a que eu iria. Estou com saudades de ficar embaixo de um bloco, nos gramados entre as quadras, andar pelo Plano Piloto”, disse.

Apelido que pegou
Ricardo Pipo ficou conhecido por esse nome, mas poucas pessoas sabem que ‘Pipo’ é referência a um palhaço. Depois de participar do desafio da noite no Jogo de Cena como palhaço, as pessoas começaram a chamá-lo de Pipo, e pegou. “Apelido que você não gosta é para sempre. É melhor assumir. Eu nunca me identifiquei muito com meu nome, então Pipo já faz parte de mim.”

*Estagiária sob supervisão de Michel Medeiros