Música

Lorde se despede de uma versão antiga de si em 'Solar power'

Terceiro disco da neozelandesa, 'Solar power' mostra uma versão mais alegre e leve de Lorde e de sua música

Pedro Ibarra*
postado em 20/08/2021 12:10 / atualizado em 20/08/2021 12:12
Lorde estava sem lançamentos desde 2017 -  (crédito: YouTube/Reprodução)
Lorde estava sem lançamentos desde 2017 - (crédito: YouTube/Reprodução)

Um passeio na beira da praia em um dia ensolarado com o céu limpo é a sensação inicial transmitida por Solar power, terceiro disco da carreira da cantora neozelandesa Lorde. Com 12 faixas e aproximadamente 43 minutos, o novo álbum foi apresentado nas plataformas de streaming nesta sexta-feira (20/8).

Contudo, junto com o trabalho, Lorde apresentou também uma nova face de si própria. A cantora encontra um outro lugar de sentimento para explorar, um local de felicidade e saudação que ela ainda não havia visitado. Lorde, em imagem e música, está menos urbana e mais natural: até sons de cigarras foram usados como base de algumas canções. O local de sombra e luzes neons abre uma fresta para o sol conseguir entrar.

Tudo muda nessa fase solar  proposta pelo álbum. A começar pelo visual: Lorde abusa de cores pastéis, do amarelo, e aparece pela primeira vez de biquíni. Também ficou loira – mesmo que com uma peruca – para o clipe de Mood ring. Lorde se afasta da imagem da menina que usava batons escuros, roupas pretas e sofria por amor para dar espaço para uma jovem mais leve emais exposta.

Musicalmente, a cantora altera praticamente tudo. Os beats e sintetizadores são deixados de lado e o álbum tem, na maioria das músicas, arranjos de violão, com momentos de banda completa com guitarras, baixo e bateria. Ela também introduz coros, que por vezes soam um tanto angelicais. As canções ganham um caráter mais para cima, soam mais alegres, pelo menos no que diz respeito a instrumentação e melodias.

No entanto, mesmo fora da zona com a qual estava acostumada, a artista ainda mantém delicadeza e profundidade nas letras e na forma. O disco leva o ouvinte a sentir o que a cantora quer. Dessa vez, Lorde transmite um som solar, mas, nas letras, reflete sobre o fato de desde os 15 anos ser uma estrela da música pop mundial. Lorde está consolidada há quase 10 anos no mercado musical, tempo suficiente para que seja possível esquecer que ela tem apenas 24 anos.

Um exemplo está em Stoned in the nail saloon, um dos singles do disco, em que reflete sobre como o tempo passou e ela amadureceu: já não ama as mesmas músicas, não passa mais tanto tempo com os próprios pais e tem que viver uma vida em que há cobrança. Essas reflexões estão espalhadas em diversas faixas, mostrando que Lorde sabe muito bem que fardo carrega. Porém a artista está disposta a repensar tudo e a forma como fez o álbum prova que tem  maturidade para a posição em que está.

Lorde decidiu fazer um disco com influências do pop dos anos 1990, com um violão que lembra o início de carreira das Destiny’s Child, de Justin Timberlake, de Natalie Imbruglia e de tantos outros artistas que faziam sucesso na época em que a cantora ainda era criança. Ou seja, a artista canta o que ouvia, resgata um pop que estava adormecido.

Lorde fez sucesso muito jovem, com Royals e o disco Pure heroine em 2014, o que gerou uma exposição grande em época de muitas inseguranças. Mesmo assim, superou tudo e entregou o grandioso Melodrama em 2017, mostrando que ra uma artista pop maior do que se imaginava e uma letrista da nova geração.

Agora, com Solar power, Lorde muda e abraça uma vulnerabilidade ainda maior ao pisar em solo desconhecido e fazer uma música à qual os fãs não estão habituados, mas sem deixar de entregar a alta qualidade e profundidade que sempre teve. É como se, com 24 anos, a cantora finalmente se dissociasse da imagem que tinha com 15, sem negar o legado que construiu até aqui. Ela diz para si mesma que conseguiu, afaga a menina sofrida e dá ao público uma música com o gosto de que dias melhores virão para todo,s como vieram para ela.


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