Muitos sonham um dia poderem viver da própria arte, mas, para outros tantos, a música é apenas mais uma das paixões. São artistas que precisam da música, mas não dependem apenas dela na vida e, de alguma forma, seguem uma carreira dupla. Seja por amor, seja por estabilidade financeira ou porque ainda estão se preparando para dar novos passos, esses músicos têm outra atividade para garantir a sobrevivência.
É assim que Carlinhos Martins leva a rotina: concilia a paixão pelo tribunal e pelos palcos. Além de juiz do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), Martins é vocalista e fundador da banda Solange, em atividade há sete anos. “Assim como eu gosto demais de estar dentro de um estúdio e acho incrível estar no palco com o público, também amo ser juiz. Vou para o tribunal com muito prazer, adoro o que faço”, conta o músico em entrevista ao Correio.
Apesar de a carreira como juiz ser prioridade, a paixão pela música veio primeiro. Ainda na infância, Martins começou a sonhar em ter uma banda. No entanto, em razão da falta de apoio dos pais, na época, deixou de lado a ambição. Foi só quando o juiz passou no concurso do TJDFT que pôde realizar o sonho e se tornou integrante da banda Sem Juízo, composta por colegas de profissão. A banda durou pouco tempo, mas abriu portas para Martins criar o próprio grupo musical, a Banda Solange.
Inicialmente, o projeto foi criado como um hobbie para os integrantes, mas a banda acabou tomando proporções inesperadas. “A ideia inicial era fazer cinco shows por ano, tocar no aniversário de alguém, na casa de um amigo, a gente fez muita festa de juiz, promotor. Mas aí a banda começou a crescer, os convites começaram a chegar. Nós chegamos a fazer mais de 25 shows no ano. Fomos chamados para tocar no Capital Moto Week, já fizemos o evento três vezes, tocamos para 500 pessoas”, relembra Martins. “Nós jamais imaginaríamos que teríamos esse crescimento de público e aceitação”, complementa.
Mesmo com a expansão da banda, o juiz não tem dificuldades para compatibilizar as rotinas das duas profissões. “A gente pega um horário à noite para ensaiar uma vez por semana e planeja a agenda de shows sempre de acordo com a agenda do tribunal, quando eu tenho um pouco de folga. Dá para conciliar bem, porque nos dias de semana eu estou no fórum e a música é mais na parte da noite e nos finais de semanas”, explica. Atualmente, o grupo optou por interromper as atividades da banda e seguir as medidas de isolamento social, devido à pandemia da covid-19.
Paulo Fernandez é mais um dos casos de músicos que durante toda a vida dividiram a arte com outra profissão. Paulo é geólogo, trabalha na área há 30 anos e possui doutorado, mas descobriu o amor à música na mesma época que estudava para carreira de sucesso na geologia. “Nem sempre foi fácil, e, claro, exigiu dupla dedicação. Em alguns momentos, a música falou mais alto e pude me dedicar mais a ela. Em outros momentos, foi o trabalho como geólogo que exigiu maior dedicação”, conta PFZ, nome que também assina na carreira musical.
“Eu gosto das duas coisas que faço”, afirma o músico e geólogo. Porém ele comenta que, nos momentos em que a situação financeira ficou mais difícil, principalmente nos anos 1990, teve de dar um hiato na arte. “A economia do país ficou ainda mais complicada, e então foi preciso optar”, lembra o músico, que retomou a carreira em 2013, após reencontrar Igor Araújo, velho amigo com quem tocava no início da carreira. A partir de 2013, nunca mais parou, lançou dois EPs, Urbana Idade e Além Trópico, e se prepara para o álbum de estreia, PFZ Ao Vivo na Garagem.
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Arte e geologia
Para o artista, a relação com as duas profissões é diferente, com geologia, ele escolheu algo que gostava. Contudo, o relacionamento com a música é outro. “A maioria daqueles que estão na música, ou que fazem música, estão nela porque gostam. Tenho a impressão de que não é a pessoa que escolhe a música. De uma maneira inconsciente ou subconsciente, parece que é a música que escolhe você”, reflete Paulo. E por ter essa relação saudável com ambas as profissões ele acredita que tudo deu tão certo até atualmente. “Felizmente eu gosto das duas coisas que fiz e que faço na vida. Creio que isso me ajudou a não sentir muita angústia quando foi necessário optar mais por uma coisa ou outra”, completa.
O artista geólogo ainda indica para quem está iniciando uma vida dupla. “Antes de mais nada, fazer algo que gosta é importante. Quem trabalha com aquilo que gosta, tem mais chances de fazer algo benfeito. Porque ter um trabalho do qual não gosta, pode trazer uma certa angústia (e mesmo sofrimento) para a pessoa”, aconselha PFZ.
Jorge Corrêa é um entre muitos artistas que estão iniciando a dupla jornada. O músico, que leva JAY como nome artístico, é estudante de engenharia aeroespacial na Universidade de Brasília e acaba de lançar o primeiro single da carreira, Respiro poesia. Cercado por música desde criança, época em que o pai era mestre de capoeira, JAY deu início à carreira assim como muitos jovens nos dias de hoje, postando vídeos na internet. No entanto, foi só em junho deste ano, quatro anos após o começo das postagens, que o artista decidiu lançar a primeira faixa autoral.
“Foi muito gratificante a estreia do single. Só por ter lançado, mesmo que ninguém escutasse, eu já me senti muito bem, porque isso era um sonho de criança. Eu sempre sonhei em trabalhar com música. Então, dar o meu primeiro passo foi uma coisa muito bonita para mim”, comemora JAY. Mesmo com sede de ambição e vontade de viver de música, o cantor mantém os pés no chão e sabe que ainda tem um longo caminho para trilhar. “A minha primeira música é só o começo do aprendizado”, finaliza.
*Estagiários sob supervisão de Severino Francisco
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