No limiar de 2020, Hamilton de Holanda estabeleceu uma meta para si, enquanto compositor, que viria a cumprir integralmente, criar uma música por dia no decorrer do ano. Parte desse material ele usou recentemente no álbum Maxixe samba groove, que se reveste de outra curiosidade. Na gravação das oito faixas do disco, ele utilizou um bandolim de 10 cordas, construído com madeira salva do incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, pelo luthier e bombeiro Davi Lopes.
O disco, que tem lançamento previsto para outubro, nas plataformas digitais, traz composições como Afrochoro, Chorofado, Tá nascendo flor no asfalto e a que dá título ao projeto. Com esse bandolim, Hamilton fez show no último dia 7, na Cidade das Artes, complexo cultural localizado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro; e se apresenta hoje, às 20h, em Brasília, pelo projeto Vibrar — Complexo Gastronômico Open Air, instalado na área externa do Ginásio Nilson Nelson, no Eixo Monumental.
Em Hamilton de Holanda toca Tom Jobim — este é o nome do espetáculo — o bandolinista é acompanhado por Salomão Soares (piano elétrico) e Big Rabelo (bateria), e tem como convidada especial a cantora Roberta Sá. O repertório reúne clássicos da obra do Maestro Soberano, entre as quais Águas de março, Borzeguim, Desafinado, Luisa, Passarim, Por causa de você, Sabiá e Wave.
Durante o longo período que ficou longe dos palcos, devido à pandemia, o instrumentista carioca que iniciou a trajetória artística na capital federal, além de se dedicar à composição, esteve à frente de um curso on-line, intitulado Princípios de improvisação da música brasileira. Segundo ele, voltar a tocar em Brasília é algo que sempre lhe dá uma motivação a mais. “Estou há quase dois anos sem fazer show na cidade onde, musicalmente, foi meu ponto de partida”, comenta. “Que bom que essa apresentação será num projeto ao ar livre, na qual, Roberta Sá e eu vamos mostrar novas versões para clássicos da MPB, com a assinatura do genial compositor Antônio Carlos Jobim”, acrescenta.
Show de Hamilton de Holanda e Roberta Sá
Hoje, às 20h, pelo projeto Vibrar, na área externa do Ginásio Nilson Nelson. Abertura dos portões às 17h. Ingressos de R$ 54 a R$ 120, à venda pelo aplicativo Sympla.
Entrevista com Hamilton de Holanda
Você apadrinhou o bandolim de 10 cordas, construído com madeira salva do incêndio do Museu Nacional. Como o instrumento chegou às suas mãos?
Um grupo formado pelos jornalistas Vinicius Donola, Roberta Salomone e o cantor e compositor Paulinho Moska, entre outros, criou o projeto Fênix, que tem se dedicado a ajudar na reconstrução do Museu Nacional, que sofreu incêndio em 2018. Outro que está empenhado nesse propósito é o bombeiro Davi Lopes que, mesmo sem estar de plantão naquele dia, voluntariamente se juntou aos que lutavam para apagar o incêndio. Entre as coisas que ele salvou estavam madeiras. Como ele também é um luthier, tem construído instrumentos que são leiloados, com renda destinada ao Fênix. Quando o Moska me trouxe o bandolim e me contou a história, fiquei muito emocionado.
Como agregou a madeira do museu ao instrumento?
Originalmente, era um bandolim de oito cordas. Como há alguns anos uso o bandolim de 10 cordas, pedi ao Davi Lopes para ele construir outro instrumento, no qual utilizou jacarandá da Bahia de 200 anos, no fundo e nas laterais, que era da antiga bilheteria do museu; e na tampa, restos de um móvel da família real. Recebi o instrumento em maio e pedi a ele para fazer alguns ajustes. Depois disso, passei a tocar e decidi utilizá-lo na gravação do meu novo disco.
Quando decidiu gravar o disco já tinha músicas compostas?
Um pouco antes do início de 2000, estabeleci a meta de compor uma música por dia, até o final do ano. Como 2020 foi um ano bissexto, compus 366 temas. Quando vi que havia chegado a hora de começar a gravar o disco, escolhi oito temas que tinham ligação com o choro, o gênero musical que marcou fortemente o início da minha carreira em Brasília. Foi difícil a escolha, pois havia outras em que há predominância de ritmos nordestinos, que gosto bastante. O lançamento nas plataformas digitais está previsto para outubro, mas já posso adiantar o título de algumas delas: Afrochoro, Chorofado, Tá nascendo flor no asfalto e Maxixe samba groove, tema que dá nome ao projeto. A foto da capa conecta com uma mensagem de esperança.
Além de se dedicar a composições, o que andou fazendo ao longo da quarentena determinada pela pandemia?
Eu me dediquei também ao curso on-line que venho ministrando ao qual dei o nome de Princípios de improvisação na música brasileira. Há a participação de 400 alunos do Brasil, países da América Latina, Estados Unidos, França, Rússia e Japão. Tem sido uma experiência fascinante levar nossa cultura musical a pessoas de outros continentes; e fico muito feliz ao constatar o interesse que as aulas têm despertado nessas pessoas.
Sempre com a agenda cheia de compromissos, principalmente com turnês pelo exterior, como foi ficar distante dos palcos por período tão longo?
Estar no palco é algo que faz parte da minha vida há vários anos. Não via a hora de voltar a tocar, a fazer show. Depois da flexibilização, meu primeiro show foi na Cidade das Artes, aqui no Rio de Janeiro. Tinha apresentações marcadas para o Blue Note, em São Paulo, mas foram adiadas para o começo de outubro.
Voltar a fazer show em Brasília após mais de um ano tem significado especial para você?
Tocar em Brasília sempre tem um significado especial, pois estou voltando para casa. Eu me emociono muito, pois sei que o show vai ser assistido por pessoas que acompanham minha carreira há vários anos. E no show que vou fazer agora, tenho uma responsabilidade a mais, porque é um tributo ao genial compositor e maestro Antônio Carlos Jobim.
É a primeira vez que tem Roberta Sá como convidada?
Com a Roberta, fiz shows no Brasil e turnê pelos Estados Unidos. É uma grande cantora, grande intérprete das canções de Tom Jobim.
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