Não é preciso ser artista ou ter um talento especial para desenhar. Segundo Gregório Soares Rodrigues, professor do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), o desenho é uma das primeiras linguagens desenvolvidas pelo homem, mas acaba substituída por outras à medida que a educação formal se instala na vida do indivíduo. Para pensar o ato de desenhar com uma perspectiva mais abrangente e não apenas como um instrumento ligado à produção artística, ele idealizou o Festival Desenho Vivo, que ocupa os jardins do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) a partir de hoje.
No total, serão mais de 70 artistas, curadores e pesquisadores do Brasil e da América Latina reunidos em uma programação dividida entre o presencial e on-line com webinários, ateliês de desenho, mostra de animação e transmissão de shows. “A gente tem muito a ideia de tirar o desenho do senso comum porque tem vários preconceitos em torno desse meio, desse instrumento”, explica. “Queremos convidar as pessoas para entender o desenho como um campo de experimentação e mostrar que todo mundo sabe, de alguma maneira, desenhar.”
Uma forma de expressão
Gregório lembra que, muitas vezes, o desenho é substituído pela alfabetização e pela linguagem verbal. “O desenho é uma outra forma de interpretação do mundo, mais aberta, subjetiva, sem um código fechado. Nosso objetivo é mostrar o quão atual é esse instrumento de observação do mundo”, diz. Para Luis Pérez-Oramas, historiador de arte, curador do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York e convidado do Festival, desenhar é traçar, marcar, delinear, mas também imaginar, compor idealmente ou analiticamente uma figura. Nesse sentido, todas as pessoas, em algum momento, praticam o ato de desenhar. E, no campo das artes, isso se dá com mais frequência. Um músico, por exemplo, precisa escrever notações musicais, que são uma forma de desenho. Um poeta precisa saber desenhar porque, afinal, a escrita é uma forma de desenho. “No final das contas, há uma totalidade do desenho. O desenho é uma potencialidade incessante, como a vida”, compara o historiador, que lembra, ainda, a importância de o festival ser consagrado ao desenho vivo. “Nesse sentido, a única maneira de abordar o campo do desenho vivo, da linha viva, é por meio de oficinas práticas e experiências: é a experiência do desenho, e não sua prática acadêmica, que mais nos interessa”, avisa.
Os 40 ateliês instalados nos jardins do CCBB são todos presenciais e realizados com artistas de Brasília a partir de diferentes abordagens, como desenho ligado ao espaço, à arquitetura, à botânica, aos quadrinhos, à ilustração e até ao corpo humano. Nomes como Roger Mello, Lucas Gehre e Raísa Curty vão apresentar suas estratégias e seus processos ao público como um convite à prática do desenho. As inscrições abrem a cada segunda-feira para a programação da semana, sendo que as desta já estão abertas.
FESTIVAL DESENHO VIVO
Até 1º de agosto, nos jardins do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília. Mais informações em: https://ccbb.com.br/brasilia/programacao/festival-desenho-vivo/