Cinema

'Encarcerados': documentário apresenta visão humanizada prisões no Brasil

Baseado em livro de Dráuzio Varella, o filme expõe o estado do sistema penitenciário do país a partir do ponto de vista dos carcereiros

Pedro Ibarra*
postado em 26/08/2021 12:49 / atualizado em 26/08/2021 12:53
 (crédito: Spray/Gullane/Divulgação)
(crédito: Spray/Gullane/Divulgação)

A melhor forma de entender uma realidade é viver nela. Pensando neste sentido, o documentário Encarcerados apresenta a situação do sistema penitenciário brasileiro explicado por quem convive com ele diariamente: os carcereiros. O filme é baseado no livro Carcereiros, de Drauzio Varella, tem direção de Claudia Calabi, Fernando Grostein Andrade e Pedro Bial e chega aos cinemas nesta quinta-feira (26/8).

O documentário passa por oito penitenciárias de São Paulo para fazer um panorama geral de como o sistema carcerário se mostra a partir do olhar dos agentes penitenciários que nele trabalham. A ideia é adaptar o que Varella fez no livro, dar voz a essas pessoas anônimas que lidam todos os dias com a população que está mais à margem da sociedade, com os presos, ignorados pela grande maioria do país.

“A categoria dos agentes penitenciários é heróica”, afirma Pedro Bial. O codiretor explica que eles tentaram mostrar o mais profundamente possível a realidade desses trabalhadores. “O documentário é uma oportunidade para refletirmos sobre o sistema penitenciário, assunto que muitos preferem não ver”, completa Claudia Calabi.

Talvez a principal característica do filme visa seja a humanidade. Os diretores conviveram com carcereiros, conversaram com sentenciados e estiveram diversas vezes nos presídios de São Paulo para passar para o documentário o lado mais humano possível destes locais que muitas vezes são apresentados como o lar dos rejeitados. “O sistema penitenciário prende mais do que sua capacidade de manter preso. É um sistema que tem dificuldade na reabilitação porque é desumano com todos: com detentos e funcionários”, pontua Fernando Grostein Andrade. “Eu acredito que é necessário jogar a luz para os menos favorecidos”, acrescenta.

O principal guia para os diretores foi o livro de Drauzio Varella. Segundo Calabi a obra traz “um olhar mais humano sobre esta questão complexa e cheia de preconceitos equivocados”. “O livro é um relato da minha admiração pelo trabalho que os agentes penitenciários fazem”, conta o autor. Esta não é a primeira adaptação da obra, que já ganhou longa homônimo para o cinema dirigido por José Eduardo Belmonte e protagonizado por Rodrigo Lombardi, também o ator principal da série que leva o mesmo nome e já possui três temporadas.

“Às vezes, eu me sinto um cara que acertou a sorte grande, como se eu tivesse ganhado um grande prêmio num jogo de roleta”, reflete Varella, ao constatar como o livro dele gerou tanta repercussão e tantas adaptações. “Quando o Pedro (Bial) me falou que iam filmar um documentário, eu já achei maravilhoso, imagina tudo isso”, conta Drauzio, ao lembrar que o longa começou a ser produzido antes da ficção de 2019 e da série. “Juntaram-se as pessoas certas para fazer esse documentário”, avalia.

Encarcerados, assim como Carcereiros, chega para apresentar ao público que existem outras formas de pensar e tratar de um assunto ainda muito regado de preconceitos. “Quando você se aproxima de lugares que evita ou constrói cenários e personagens em sua imaginação, aquele desconhecido que costuma ser preenchido com a criação e fabricação de monstros e cenários monstruosos acaba virando pessoas lidando com pessoas”, afirma Pedro Bial. “Existe uma humanidade que cada um carrega, e o documentário vem desmontar defesas e mesmo estratégias inconscientes de cada um”, complementa.

Contudo, não basta apenas mostrar a realidade, é necessário mudar. “Uma reforma legislativa se faz necessária. É urgente que algo seja feito a respeito da superlotação, pois não é possível melhorar o sistema se continuarmos apenas prendendo e construindo presídios”, analisa Claudia Calabi. “Estamos com um modelo antiquado de sistema punitivista, sendo que já se tem hoje no mundo modelos muito mais bem sucedidos, que preparam os detentos para voltarem para a sociedade”, continua a codiretora que acredita que dias melhores são sim possíveis nas cadeias do país.

Encarcerados, estreia desta quinta nos cinemas

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